O vídeo de Felipe Neto publicado pelo New York Times na quarta-feira (15) pode ser criticado por sua falta de compromisso com a verdade, mas revela uma habilidade do ativismo de esquerda brasileiro: a de forjar como quer a imagem do Brasil no exterior, aproveitando-se de uma rede de relações que envolve mídia, mundo acadêmico e ONGs.
A peça protagonizada por Felipe Neto foi roteirizada e dirigida por Alessandra Orofino, bolsista da Obama Foundation em 2019, diretora-geral do Greg News, programa de Gregorio Duvivier na HBO, e fundadora de uma rede de ativismo com viés esquerdista chamada Nossas (nossas.org). Uma das iniciativas dessa rede é o movimento #MeRepresenta, que tem como objetivo promover candidaturas de políticos progressistas com bandeiras como a ideologia de gênero e a legalização do aborto e da maconha.
Pouco mais de um mês atrás, no começo de junho, a mesma Alessandra assinou com Miguel Lago, ativista cofundador do Nossas, um artigo para o mesmo New York Times, com o objetivo de explicar o presidente Jair Bolsonaro para os americanos. A mensagem principal foi semelhante à do vídeo de Felipe Neto: “Seu comportamento, mesmo sob a perspectiva dos Estados Unidos de Trump, é bizarro”, dizia o texto.
Lago é professor de relações internacionais na Universidade de Columbia, em Nova York, onde Alessandra se graduou no curso de Economia e Direitos Humanos. Ambos também se graduaram em Ciência Política no Institut d'Études Politiques de Paris (Sciences Po). Antes de fundarem o Nossas, a dupla havia criado em 2011 a ONG Meu Rio, “uma rede de ação por um Rio de Janeiro mais democrático, inclusivo e sustentável”, conforme definição do site da iniciativa.
Uma reportagem de 2013 da revista Piauí fala sobre como os dois foram os rostos jovens que a imprensa internacional buscou para esclarecer os protestos que ocorriam no Brasil naquela época. Alessandra falou à CNN americana sobre as manifestações, enquanto Lago conversou com um jornalista do Libération, da França.
No começo do ano, ativismo brasileiro chegou ao Oscar
No começo de 2020, o ativismo de esquerda quase levou o país a ganhar seu primeiro Oscar, com um documentário que apresentava uma versão enviesada da história recente do Brasil.
“Democracia em Vertigem” não recebeu a estatueta de melhor documentário, mas era um dos favoritos e causou grande repercussão na mídia estrangeira – Petra Costa, diretora do filme, deu entrevistas em tom de denúncia a emissoras norte-americanas como CNN e PBS.
A presença do filme na festa se deveu muito mais ao ativismo político de bastidores que à qualidade artística da obra. Em fevereiro, uma reportagem do jornal O Globo mostrou o percurso do filme para chegar a competir na maior premiação do cinema.
De acordo com a reportagem, um debate acadêmico em outubro de 2019 na Universidade de Columbia, em Nova York, com a presença de Petra Costa, do jornalista Glenn Greenwald e de Caetano Veloso, foi uma prévia para articular a indicação do documentário ao Oscar. Tratava-se de uma edição do evento Brazil Talk, com o tema "Brasil: Por que devemos nos preocupar?”.
Em janeiro, também de acordo com O Globo, Petra participou de um almoço em que indicados ao Oscar fazem lobby por seus filmes, e conversou com personalidades que manifestaram sua preocupação com a política no Brasil, entre eles o ator Leonardo DiCaprio.
Crise das queimadas na Amazônia também foi impulsionada por ativistas
No ano passado, o ativismo ambiental no Brasil e no exterior teve papel fundamental na enorme repercussão internacional das queimadas na Amazônia, que começou em agosto.
Os números de 2019 entre janeiro e julho eram os piores desde 2016 – depois, melhoraram em relação aos seis anos anteriores –, mas a repercussão da crise foi sem precedentes na história. Com o apoio de grande parte da mídia estrangeira, a indignação chegou até a personalidades internacionais que pouco têm a ver com a preservação do meio ambiente, como Cristiano Ronaldo, Lewis Hamilton e Kim Kardashian, que publicaram mensagens em suas redes sociais.
Os principais jornais do mundo, como The New York Times, dos EUA, The Guardian, do Reino Unido, Le Monde, da França, e El País, da Espanha, deram grande destaque ao assunto, que foi massivamente replicado por veículos do mundo todo.
Em 2020, percebendo a importância da comunicação para evitar uma nova crise, o governo Bolsonaro montou o Conselho da Amazônia, sob o comando do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. O órgão é uma espécie de gabinete contra uma nova polêmica internacional.
Em maio deste ano, Mourão se reuniu com todos os embaixadores da União Europeia no Brasil para mostrar a disposição do governo brasileiro em dialogar sobre o problema da Amazônia com os europeus. Na semana passada, também dentro da agenda do Conselho da Amazônia, Mourão e diversos ministros fizeram uma videoconferência com investidores estrangeiros para tratar do assunto.
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