Movimentos feitos pelos partidos no último ano indicam que o Centrão do Congresso, bloco de parlamentares que age sem motivação ideológica e que costuma apoiar os governos de momento, terá uma nova composição a partir do ano que vem.
Algumas das siglas que sempre compuseram o grupo deverão estar na oposição ao próximo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A relação é encabeçada pelo PL, o partido do presidente Jair Bolsonaro. O presidente da agremiação, Valdemar Costa Neto, anunciou que a sigla fará oposição a Lula e que Bolsonaro já é o pré-candidato do PL ao Palácio do Planalto em 2026.
Os dois outros partidos que formaram a coligação de Bolsonaro, PP e Republicanos, também são expoentes do Centrão e, assim como o PL, adotaram, ao menos parcialmente, discursos anti-Lula após a confirmação da vitória do petista.
O Republicanos é o partido dos senadores eleitos Damares Alves (DF) e General Mourão (RS), que formaram o primeiro escalão do governo Bolsonaro e devem fazer oposição ferrenha a Lula. O PP tem como principal líder o atual ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que tem utilizado seus perfis nas redes sociais para criticar o governo eleito.
Nogueira, que é senador licenciado pelo Piauí e reassumirá sua vaga no Congresso no ano que vem, é crítico das ações que a equipe de Lula tem tomado para garantir o pagamento de benefícios sociais a partir do ano que vem. O ministro contesta a possibilidade de o Congresso aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que excluiria o Auxílio Brasil do teto de gastos.
A chamada PEC fura-teto começará a tramitar no Congresso nos próximos dias e será um dos primeiros campos de batalha entre o futuro governo e o novo Centrão. Parlamentares que compõem hoje o bloco questionam o que chamam de um "cheque em branco" que o Legislativo daria ao governo Lula. Por outro lado, ainda antes de a PEC ganhar forma, apoiadores de Lula questionavam a medida por entenderem que sua tramitação exigiria "acertos" com o Centrão, algo que queimaria, de largada, parte do capital político que o petista ganhou durante o processo eleitoral.
Partidos e indefinições
A nova configuração do Congresso, a partir de fevereiro, poderá consagrar o União Brasil e o MDB como as principais forças de referência do Centrão.
O União foi formado com a fusão entre PSL e DEM, duas siglas que fizeram oposição ao PT. Apesar disso, o presidente da agremiação, o deputado federal Luciano Bivar (PE), cravou que o partido não será adversário do presidente eleito. O quadro constrange políticos que se candidataram com discurso oposicionista a Lula, como o ex-ministro Sergio Moro, eleito senador pelo Paraná.
O União faz parte de uma articulação em desenvolvimento que visa fortalecer o Centrão na Câmara e tirar poder do PT. A negociação, divulgada pelo site Poder360, corresponderia na formação de um bloco partidário entre PL, União Brasil, PP, PSD, Republicanos, PSC, Patriota e PTB. O agrupamento daria às legendas 299 deputados, mais do que a metade do total da Câmara, e daria aos partidos o poder de ter prioridade na hora de escolher as presidências das comissões permanentes da Câmara. O quadro teria como consequência o enfraquecimento do PT, que acabaria alijado do comando das principais comissões. Ao longo da gestão Bolsonaro, apoiadores do presidente chefiaram a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o que garantiu prioridade na formação das pautas.
Já o MDB deverá estar representado no primeiro escalão de Lula com a senadora Simone Tebet (MS), que integra a equipe de transição governamental e é cotada para chefiar um ministério. A aproximação de Tebet com Lula, porém, não assegura o apoio integral do MDB ao futuro governo. O partido tem entre seus membros opositores ferrenhos do petista, como o deputado federal Otoni de Paula (RJ), e pode oscilar entre apoio e base ao longo do mandato.
Bloco terá "passe mais caro", mas perfil similar, analisam especialistas
Para analistas que conversaram com a Gazeta do Povo, uma eventual mudança nominal dos partidos que fazem o Centrão não alteraria o perfil do grupo, que deverá continuar orbitando o poder e negociando votações no Congresso para obter benefícios, como cargos e emendas.
"Não acredito que o Centrão mudará sua postura. No primeiro momento, teremos uma fase de negociação entre Centrão e governo Lula, isso porque o Centrão não fornecerá apoio imediato. Mas avalio que ainda no primeiro ano haverá um acerto entre Centrão e Lula", avaliou o professor universitário e cientista político Valdir Pucci. Ele acredita que até mesmo o PL deverá ter uma postura de "um pé em cada canoa", com o segmento próximo de Bolsonaro desejando continuar distante de Lula, mas outros braços do partido buscando a composição com o governo.
O também professor e cientista político André Rosa, da Acrópole, crê em um Centrão de "passe mais caro", por conta da votação expressiva que o PL teve em outubro.
Rosa aponta que a demora da decisão de Lula em anunciar os ministros de seu governo é um indicativo dos empecilhos que o Centrão poderá criar para o novo governo do PT. "A demora na apresentação dos ministros tem correlação e causalidade na valorização do passe do Centrão", declarou.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF