As mercadorias ilegais seguiam por barco, partindo dos portos de Montevidéu, no Uruguai, e Buenos Aires, na Argentina, até a vila de Salto, onde duas quedas forçavam os contrabandistas a desembarcar e seguir por terra. Dali, podiam prosseguir em carroças, ou retomar o percurso por rio alguns quilômetros à frente. Nesse caso, os produtos eram descarregados em três portos fluviais, em Uruguaiana, Itaqui ou São Borja, onde os vendedores pagavam propina para fiscais ou os enganavam utilizando documentos falsos.
A cena é antiga e está descrita por estudo da pesquisadora Mariana Flores da Cunha Thompson Flores: estas eram as principais rotas de contrabando no Rio Grande do Sul, entre os anos de 1845 e 1889. Mas os métodos não são muito diferentes dos utilizados pelos contrabandistas do século 21. Até mesmo os meios de transporte mudaram pouco – ainda hoje, a combinação de barcos e veículos terrestres, utilizando uma rede de portos fluviais clandestinos e contando com o suporte de fiscais corruptos, é observada por toda a extensão de fronteira do Brasil. Aviões são usados raramente, apenas em ações pontuais, desde que o sistema de vigilância por satélite nas fronteiras brasileiras foi instaurado, a partir da década de 90.
Se algo mudou foram os produtos mais contrabandeados. Antigamente, tinham preferência panelas, louças, chapéus, meias de seda, arames e querosene para acender lamparinas. Atualmente, atravessam a fronteira cigarros, medicamentos, defensivos agrícolas e perfumes. É muito comum que a mesma infraestrutura utilizada para transportar esses produtos seja também utilizada para entrar no Brasil com armas e drogas. Os pontos mais frágeis das fronteiras brasileiras mudaram pouco ao longo do tempo. O principal fornecedor de produtos, em quantidade e diversidade, também é o mesmo, o Paraguai.
Conheça agora quais são os locais mais utilizados pelos contrabandistas, em cada um dos países com os quais o Brasil faz fronteira, e quais produtos eles mais carregam em cada rota. As principais fontes de informação são a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária, a Receita Federal, o artigo Tráfico de drogas nos portos brasileiros: uma nova dinâmica dos carteis latino-americanos e o estudo Rotas do crime: as encruzilhadas do contrabando.
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