Após os entraves para a composição ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende agora usar os cargos do segundo escalão do governo para tentar reduzir desgastes junto a aliados que não foram contemplados na Esplanada dos Ministérios e ficaram insatisfeitos. Em outra frente, o chefe do Palácio do Planalto também pretende atrair legendas como Cidadania e Podemos numa ofensiva de tentar ampliar a base no Congresso Nacional.
Entre os postos mais cobiçados do segundo escalão, estão o comando da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e do Banco do Nordeste. Mesmo com 37 ministérios, 14 pastas a mais que a gestão do agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula não conseguiu contemplar partidos que apoiaram sua candidatura desde o primeiro turno.
Entre as legendas que ficaram de fora, o PV, que está federado com o PT e o PCdoB, foi preterido diante de sua bancada de apenas seis deputados na Câmara. O partido cobiçava pastas como a do Meio Ambiente e da Cultura, mas agora pode ser contemplado com postos em autarquias como o Ibama e o ICMBio.
Completam a lista de aliados que ficaram de fora do primeiro escalão o Solidariedade, o Avante, o Pros e o Agir. O primeiro, liderado pelo deputado Paulinho da Força (SP), cobiçava o ministério da Previdência, que acabou ficando com Carlos Lupi do PDT.
O Solidariedade não atingiu a cláusula de barreira e negocia uma fusão com o Pros. A expectativa é de que o novo partido seja contemplado com o comando do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Ceagesp, o entreposto de abastecimento de São Paulo que pertence à União.
As negociações para distribuição dos cargos do segundo escalão começaram nesta segunda-feira (2) e são lideradas pela presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Também foram escalados para os encontros com os líderes partidários os líderes do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), e o líder do governo no Senado, senador Jacques Wagner (PT-BA).
"Estamos dando passos na montagem do segundo escalão, o presidente Lula fez questão de convidar duas mulheres para presidente a Caixa e o Banco do Brasil. E vamos continuar dando esses espaços", disse Padilha.
Lula tenta atrair o Podemos e o Cidadania por meio de cargos do segundo escalão
Além de reduzir os desgastes junto aos partidos aliados, o governo Lula pretende usar os cargos do segundo escalão para atrair legendas como o Podemos e o Cidadania. A estratégia visa ampliar a base do petista no Congresso Nacional de olho na aprovação de matérias no primeiro ano do governo.
No caso do Podemos, a cúpula do PT já vinha buscando atrair o partido desde a composição ministerial, mas as conversas ficaram travadas diante das resistências de lideranças que fazem oposição a Lula. Entre as resistências, o deputado eleito Deltan Dallagnol (PR), e os senadores Alvaro Dias (PR), Eduardo Girão (CE) e Jorge Kajuru (GO).
O Podemos, que elegeu 12 deputados federais nas eleições de 2022, vai incorporar o PSC, que elegeu seis. Com 18 deputados, terá a legenda terá a oitava maior bancada da Câmara, à frente do PSDB e do PDT. Apesar das resistências internas, avaliação de integrantes do PT é de que o partido conta com quadros pragmáticos e que poderiam ser atraídos através dos cargos no segundo escalão.
A mesma estratégia vai ocorrer com o Cidadania, que no segundo turno teve a senadora Eliziane Gama (MA) como uma das principais interlocutoras de Lula com o segmento evangélico. A Executiva do partido chegou a se reunir três dias antes da posse presidencial e aprovou por 16 votos favoráveis dos 21 totais a adesão ao governo petista. Outros cinco integrantes da Executiva restantes não participaram da votação, entre eles, o presidente do partido, Roberto Freire.
Codevasf entra nas negociações para tentar reduzir o racha dentro do União Brasil
Líderes do PT avaliam que, até o momento, os partidos que foram contemplados na composição de governo somam 282 deputados. O número, no entanto, fica abaixo dos 308 necessários para aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), por exemplo. Além disso, existe um racha dentro do União Brasil, que foi contemplado com três pastas, mas não deve garantir os 59 votos dos deputados da próxima legislatura.
Para vencer as resistências da bancada, o União Brasil deve manter, por exemplo, a influência sobre Codevasf, que é responsável por tocar obras nas regiões dos vales dos rios São Francisco e do Parnaíba. Atualmente a estatal é comandada por Marcelo Andrade Andrade Moreira Pinto, apadrinhado do deputado Elmar Nascimento (BA). O parlamentar baiano teve seu nome vetado para o Ministério da Integração Nacional, o que ampliou o racha dentro do partido.
Agora, a expectativa é de que Nascimento mantenha sua indicação na Codevasf como forma de atrair a maioria do União Brasil na Câmara. Haverá, no entanto, uma conversa de Lula com o novo ministro da Integração, Waldez Góes, e com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que liderou as negociações pelo partido.
Aliados do PT e do PSD foram preteridos da escalação do governo Lula
A composição do primeiro escalão do governo Lula gerou desgastes inclusive dentro de quadros do PT e do PSD de estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os dois colégios eleitorais foram decisivos na disputa eleitoral, mas nomes desses estados que estavam cotados para a Esplanada dos Ministérios acabaram preteridos.
No caso do PT, o líder do partido na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG), teve o nome especulado para três ministérios e chegou a ser convidado para assumir Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). No entanto, teve seu nome barrado diante da necessidade de Lula de ampliar o espaço para partidos de centro.
"Fui convidado para assumir o MDA, mas como teve um novo arranjo de governabilidade, em que o União Brasil passa a ter três ministros e também o PSD, não foi possível", afirmou o petista.
Com a reorganização, o MDA acabou ficando com o deputado Paulo Texeira (PT-SP), que estava contado para o Ministérios das Comunicações. A pasta foi entregue na última hora ao União Brasil, que indicou o deputado Juscelino Filho (União-MA) para o posto.
Outro que ficou de fora da Esplanada foi o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), que ficaria com a pasta do Turismo. Ele era o nome indicado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), um dos coordenadores da campanha de Lula no estado fluminense no segundo turno. Contudo, a pasta acabou sendo levada pelo União Brasil, com a indicação de Daniela do Waguinho, também do Rio de Janeiro.
“Foi feito um primeiro passo de um governo que começa a ser montado, mas temos vários passos nessa caminhada ainda”, pontuou Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais.
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