O apoio de partidos da oposição e de outras siglas que lançaram pré-candidatos à Presidência em 2022 e têm parlamentares que se opõem ao governo foi decisivo para a aprovação da PEC dos precatórios (23/21) no Senado Federal, na última quinta-feira (2). Considerando a votação em segundo turno, senadores do PT e do Cidadania, partidos de oposição, e de PSDB, Podemos, PSD e MDB, partidos que sonham em ocupar o Palácio do Planalto a partir de 2023, reuniram 45 votos a favor da PEC. No total, 61 parlamentares referendaram a pauta e 10 votaram contra ela.
Na Câmara, PSB, PDT, Cidadania, PSDB, Podemos, MDB e PSD colaboraram com 83 votos a favor da matéria — as bancadas do PT, PCdoB e Psol votaram unidas contra a PEC. O placar de votação no segundo turno fechou em 323 votos a 172. Para a aprovação eram necessários 308 votos entre os 513 deputados, e 49 votos no Senado, em dois turnos em ambas as casas legislativas.
Em aceno a essas bancadas, o relator da proposta e líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), fez concessões que garantiram o amplo apoio. Ao final da votação, ele falou em "esforço e vitória coletiva de todos os senadores". Como houve mudanças significativas no Senado, o texto voltará para a Câmara Federal.
Alguns dos partidos justificaram seus votos em favor da matéria sob um discurso social, já que, entre outras coisas, a aprovação da PEC viabilizará um maior orçamento ao novo programa de transferência de renda do governo, o Auxílio Brasil. Diante das mudanças e da falta de acordo, algumas siglas também decidiram liberar suas bancadas durante a orientação dos votos, como o PT.
Oposição contribuiu com 5 votos a favor da PEC no Senado
Dos partidos de oposição, apenas PT e Cidadania votaram a favor da PEC dos precatórios no Senado (2º turno). Foram cinco votos no total, dos quais quatro do PT. O apoio foi ainda maior na Câmara, onde 15 parlamentares do grupo referendaram a proposta.
"Parabéns aos valorosos senadores do PDT que votaram contra essa aberração da PEC dos Precatórios. Uma posição firme e acertada. Já o PT todo votou a favor. O que eles falam no almoço, não serve para o jantar", escreveu Ciro Gomes (PDT) em seu perfil no Twitter após a aprovação da proposta no Senado. Contrariado com o voto favorável de pedetistas na Câmara, Ciro chegou a suspender temporariamente sua candidatura à Presidência pelo partido, mas depois voltou atrás.
Criticado por ter apoiado o projeto após considerá-lo como um calote nas dívidas da União com credores, o PT argumentou que votou a favor apenas para "viabilizar o Auxílio Brasil" e garantir "renda aos mais pobres". A sigla ainda justificou o voto afirmando que a PEC "mudou completamente" da versão da Câmara. "Graças a emendas do PT, Senado aprovou PEC diferente da Câmara", escreveu o PT em seu perfil no Twitter. "PT no Senado garante direito à renda dos mais pobres na Constituição e vota contra atraso de pagamento de precatório. Votamos em favor das 20 milhões de famílias que serão beneficiadas".
O senador Jaques Wagner (PT-BA), por exemplo, disse que votaria "sim", como de fato votou, para cumprir um acordo, mas enfatizou que a aprovação da medida é um crime contra a credibilidade do país. "Evidentemente, nós, que somos cumpridores de acordo, vamos encaminhar o voto 'sim', mas eu faço questão de registrar isto, e vou registrar na defesa do destaque que nós estamos cometendo um crime contra a credibilidade do país", afirmou durante a discussão.
Líder nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffman (PR) criticou o movimento dos parlamentares e disse que não houve acordo com a direção petista. "Aprovação da PEC dos Precatórios no Senado, com ou sem emenda, é um erro político, prejudica o país e não garante proteção aos mais pobres. Nada foi discutido com a direção do PT. Correta é a posição da bancada do PT na Câmara contra esse absurdo", escreveu no Twitter.
"Reformas que ceifam e preconizam direitos são votadas aqui com a mesma veemência que hoje falamos na fome, na pobreza, nas cinco milhões de crianças que vão dormir passando fome. Mas na hora de perpetrar essas maldades que a gente sabe que são nocivas, do Estado contra si mesmo e contra a população, essas votações fluem muito mais à vontade do que essa", criticou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), um dos que votou pela reprovação da matéria.
Partidos que devem lançar candidatos à Presidência somaram 40 votos favoráveis
Entre os partidos que devem lançar candidatos à Presidência nas eleições de 2020 (PSDB, Podemos, PSD e MDB), foram 40 votos favoráveis à PEC no 2º turno de apreciação no Senado. Na Câmara, a colaboração foi ainda mais expressiva: 68 votos a favor da medida.
O PSD, por exemplo, além de ter lançado o senador Rodrigo Pacheco (MG) como candidato a presidente, apertou o cerco ao governo na CPI da Covid, por meio dos senadores Omar Aziz (AM) e Otto Alencar (PE). O partido reuniu 30 votos favoráveis à proposta na Câmara (2º turno) e 16 (total de senadores) no Senado, também no segundo turno.
O MDB, que lançou Simone Tebet à corrida eleitoral no próximo ano, também apoiou a PEC. Treze parlamentares votaram a favor da proposta na Câmara (2º turno) e 14 votaram a favor no Senado (2º turno).
Partido do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, que também vai concorrer à Presidência em 2022, o Podemos reuniu quatro votos a favor da matéria na Câmara (2º turno) e quatro no Senado (2º turno).
Pontos que garantiram a aprovação da PEC
Para a aprovação da PEC eram necessários 308 votos entre os 513 deputados, e 49 votos no Senado Federal, em dois turnos em ambas as casas legislativas. Na Câmara, o placar de votação do segundo turno fechou em 323 votos a 172. Já no Senado, durante a apreciação em segundo turno, 61 parlamentares votaram a favor da pauta e 10 contra.
O amplo apoio — recebido com surpresa por muitos interlocutores da discussão — foi garantido após mudanças feitas pelo relator da PEC e líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). A principal delas diz respeito à vinculação da folga de recursos aberta nos próximos anos ao pagamento do Auxílio Brasil e outras despesas sociais, visando impedir o governo de utilizar os recursos para fins considerados "eleitoreiros". O Senado carimbou os cerca de R$ 106 bilhões que devem vir com a PEC para o Auxílio Brasil e reajuste de despesas subestimadas no Orçamento da União.
Até recentemente, a previsão do espaço era de R$ 91 bilhões. Do total, o governo pretendia destinar cerca de R$ 50 bilhões para o Auxílio Brasil. Outros R$ 24 bilhões iriam para a recomposição inflacionária de benefícios previdenciários e o restante ficaria à disposição do Congresso, que poderia repassar o recurso, por exemplo, para as emendas de relator-geral (RP-9), aumento do fundo eleitoral, etc.
A transformação do programa Auxílio Brasil e do benefício mínimo de R$ 400 em permanentes também foi fundamental para garantir a aprovação da PEC. O governo propôs, inicialmente, pagar um tíquete transitório, sem indicar quanto receberiam os beneficiários após 2022. O texto aprovado pelo Senado ainda incorpora à carta constitucional o princípio da renda básica, que estabelece que todo "brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá o direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de renda".
Um outro ponto do qual Bezerra voltou atrás para garantir maior apoio à matéria foi a interferência no Poder Judiciário para impedi-lo de expedir precatórios. Mais tarde, o relator considerou o trecho como uma "falha" da versão da PEC aprovada pela Câmara. "A versão da Câmara comete o equívoco de confundir a expedição com o pagamento, mas os dois atos ocorrem em exercícios divergentes. Por isso, tampouco seria adequado limitar a expedição de um determinado ano com base no orçamento do mesmo ano", argumentou Bezerra.
"Nesse caso, o limite de pagamento no ano seguinte não necessariamente seria igual ao montante expedido no ano anterior. Assim, é adequado limitar anualmente somente o pagamento de precatórios", diz a justificativa do parlamentar.
Manter no texto a prioridade de pagamento dos precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) e retirar o montante do teto de gastos também foi decisivo para a aprovação da proposta no Senado. Cerca de R$ 16 bilhões que a União deve a estados ficarão fora da regra fiscal.
Em vez de ficar na fila "convencional", esses débitos serão pagos de forma mais rápida que os demais, em três anos: 40% serão pagos até 30 de abril de 2022, 30% até 31 de agosto de 2023 e os demais 30% até 31 de dezembro de 2024. Representantes da educação vão receber 60% do valor — o que significa R$ 9,6 bilhões.
Parlamentares ainda pleitearam que o governo desse prioridade aos precatórios chamados de natureza "alimentícia", relacionados a pensões, aposentadorias, salários, indenizações por falecimento ou invalidez, por exemplo. O líder do governo no Senado atendeu ao pedido para garantir o voto favorável dos deputados.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião