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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta segunda-feira (5) que o Congresso Nacional é "majoritariamente conservador e não é obrigado a votar com a base" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A declaração ocorreu depois de um encontro do deputado com o petista no Palácio da Alvorada.
"O governo tem vitórias em pautas que nós nos comprometemos. O Congresso que foi eleito não é progressista de esquerda. O Congresso eleito é conservador e reformista. O governo precisa se mobilizar e a articulação precisa estar mais atenta", disse Lira em entrevista à CNN Brasil.
Apesar disso, Lira disse que o presidente Lula está disposto a dialogar com as outras forças no intuito de "cristalizar" a sua base na Câmara e no Senado. Além do encontro com o presidente da Câmara, a expectativa é de Lula se encontre com líderes do Congresso Nacional para ouvir as demandas do Legislativo.
"O mesmo voto que foi dado ao presidente da República foi dado ao deputado e ao senador de forma republicana. Ninguém precisa votar com o governo sem ser base do governo. O presidente [Lula] está se movimentando e é importante que ele se movimente, principalmente por conta das dificuldades. Agora o governo tem uma noção exata dessas dificuldades. ", completo Lira.
Convite de Lula foi um aceno ao presidente da Câmara
Ainda de acordo com o presidente da Câmara, o encontro com Lula ocorreu de forma institucional e serviu para tratar de temas que precisam ser votados na Casa. Entre eles a reforma tributária, que Lira indicou que pretende aprovar na Câmara ainda neste semestre.
"A minha conversa foi institucional, tratando de problemas macros e de decisões que precisam ser tomadas para votações como a da reforma tributária. Eu penso que depois de muita agonia como a da semana passada, o governo vai começar a se organizar para essa estabilização", completou Lira.
O encontro de Lira com Lula ocorreu dias depois que o Executivo entrou em embate com a Câmara por conta da votação da Medida Provisória que tratava da reestruturação da Esplanada dos Ministérios. O presidente da Câmara afirmou que o texto só foi votado depois que o governo entendeu que ele ainda não tem uma base sólida e precisa trabalhar para azeitar a relação com os parlamentares.
Lula vai se reunir com líderes da Câmara e do Senado no Planalto
Em outro movimento, o presidente Lula pretende se reunir de forma quinzenal com os líderes partidários da Câmara e do Senado. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tem se movimentado para que esse primeiro encontro ocorra ainda na tarde desta segunda-feira no Palácio do Planalto.
O modelo seria uma forma de o próprio presidente ouvir as demandas e se aproximar dos parlamentares das duas Casas, em uma estratégia para evitar novas crises com o Congresso. "Há uma insatisfação generalizada dos deputados e talvez dos senadores com a falta de articulação política do governo, não de um ou outro ministro", disse Lira na semana passada.
Apesar de ter conseguido aprovar a MP da Esplanada no limite do prazo, avaliação dentro do Planalto é de que o saldo final foi de derrota. A versão aprovada pela Câmara e pelo Senado desidratou os ministérios de Meio Ambiente e Povos Indígenas, entre outras mudanças.
Na última sexta-feira (2), durante uma agenda em São Bernardo do Campo, em São Paulo, Lula atribuiu os problemas com o Congresso ao baixo número de deputados na sua base de apoio. Além disso, disse ser preciso conversar com “quem não gosta da gente”.
"A esquerda toda tem no máximo 136 votos, isso se ninguém faltar. Mas nós, para votarmos uma coisa simples, precisamos de 257. Então, de 136, faça uma conta aí e veja quantos faltam. Então, é importante que vocês saibam o esforço para governar. É importante que vocês saibam que não é só ganhar uma eleição. Você ganha uma eleição e depois precisa passar o tempo inteiro conversando para ver se consegue aprovar uma coisa", disse Lula na ocasião.