A atual legislatura do Congresso Nacional, que teve na renovação uma de suas principais características, se encerra sem que deputados e senadores conseguissem concluir o debate de alguns temas que tramitam há anos – ou em alguns casos, décadas – na Câmara e no Senado. A finalização das discussões e a apreciação desses assuntos no plenário agora é um dos desafios dos parlamentares que assumem seus mandatos na próxima quarta-feira (dia 1º).
A lista de projetos que aguardam conclusão inclui propostas como a regulamentação do lobby, a prisão de condenados em segunda instância judicial, a legalização de cassinos e outros jogos de azar, e as reformas tributária e administrativa.
Veja abaixo alguns dos temas que sobrarão para os próximos deputados federais e senadores.
Regulamentação do lobby
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou no fim de novembro o projeto de lei que regulamenta o lobby no Brasil, depois de anos de discussão – a proposta inicial foi apresentada em 2007. Mas como a tramitação foi lenta, não sobrou tempo na atual legislatura para que o assunto fosse debatido no Senado – para onde o projeto foi remetido após a aprovação na Câmara.
O lobby é praticado por grupos de interesse que procuram deputados e senadores para defenderem seus pontos de vista na discussão de projetos de lei. Congressistas favoráveis à regulamentação dizem que a normatização dará transparência ao processo, com a identificação dos lobistas e um estímulo para que os atos se deem "na superfície", e não de forma escondida.
Legalização dos jogos de azar
O projeto que regulamenta os jogos de azar foi apresentado no Congresso há mais de três décadas – mais precisamente, em 1991. De autoria do ex-deputado Renato Vianna (PMDB-SC), foi aprovado pela Câmara em fevereiro de 2022. Na versão final, a proposta legaliza cassinos, bingos, jogo do bicho e sites de aposta esportiva. Após a aprovação dos deputados, o projeto foi remetido ao Senado, onde não passou por tramitações significativas desde então.
A proposta costuma reunir dois grandes grupos. Os favoráveis à iniciativa dizem que a legalização dos jogos pode contribuir com a arrecadação de impostos e o incremento do turismo. Já os adversários dizem que cassinos, por exemplo, são utilizados para lavagem de dinheiro; e que os jogos de azar podem estimular o vício.
Essa divisão ocorreu dentro da base de apoio do governo Jair Bolsonaro: a ala "liberal" defendia a aprovação da proposta, enquanto a bancada evangélica, corrente importante de apoio ao ex-presidente, se opôs. O próprio Bolsonaro disse que vetaria a proposição se houvesse a aprovação do Congresso.
Reforma tributária
O governo Bolsonaro fracassou na tentativa de aprovar a reforma tributária, apesar de todos os esforços do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes. O conjunto de propostas, porém, não encontrou o consenso necessário para aprovação no Congresso.
Agora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz que pretende aprovar uma reforma tributária ainda no primeiro semestre de 2023. Haddad afirmou mais de uma vez que reformular o sistema de impostos do país é uma prioridade para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, a fim de corrigir injustiças e aumentar a arrecadação federal.
A reforma pode sair via projetos que já estão tramitando no Congresso desde 2019. Um deles é de autoria do ex-deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), que não foi reeleito em outubro. Outro tem a assinatura formal do deputado reeleito Baleia Rossi (MDB-SP), mas foi formulado pelo economista Bernard Appy, recém-nomeado secretário especial da reforma tributária do governo Lula.
Reforma administrativa e "supersalários"
A reforma administrativa é outro projeto que não saiu do papel durante a atual legislatura. A proposta previa um novo modelo de serviço público que retire privilégios e reestruture carreiras. Mas encontrou forte resistência ao longo de sua tramitação, em especial de corporações de servidores públicos.
Já o projeto que coíbe os "supersalários" no funcionalismo público conseguiu ser aprovado na Câmara. Mas está travado no Senado desde 2021. A proposta tem raros opositores públicos, mas ainda assim não desfruta de apoio efetivo para garantir sua aprovação.
Homeschooling
A educação domiciliar (ou homeschooling) é discutida pelo Congresso desde pelo menos 2012, quando uma proposta sobre o tema foi apresentada pelo deputado Lincoln Portela (PL-MG). O assunto ganhou força após a eleição de 2018, já que o tema é defendido por grande parte dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em 2022, um projeto sobre homeschooling foi aprovado na Câmara. A proposta foi remetida ao Senado e está sob avaliação da Casa desde o meio do ano. Mas senadores admitem que o tema divide opiniões e deve ter dificuldades para ser aprovado.
Prisão em segunda instância
A prisão de condenados em segunda instância judicial ganhou força no Congresso em 2019, quando Lula foi solto após o Supremo Tribunal Federal (STF) rever seu entendimento sobre o tema. Na ocasião, deputados e senadores apresentarem uma série de projetos sobre o assunto. As iniciativas sugeriam mudar o Código de Processo Penal ou a Constituição para alterar o conceito de trânsito em julgado (quando não há mais a possibilidade de recurso judicial) – e, assim, garantir o encarceramento dos condenados em duas instâncias.
A chegada da pandemia da Covid-19, porém, mudou o foco do Congresso no início de 2020. Desde então, a prisão em segunda instância saiu do radar de prioridades. O assunto recebeu holofotes em dezembro de 2021, após a comissão especial sobre o projeto pautar sua votação. Mas recuou após uma manobra que trocou os integrantes do colegiado. A proposta pode recuperar espaço agora com a chegada ao Congresso de membros da chamada "bancada da Lava Jato", como o senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR) e o futuro deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR).
Escolha de ministros do STF e fim do mandato vitalício
Outra proposta que acabou influenciada pela pandemia foi a de rever o processo de escolha de ministros do STF e o estabelecimento de um prazo para seus mandatos.
A ideia havia sido colocada pelo então presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) como uma das prioridades do Congresso para 2020. Uma proposta em discussão fixava em dez anos o mandato dos ministros do STF e determinava que a escolha não mais seria livre do presidente da República, e sim partiria de uma lista tríplice. Mas a crise sanitária da Covid-19 mudou as prioridades. E a proposição acabou não avançando, inclusive após a pandemia ter se enfraquecido.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF