Senadores e deputados protestaram imediatamente contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (15) pela descriminalização do porte e a posse de maconha para uso pessoal, com críticas ao ativismo judicial e a promessa de responder a ele.
Num primeiro momento, a confirmação do avanço do Judiciário sobre esse tema polêmico pressionou a Câmara a aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) que criminaliza porte de qualquer droga ilícita e em qualquer quantidade.
A PEC já foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, sob relatoria de Ricardo Salles (PL-SP). “As escolhas de políticas públicas cabem aos que tem voto: Legislativo e Executivo. Essa decisão claramente invade competência do Congresso”, comentou o deputado.
Apesar do clima de otimismo entre parlamentares com essa iniciativa, ainda há a perspectiva de novos embates entre os poderes com uma provável judicialização da PEC. O texto já foi avaliado pelo Senado. Portanto, se a matéria for aprovada pela Câmara sem alterações, a PEC seguirá para promulgação. A maioria dos congressistas evoca a prerrogativa do Legislativo de formular leis.
Não por acaso muitos deles reproduziram nas suas redes sociais a manifestação do ministro Luiz Fux durante o seu voto que, mesmo votando pela descriminalização, lembrou os pares de que “em um estado democrático, a instância hegemônica é o Parlamento”.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criou ainda na terça-feira (25), a comissão especial que vai discutir a chamada PEC das Drogas. A criação do colegiado com 34 deputados foi protocolada no sistema de tramitação do texto. O grupo deverá elaborar um parecer sobre a PEC após 40 sessões de plenário, conforme manda o regimento. Sua deliberação é a última etapa antes da PEC ser discutida pelo plenário. Os líderes tentarão aprovar a matéria antes das eleições municipais.
De acordo com a manifestação da maioria do Supremo, o porte de maconha continua sendo ilícito, mas as punições aos usuários passam a ter natureza administrativa, e não criminal. Foram vencidos os ministros Cristiano Zanin, André Mendonça e Nunes Marques, contrários à descriminalização. O Supremo ainda deve definir, nesta quarta-feira (26), a quantidade máxima que diferenciará um usuário de um traficante.
PEC aprovada no Senado e sob análise da Câmara pode ser questionada no STF
De autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a PEC inclui na Constituição que será considerado crime “a posse e o porte, independentemente da quantidade, de entorpecentes e drogas afins, sem autorização ou em desacordo com determinação legal, ou regulamentar”. Ao tornar essa regra constitucional, a intenção é de que não possa ser modificada ou reinterpretada pelo STF.
Mas juristas e defensores da decisão do STF procuram, por seu lado, resguardar a função do Judiciário como balizador de direitos, lembrando que cortes supremas de outros países, como a do México, já editaram resoluções em favor do consumo pessoal de maconha, desvinculando por completo do tráfico. O assunto provocou dura discussão entre os ministros André Mendonça e Luís Roberto Barroso, presidente do STF.
Nesta terça-feira, Pacheco tratou de reafirmar o seu posicionamento contrário à decisão do STF, antes mesmo do término do julgamento, classificando-a como uma "invasão de uma competência do Legislativo", pedindo que seja retomado o “caminho correto” para se regrar um assunto tão sensível.
Para ele, os ministros do Supremo não atropelaram apenas os congressistas, mas também agências reguladoras da área de saúde e organismos internacionais ao escolher um entorpecente para tornar lícito e ignorar impactos sobre políticas públicas.
Parlamentares criticam desrespeito do SSTF ao debate na Câmara sobre drogas
A agenda de combate à liberação do consumo de drogas foi encampada por Pacheco e por Lira quando o STF resgatou ano passado o julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas, iniciado em 2015. A decisão do STF tratou especificamente da constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas (2006), que estabelece que é crime adquirir, guardar ou transportar drogas para consumo pessoal.
A tendência agora é de a Câmara aprovar a emenda à Constituição que endurece a política de drogas. Lira disse, nesta quarta-feira, que, embora não haja consenso sobre a PEC, há uma "maioria razoavelmente favorável" à proposta.
Em meio às eleições municipais e a disputa pela sucessão no comando das duas Casas do Congresso, a oposição e os setores conservadores da sociedade pressionam pela reação do Legislativo.
Na Câmara o clima entre os deputados era de indignação e engajamento por uma resposta capaz de conter os “abusos do STF”.
“A decisão do STF é um passo atrás na luta contra as drogas. Precisamos de medidas rigorosas e eficientes para combater o consumo e o tráfico, e esta descriminalização só dificulta manter a ordem e a segurança. Infelizmente, o Supremo inaugura mais um capítulo da queda de braço com o Legislativo”, comentou Sargento Gonçalves (PL-RN).
Nessa mesma linha, Sargento Portugal (Podemos-RJ) lembrou que a decisão do STF pode legalizar o tráfico em pequenas quantidades, popularmente chamada de aviãozinho. “Jamais poderemos admitir isso. Um desserviço no combate às drogas e suas consequências”, protestou.
Coronel Telhada (PP-SP) acrescentou que a descriminalização tornará os policiais “reféns da interpretação de terceiros para saber se o indivíduo que estava com drogas estava traficando ou apenas portando”.
“Passei anos combatendo esse mal nas ruas de São Paulo, sei da perversidade das drogas dentro da sociedade e da família. Lamentavelmente, o STF não entende que é papel do Legislativo tratar sobre esse tema. Precisamos acelerar a tramitação da PEC das Drogas para impedir que essa decisão produza mais efeitos negativos”, disse.
"Afronta do STF" será respondida com votação na Câmara, dizem parlamentares
Para o líder da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Silas Câmara (Republicanos- AM), a “lamentável insistência” do STF em “afrontar o Legislativo” em sua decisão já tomada contra a discriminação das drogas, inclusive com PEC próxima de ser aprovada sobre o tema, agride a harmonia entre os poderes e o povo brasileiro, “que já disse é continua dizendo não à discriminação as drogas”.
Para Bia Kicis (PL-DF), a decisão dos ministros desrespeitou o Congresso, justo quando os deputados debatem o tema. “Uma PEC foi aprovada no Senado e está em curso na Câmara, já tendo sido aprovada na CCJ. Como falar em harmonia entre poderes quando o STF simplesmente desconsidera o legislativo e o povo que representamos?”, protestou.
Júlia Zanatta (PL-SC) avisou que a Câmara fará a sua parte e aprovará a PEC 45/2023. “A última palavra deve ser dos parlamentares, legítimos representantes do povo”, afirmou.
Um dos mais entusiastas combatentes da liberação de entorpecentes, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) considerou a decisão do STF “um desaforo sem precedentes”. “Agora, mais do que nunca, a Câmara precisa deliberar o que o Senado já fez sobre esse tema. Esse impasse vai ser decisivo para o país entender a razão de o Congresso existir. Fomos eleitos para isso. É um absurdo o que está ocorrendo e chegou a hora da verdade.”
Para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o episódio dá três “exemplos péssimos” se “o Legislativo não legislar, o Judiciário legislar e a legislação permitir o retrocesso do porte de maconha”. “Continuarei insistindo para que a Constituição seja cumprida e a Câmara cumpra o seu dever”, disse.
Pragmatismo não deve salvar Lula dos problemas que terá com Trump na Casa Branca
Bolsonaro atribui 8/1 à esquerda e põe STF no fim da fila dos poderes; acompanhe o Sem Rodeios
“Desastre de proporções bíblicas”: democratas fazem autoanálise e projetam futuro após derrota
O jovem que levou Trump de volta ao topo
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF