O governo vai encaminhar ao Congresso na próxima segunda-feira (15) o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) prevendo para 2020 mais um ano de rombo nas contas públicas. A expectativa do ministro da Economia, Paulo Guedes, era zerar o déficit primário já neste ano, mas, por enquanto, a meta está longe de ser alcançada.
Não é possível estimar ainda qual o tamanho da reforma da Previdência que poderá ser aprovada no Congresso e quais receitas extraordinárias poderão entrar no caixa da União. Com isso, o governo precisou cair na real e prever que teremos, em 2020, provavelmente o sétimo ano seguido de despesas superando as receitas.
O que é o PLDO?
O governo precisa encaminhar ao Congresso até o dia 15 de abril um projeto de lei contendo a meta fiscal e as prioridades para o ano seguinte e subsequentes. Depois, o projeto é analisado pelos parlamentares, que podem sugerir mudanças. Até julho, precisa ser aprovado, transformando-se na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que vai guiar os gastos do governo.
O item mais importante do PLDO é a meta fiscal. Trata-se de uma estimativa de receitas e despesas do governo federal. Ou seja, tudo o que o governo arrecada menos o que ele gasta em um ano. Ao traçar a meta, o governo precisa cumpri-la, caso contrário o presidente pode ser acusado de crime de responsabilidade fiscal – o que pode acabar em impeachment.
Para traçar a meta, o governo leva em contas projeções macroeconômicas para os próximos anos, como PIB, inflação, massa salarial e juros, e traça suas estimativas de receitas e despesas. Se as expectativas de despesas forem maiores, ele vai prever um déficit primário. Se a previsão é que as receitas superem as despesas, a previsão então é de superávit.
Para este ano, a meta fiscal é de um déficit de R$ 139 bilhões. Ou seja, as contas do governo podem fechar no vermelho em até no máximo R$ 139 bilhões. Ao longo do ano, o governo pode anunciar contingenciamentos (bloqueio de verba) para garantir o cumprimento da meta. Também é possível rever a meta.
Qual deve ser a meta fiscal para 2020?
Segundo a pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, Vilma Pinto, é possível que a meta deva ser igual ou pior do que R$ 110 bilhões, considerando o resultado do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social). “Acho difícil ser menor, embora a expectativa do PIB para 2020 ainda esteja elevada [2,7%, segundo último Focus].” A estimativa de R$ 110 bilhões estava na LDO deste ano.
Vilma acrescenta que, pelo histórico, o governo também tende a colocar uma meta fiscal acima do que ele de fato cumpre. O objetivo é conseguir cumprir a meta com folga para não gerar problemas para si mesmo. Em 2018, as contas públicas fecharam no vermelho em R$ 120,3 bilhões, sendo que a meta era de um déficit de R$ 159 bilhões.
E por que Paulo Guedes quer zerar o déficit o quanto antes?
O ministro Paulo Guedes, contrariando as projeções macroeconômicas, quer zerar o déficit primário o quanto antes. Mas por que o déficit é tão ruim?
Toda vez que o governo encerra o ano no vermelho significa que está faltando dinheiro. Então, a União precisa se endividar para cobrir o rombo. Para isso, há duas formas: novos impostos ou emissão de títulos públicos.
Até aqui, o governo vem emitindo títulos. Mas isso tem um problema. Aumenta a dívida bruta do governo federal, o que faz com que o governo gaste mais com o pagamento de juros – o temível endividamento em bola de neve que a União caiu e não consegue mais sair e só aumenta a cada ano.
Sair do vermelho, ou seja, ter superávit primário, significa que o governo terá colocado as contas públicas em ordem.
Superávits primários consistentes só com reformas estruturais
Para alcançar anos seguidos de resultados primários superavitários, o governo precisa aprovar uma série de reformas estruturais, diz Vilma. Além da proposta da Previdência, que já está no Congresso, a pesquisadora destaca a necessidade de se fazer uma reforma tributária e uma ampla revisão de incentivos fiscais, como desonerações e subsídios.
“A forma mais eficiente de você zerar o déficit primário é corrigindo as distorções que existem hoje. Se você observar, a gente tem hoje um déficit que é estrutural, não um déficit conjuntural. Mesmo com a economia crescendo um pouco, a gente não consegue eliminar o déficit só com crescimento. A gente precisa de mudanças. Precisamos de mudanças no lado das despesas e receitas”, explica Vilma.
Caso a reforma da Previdência seja aprovada no Congresso com uma economia significativa, ela até trará um impacto positivo, mas não o suficiente para o governo sair do vermelho. Sozinha a medida não é capaz de rever um déficit de mais de R$ 100 bilhões. “Só com a reforma da Previdência não consegue zerar o déficit. Só com a reforma tributária não consegue zerar o déficit. É preciso um conjunto de fatores.”
E por que o ministro diz que vai zerar o déficit neste ano?
Paulo Guedes segue dizendo que quer zerar o déficit ainda neste ano porque conta com receitas extraordinárias, ou seja, aquelas que não são recorrentes e há chances de acontecer.
Um exemplo é o leilão excedente do pré-sal na área conhecida como cessão onerosa. O leilão está previsto para 28 de outubro e no governo anterior se falava em arrecadar R$ 100 bilhões. Mas esse leilão pode emperrar no Congresso e na Justiça, que já mostraram resistência a termos do acordo do leilão que está sendo desenhado.
Outra expectativa de receita extraordinária é com a devolução do dinheiro que os bancos públicos devem à União. O Tesouro vai cobrar, segundo Guedes, R$ 206 bilhões de BNDES, Caixa e Banco do Brasil.
Senadores da oposição protocolam pedido de impeachment de Gonet, após denúncia de golpe
Impopularidade e perda de apoios históricos explicam guinada à esquerda de Lula
Zelensky contraria Rubio e diz que Ucrânia não reconhecerá territórios ocupados como russos
Quais empresas do Brasil perdem com as tarifas de Trump – e qual pode sair ganhando
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF