O Brasil ultrapassou a Alemanha na terça-feira (12) e se tornou o sétimo país com mais casos de coronavírus, com 178,2 mil ocorrências comprovadas. No mesmo dia, o país bateu o recorde de mortes pela covid-19 num mesmo dia: 881. Com isso, o Brasil já tem um total de 12.400 óbitos desde o início da pandemia. Na semana passada, já havia se tornado o sexto país do mundo a registrar mais de dez mil mortes pelo coronavírus. Os dados do Ministério da Saúde mostram que a Covid-19 ainda está em ascensão no país e geram o questionamento: o que vem pela frente?
A primeira morte por Covid-19 ocorreu há quase dois meses, no dia 17 de março. Desde então, além de enfrentar a pandemia, o país passou por forte crise no Poder Executivo. Além de uma saída diretamente relacionada com a pandemia, a do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o governo Bolsonaro sofreu a baixa de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça.
Confira um histórico da expansão da Covid-19 no Brasil, com uma retrospectiva das medidas sanitárias, dos desdobramentos econômicos e dos conflitos políticos relacionados a essa crise.
Primeiros casos no Brasil
No fim de janeiro, surgem os primeiros casos suspeitos de coronavírus no Brasil. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná registraram os três primeiros casos suspeitos do país. Mas esses casos não eram de coronavírus.
Em 9 de fevereiro, 34 brasileiros que estavam em Wuhan, na China, epicentro do surto de coronavírus na China, são repatriados. Eles desembarcam na Base Aérea de Anápolis, em Goiás, onde passam 18 dias em quarentena, junto com a equipe enviada para realizar o resgate. Nenhum deles tinha a Covid-19.
Mas a doença chegou oficialmente ao Brasil no fim daquele mês. Uma contraprova realizada no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, confirmou o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Um homem de 61 anos, que esteve a trabalho na Itália entre os dias 9 e 21 de fevereiro, foi atendido no dia 24 de fevereiro no Hospital Israelita Albert Einstein com suspeita de Covid-19. No dia 26, o Ministério da Saúde confirmou o caso.
Três dias depois, a pasta confirmaria o segundo caso da doença, também importado da Itália. Dessa vez, o paciente era um homem de 32 anos, funcionário da XP Investimentos, que veio da Lombardia para São Paulo.
Em duas semanas, o número de casos confirmados subiria para quase cem.
Álcool em gel e máscaras começam a sumir de farmácias
Diante das notícias de que a doença havia chegado ao país, muitos brasileiros correm, já no fim de fevereiro, para garantir os equipamentos de proteção individual básicos, como máscaras e álcool em gel. A falta dos produtos começa a ser notada em farmácias do Brasil. Além disso, os preços abusivos começam a ser denunciados pelos consumidores.
Membros de comitiva de Bolsonaro infectados pelo coronavírus
Metade da comitiva do presidente Jair Bolsonaro em viagem à Flórida, nos Estados Unidos, é diagnosticada com o coronavírus. Nos quatro dias de compromissos nos Estados Unidos, as medidas de prevenção recomendadas por especialistas não foram adotadas nem pelo presidente nem por seus acompanhantes. Foi durante essa viagem que Bolsonaro declarou pela primeira vez que a pandemia estava "superdimensionada" e era uma "fantasia".
Isolamento social e fechamento do comércio começam a ser adotados contra coronavírus
A população brasileira começa a despertar para a necessidade de medidas de isolamento social e de higiene especialmente a partir da segunda semana de março. Empresas e órgãos do governo começam a adotar o home office. A maioria das escolas e universidades decide suspender as aulas.
No dia 11 de março, o Ministério da Saúde edita uma portaria regulamentando as medidas de enfrentamento ao coronavírus. A medida tem o objetivo de separar pessoas contaminadas, sejam sintomáticas ou assintomáticas, para evitar a propagação da infecção e a transmissão local.
Municípios e estados começam a publicar decretos relacionados ao isolamento social, ao fechamento do comércio e à proibição de aglomerações. O maior estado do país, São Paulo, decreta estado de calamidade pública no dia 20 de março e é seguido por outros municípios e entes da federação.
Brasil começa a registrar mortes pelo coronavírus
A primeira morte por coronavírus no Brasil é registrada no dia 17 de março em São Paulo. A vítima é um homem de 62 anos. Antes do fim do mesmo mês, o número de mortes no Brasil passa de cem, com São Paulo e Rio de Janeiro à frente nas estatísticas.
Falta de equipamentos, leitos de UTI e médicos começa a preocupar
Em meados de março, autoridades do governo e associações de médicos começam a emitir alertas sobre a possibilidade de sobrecarga dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no Brasil, considerada um dos maiores riscos relacionados ao coronavírus. A necessidade de achatar a curva de expansão da doença, com o objetivo de desafogar os hospitais, também começa a ser reiterada pelas autoridades.
O então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmava no fim de março que, entre abril e junho, o país deveria enfrentar “60 a 90 dias de muito estresse” em seu sistema de saúde. A preocupação não era somente com os leitos, mas com os respiradores e o kits para testes da Covid-19.
No dia 21 de março, o Ministério da Saúde anunciou a compra de 5 milhões de testes, que seriam direcionados a profissionais da área de saúde e de segurança. Além disso, mais de 500 leitos de UTI começam a ser distribuídos para os estados.
Também em março, outra preocupação do governo passa a ser a falta de médicos para atender os casos de Covid-19. O Ministério da Saúde publicou no dia 11 de março dois editais de chamamento público para a contratação de médicos no âmbito do Mais Médicos. Foram disponibilizadas 5 mil vagas.
Os auxílios emergenciais e a redução de salário e jornada
Também no fim de março, o governo anuncia que criará um “programa antidesemprego” para permitir que empresas negociem com trabalhadores a redução da jornada de trabalho e dos salários. Ao mesmo tempo, promove medidas para auxiliar trabalhadores informais e formais que perderam parcial ou totalmente suas fontes de renda por conta da crise.
Um auxílio para os trabalhadores que tiverem seus salários reduzidos e que tiverem corte de salário e jornada vai custar mais de R$ 50 bilhões para a União. Além disso, o governo aprova R$ 600 de auxílio emergencial para atender trabalhadores informais durante a crise gerada pelo novo coronavírus. O valor aprovado foi três vezes maior do que o inicialmente proposto pela equipe econômica, de R$ 200.
A polêmica da cloroquina
Em abril, a cloroquina vira o foco do debate no Brasil sobre as formas de combater o coronavírus. O remédio, usado no país sobretudo para curar sintomas da malária, é considerado por alguns médicos e pesquisadores como a única esperança de tratamento para a Covid-19, com base em estudos preliminares.
Mas a discussão sobre o seu uso, que era meramente científica até o começo de março, ganha contornos políticos: apoiadores de Bolsonaro passam a ser majoritariamente favoráveis ao remédio, enquanto detratores do presidente se manifestam contra o seu uso.
O Ministério da Saúde admite recomendar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina (derivado menos tóxico da cloroquina) em pacientes da doença com sintomas graves. No entanto, defensores do uso do remédio argumentam que ele é menos eficaz se usado só quando a gravidade dos sintomas tiverem aumentado, e defendem recomendação já para os primeiros dias de sintoma. Mais recentemente, estudos científicos internacionais indicam que o medicamento não tem eficácia contra o coronavírus.
Conflito com governadores e pronunciamento bombástico
No fim de março, Bolsonaro entra em conflito com governadores dos estados por conta das estratégias adotadas no combate ao coronavírus. A briga é especialmente intensa com os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) – que, segundo o presidente, faziam demagogia no enfrentamento à crise, adotando medidas “além da normalidade”.
Um pronunciamento do presidente transmitido em rede nacional no dia 24 de março acentua a divisão. No discurso, Bolsonaro pede o fim do isolamento como estratégia para evitar o contágio da doença e atacava a imprensa e parte dos governadores. Isso é a gota d’água para que quase todos os governadores – inclusive antigos aliados do presidente – rompam com Bolsonaro.
Ascensão e queda de Mandetta
Antes discreto, o hoje ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta começa a ganhar os holofotes no início da expansão da pandemia no Brasil. Mas sua permanência no cargo passa a ficar ameaçada poucas semanas depois, quando sua proposta de isolamento social ampliado entra em conflito com a ideia do presidente Jair Bolsonaro de promover um isolamento menos rigoroso, voltado aos grupos de risco.
Depois do pronunciamento bombástico de Bolsonaro no dia 24 de março, a falta de sintonia fica evidente, e começam as especulações sobre uma eventual queda de Mandetta. O ministro diz que só vai sair quando Bolsonaro quiser.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan, no dia 2 de abril, Bolsonaro afirma que ele e Mandetta estão "se bicando há muito tempo" e que “falta humildade” ao ex-ministro. Mandetta responde em coletiva de imprensa que “quem tem mandato fala, e quem não tem, como eu, trabalha"
No dia 6 de abril, auxiliares de Mandetta chegam a limpar as gavetas do ex-ministro depois de uma reunião em que ele e Bolsonaro batem de frente. No dia 8 de abril, eles ensaiam uma trégua após reunião particular no Palácio do Planalto, mas a situação fica insustentável depois que Mandetta concede uma entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, com tom crítico às ideias do presidente.
Mandetta é demitido no dia 16 de abril. Sai com uma aprovação de 76% da população, segundo pesquisa Datafolha. O oncologista Nelson Teich assume o Ministério da Saúde em seu lugar.
O pico parece se aproximar. O que esperar das próximas semanas?
O Brasil foi o sexto país do mundo a ultrapassar as 10 mil mortes pelo novo coronavírus, em 9 de maio. Já chega perto de 200 mil casos confirmados da Covid-19 e se aproxima das mil mortes a cada 24 horas – na terça-feira (12), o país teve 881 mortes pela Covid-19. O que esperar daqui para frente? O país está perto do pico?
No começo da expansão da pandemia no Brasil, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, dizia que o pico do coronavírus no país ocorreria entre os meses de abril, maio e junho.
No começo de maio, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, atrasou a previsão inicial em um mês. Agora, a aposta é que o pico ocorrerá entre os meses de maio, junho e julho.
O sistema de saúde de alguns estados já se aproxima de um colapso. O Amazonas é o estado que mais tem sofrido nesse ponto, com alguns hospitais já impossibilitados de receber novos pacientes. O Rio de Janeiro parece ser outro estado à beira de um colapso.
Para controlar a crise, alguns estados e municípios começam a decretar o “lockdown” ou bloqueio total, a medida mais extrema de distanciamento social prevista pelo Ministério da Saúde. O controle das medidas de proteção, como o uso de máscaras, começa a se tornar mais rígido, com multas sendo aplicadas a cidadãos que não respeitam as determinações.
As esperanças a médio e longo prazo contra o coronavírus
Enquanto a crise se acentua no Brasil, cientistas estudam possíveis alternativas de combate ao coronavírus. Algumas delas, se forem bem-sucedidas, podem estar disponíveis ainda em 2020.
Um documento de 11 de abril da Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que há 70 vacinas contra a Covid-19 em desenvolvimento no mundo. Três delas já estão sendo testadas em humanos e as outras 67 estão em avaliação pré-clínica.
A farmacêutica americana Pfizer informou que a sua vacina para o coronavírus pode estar prontas para uso emergencial nos Estados Unidos durante o outono local, que vai de setembro a novembro. Os resultados do estudo podem ser divulgados ainda em maio, segundo a empresa.
Enquanto isso, outros remédios além da cloroquina, como a famotidina, usada contra a azia, e o Remdesivir, surgem como possíveis alternativas para o combate à Covid-19.
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