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O coronavírus (Covid-19) já se espalhou por todos os continentes e infectou 98,2 mil pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas até a manhã desta sexta-feira (6) ainda não foi declarado uma pandemia. O governo brasileiro tem pressionado a OMS por essa classificação desde o início da semana. Caso isso aconteça, a estratégia para lidar com o vírus sofre uma alteração.
Segundo dados da OMS atualizados até o fechamento desta reportagem, a Covid-19 já se espalhou por 88 países no mundo, provocando 3,3 mil mortes desde o seu surgimento. Além da China, que concentra 80,7 mil casos, os países mais afetados são a Coréia do Sul (6,2 mil infectados), Itália (3,8 mil) e o Irã (3,5 mil).
A OMS é o organismo máximo para classificar esse tipo de doença no cenário internacional. Caso a organização declare que o coronavírus se tornou uma pandemia, o foco deixa de ser conter a doença e identificar por onde os pacientes passaram e passa a ser tratar os casos mais graves.
Surto, epidemia, pandemia: qual a diferença?
Segundo a classificação da OMS, a Covid-19 é uma “emergência internacional”. A pandemia é a classificação mais grave para a doença.
O surto acontece quando o número de casos aumenta rápido, em uma área geográfica restrita. Foi o que aconteceu no início da disseminação da doença, quando apenas a China tinha casos confirmados. A partir do momento em que os casos começam a se espalhar por outros países, há uma epidemia.
Uma pandemia acontece quando os casos começam a aparecer em todos os continentes, inclusive com transmissão local. A OMS considera que ainda não há uma pandemia de coronavírus, já que há continentes em que foram confirmados pouquíssimos casos, como na América do Sul.
Segundo dados da OMS, apenas quatro países da América do Sul tiveram casos confirmados até agora: Brasil, Equador (com 13 casos), Argentina e Chile (com um caso confirmado em cada um).
Estratégia para tratar pandemia de coronavírus muda
Segundo o ministro da saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, a OMS já deveria ter declarado uma pandemia de coronavírus. “Demora para que a Organização Mundial da Saúde fale: ‘Olha, temos uma pandemia’, para que a gente possa trabalhar com critérios pandêmicos”, disse em uma coletiva na quarta-feira (4).
A OMS, por outro lado, insiste que a estratégia de conter a doença ainda é possível. Ao declarar uma pandemia, a estratégia passa a ser tratar os casos mais graves.
“No momento, não estamos testemunhando uma disseminação mundial sem controle. Esse vírus tem potencial pandêmico? Absolutamente, mas usar a palavra pandemia agora não se encaixa nos fatos. Isso pode causar medo. Este não é o momento de focar em qual palavra vamos usar. Isso não vai prevenir uma única infecção hoje ou salvar uma única vida”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante coletiva de imprensa ainda em fevereiro.
Caso seja declarada uma pandemia, a estratégia de isolar cidades, como aconteceu na China, e deixar pacientes em quarentena, por exemplo, perde o sentido. Essas medidas são adotadas para evitar que a doença se espalhe. Em caso de pandemia, a doença já se espalhou e a estratégia é tratar os doentes mais graves, evitando mortes.
“Com uma pandemia, seguramente vamos ter que adotar medidas mais restritivas no país. Já é uma pandemia, então temos que nos preparar para piores dias”, avalia o diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, o médico Marcos Cyrillo.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “busca compreender a dinâmica do vírus em relação a sua transmissibilidade e mortalidade”. “Ao que as evidências indicam, o vírus possui uma transmissibilidade maior e uma letalidade menor do que a apresentada inicialmente, conforme novos estudos apontam”, diz a pasta.
O Ministério da Saúde também afirma que já está se preparando “para uma fase de transição entre a contenção do vírus e o atendimento à população afetada”.
Como o Brasil deve lidar com o coronavírus
Segundo Cyrillo, a melhor estratégia no caso brasileiro ainda é tentar evitar o avanço do vírus. “A melhor estratégia é adotar todas as medidas de segurança, de tratamento, de isolamento de contato, cuidados dentro dos hospitais com doentes com a doença, os hábitos de higiene da população. Essas são as maneiras de conter”, disse.
Segundo o diretor da SBI, o Brasil tem lidado bem com a situação até agora. Mas ele acredita que o país não tem condições de lidar com um número alto de doentes. “O Brasil tem lidado bem com o vírus e tem feito bastante documento, protocolo, tem feito muito as diretrizes. Talvez nós não tenhamos pessoas, hospitais, centros cirúrgicos, talvez não tenhamos leitos de UTI, álcool gel. Não é a parte burocrática, é a parte de colocar a mão na massa que está com problema, eu acredito”, diz. “O país não tem condições de lidar com um grande número de infectados, não. Tem que aguardar para ver”, completa.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “tem trabalhado para garantir insumos e medicamentos com diferentes fornecedores nacionais e internacionais para os pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS)”. “A pasta dimensiona as aquisições, a partir da necessidade de estados e municípios, quais e quantos tipos de medicamentos podem ser comprados de forma central e distribuídos aos estados e os que podem ser comprados com recurso descentralizado. O Ministério da Saúde continuará se adaptando conforme a avaliação de novos cenários da doença dentro do país”, completou a pasta.
O ministério também afirma que melhorou os processos de compra para garantir melhor montagem de estoque e maior capacidade de reposição de insumos e medicamentos no país. “A pasta mudou, ainda, a logística, melhorou o acondicionamento e reduziu as perdas. Com essas ações há maior garantia de abastecimento na rede pública, inclusive para os momentos de emergência de saúde”, ressalta a nota enviada à reportagem.
Casos de coronavírus no Brasil
O caso mais recente confirmado no Brasil é de uma mulher de 34 anos que mora em Feira de Santana, na Bahia. É o primeiro caso registrado no Nordeste. Ela retornou da Itália no último dia 25 e seria assintomática.
Outro caso assintomático foi registrado em São Paulo. Trata-se de uma estudante de 13 anos, que também estava de férias na Itália.
Outros dois casos confirmados são pacientes que tiveram transmissão local do vírus. Um deles estava em um churrasco com um paciente que foi infectado pelo vírus no exterior. Outro caso teve contato com uma pessoa que esteve no mesmo churrasco.
Ao todo, são seis casos em São Paulo, um no Rio de Janeiro, um no Espírito Santo e um na Bahia. Também há um paciente no Distrito Federal que aguarda o resultado de uma contraprova.
O primeiro caso brasileiro surgiu no dia 26 de fevereiro, em São Paulo - estado que tem o maior número de casos suspeitos no país.