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A campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil virou uma espécie de vitrine para governantes de todas as esferas do poder Executivo. Eles correm contra o tempo para imunizar a população de suas regiões contra o coronavírus o quanto antes e, com isso, colher os benefícios políticos, sobretudo nas eleições de 2022. Desde que o Ministério da Saúde autorizou, ainda em maio, o início da vacinação da população em geral por faixa etária acima dos 18 anos, estados e municípios trabalham para acelerar a imunização.
A corrida da vacina tem sido capitaneada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que no último domingo (11) anunciou que pretende iniciar a imunização de adolescentes entre 12 e 17 anos de todo o estado a partir do dia 23 de agosto. A previsão é de que todos os adultos acima dos 18 anos estejam vacinados, com ao menos uma dose, até o dia 20 de agosto. O prazo anterior era 20 de setembro. Esta é a quarta antecipação do calendário de vacinação no estado anunciada por Doria.
Segundo o governo paulista, a inclusão deste público se deve à aquisição de lotes extras da Coronavac, em negociação direta entre São Paulo e o laboratório chinês Sinovac, para atender a uma demanda de 3,2 milhões de pessoas nos 645 municípios do estado.
“Para se ter ideia da importância e do significado desta decisão, todos os jovens e adolescentes com mais de 12 anos e até 17 anos estarão vacinados no estado de São Paulo até o dia 30 de setembro”, afirmou Doria. No total foram adquiridas 4 milhões de vacinas prontas. “Daqui a 40 dias, todos os adultos que vivem em São Paulo e que podem ser vacinados estarão com ao menos uma dose da vacina no braço”, disse.
Um dia após o anúncio de São Paulo, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), foi às redes sociais para ironizar, em tom bem-humorado, o calendário do estado vizinho, afirmando que a capital fluminense já havia comunicado a vacinação dos jovens do município ainda em junho: “E o sujeito lá da terra da garoa achando que está inovando. Eu hein! Adolescentes vacinados já é notícia velha aqui. Anúncio feito em 18/06. Quanto a data... Bom... É só me aguardar”, publicou Paes. No Rio, o início da vacinação dos mais jovens estava marcada para começar no primeiro dia de setembro, mas também pode ser antecipada.
Apesar da expectativa, a vacinação de adolescentes ainda não foi autorizada pelo Ministério da Saúde. Segundo a pasta, o assunto ainda está em discussão no grupo técnico. Até o momento, apenas a Pfizer tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser aplicada nessa faixa etária.
Outros estados, como Santa Catarina, Goiás e Minas Gerais também anunciaram a antecipação do calendário de vacinação de toda a população adulta para setembro. Todos baseados no cronograma de recebimento de vacinas apresentado pelo Ministério da Saúde.
Antecipação da vacinação em alguns estados pressiona o governo federal
Os anúncios feitos por governadores e prefeitos têm provocado pressão sobre o governo federal pela chegada e distribuição de novas doses de vacinas contra a Covid-19, uma vez que a antecipação dos calendários regionais de vacinação depende dos imunizantes fornecidos pelo Ministério da Saúde. Nesta semana, sete capitais suspenderam a aplicação da primeira dose do imunizante por falta de vacina: Curitiba, Salvador, Florianópolis, Campo Grande, Manaus, Belém e João Pessoa. Os municípios dependem da chegada de novos lotes para a continuidade do calendário de imunização.
Por receio de um possível aumento no número de contaminações em razão da variante Delta do coronavírus, Espírito Santo, Maranhão, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Pernambuco anunciaram também a antecipação da aplicação da segunda dose das vacinas na população, encurtando o intervalo para quem recebeu as vacinas da Coronavac, AstraZeneca e Pfizer, o que tem aumentado ainda mais a demanda por esses imunizantes.
Já o Ministério da Saúde prevê a chegada total de aproximadamente 41 milhões de doses da vacina durante o mês de julho e trabalha para tentar garantir o estoque de doses para não frustrar os calendários locais e ficar com o ônus dessa paralisação. A pasta orienta também que todos os estados sigam os intervalos determinados originalmente pelo Plano Nacional de Imunizações (PNI).
O próprio governo federal planeja vacinar toda a população adulta do Brasil ao menos com a primeira dose até setembro e que todos acima dos 18 anos devem ser totalmente imunizados até o final do ano.
Doria deu a largada na corrida da vacina
A corrida para ver quem imuniza a população mais rápido começou ainda em janeiro deste ano e foi travada pelo presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria. Ambos tentaram largar na frente na vacinação contra a Covid-19 no Brasil protagonizando uma "guerra" pela vacina. Enquanto o Planalto aguardava a chegada do primeiro lote de imunizantes da AstraZeneca, o estado de São Paulo produzia no Instituto Butantan a vacina Coronovac com insumos vindos da China.
A disputa acabou vencida por Doria. A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, foi a primeira vacinada no país, com a Coronavac, no dia 17 de janeiro, no Hospital de Clínicas de São Paulo. O governador paulista tratou de capitalizar o fato a seu favor, com imagens que percorreram todo o país. Bolsonaro enxergou no gesto uma jogada de marketing político de Doria.
No mesmo dia o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deu uma entrevista coletiva criticando a antecipação. “Senhores governadores, não permitam movimentos político-eleitoreiros se aproveitando da vacinação em seus estados. O nosso único objetivo neste momento tem de ser o de salvar mais vidas, e não o de fazer propaganda própria”, disse Pazuello.
No dia seguinte, o governo federal anunciou o início da campanha de imunização em todo o país.
Maioria da população vê Bolsonaro como responsável pela chegada das vacinas
Uma pesquisa divulgada no final de junho pelo site Poder 360 aponta que a maioria da população tem a percepção de que o presidente Jair Bolsonaro é o responsável pela vacinação dos brasileiros contra a Covid-19. Questionados sobre quem é o principal responsável pela chegada da vacina contra o coronavírus ao país, 32% apontam o presidente da República como motivador da chegada dos imunizantes. Outros 21% deram crédito ao Ministério da Saúde e 17% afirmaram que o responsável é o governador de São Paulo, João Doria.
A pesquisa, realizada entre os dias 21 e 23 de junho pelo PoderData, ouviu 2.500 pessoas em 445 municípios dos 27 estados brasileiros, com margem de erro de dois pontos percentuais.
No mês de fevereiro, logo após o início da campanha nacional de imunização, a pesquisa mostrava uma inversão desses números. Na ocasião, 27% dos entrevistados creditavam a chegada de vacinas ao governador de São Paulo; 25% afirmaram que o responsável pelo início da vacinação era o Ministério da Saúde e apenas 22% creditavam o feito a Bolsonaro. Os demais números, em menor proporção, foram distribuídos entre médicos e cientistas, governos municipais e estaduais e organizações não governamentais.