O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) – candidato à presidência do Senado apoiado pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP) – desponta forte na briga para comandar a Casa pelos próximos dois anos. Mas suas propostas para o país, tais como prioridades de votação caso se eleja para o comando da Casa, ainda são desconhecidas. Os compromissos que Pacheco tem assumido com os colegas são muito mais para costurar apoios a sua candidatura e alianças para as eleições de 2022 do que sobre a pauta do Senado.
Pacheco tem hoje, em tese, 29 dos 81 votos dos senadores. Sua candidatura conta com o apoio de DEM, Republicanos, PROS, PSD, PSC e até do PT.
Somados, esses partidos têm 29 senadores. Mas, como a votação é secreta, “traições” podem ocorrer no dia da votação – o que cria um ar de imprevisibilidade sobre o pleito. Para evitar a perda de votos, Pacheco conta com o apoio do governo federal que, como na Câmara, promete ser mais benevolente com aliados mediante a entrega de cargos e liberação maior de emendas parlamentares.
Apoio ao PSD para 2022 fortaleceu Pacheco
A maior conquista de Pacheco foi trazer para sua candidatura o PSD, o segundo maior partido da Casa, com 11 senadores. Para isso, o que pesou mais não foi a promessa de pautar projetos de interesse dos senadores da legenda, nem uma agenda de desenvolvimento para a economia. Mas, sim, uma costura política entre DEM e PSD para as eleições de 2022.
A Gazeta do Povo ouviu de integrantes do bloco que Pacheco e o DEM se comprometeram em apoiar o PSD ao governo de Minas Gerais em 2022. Assim como Alcolumbre tem ambições de se lançar candidato ao governo do Amapá, Pacheco sonha com o governo mineiro. Mas abriu mão disso para, primeiro, ampliar sua projeção nacional pelo Senado.
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), desponta como o candidato do partido que será apoiado por Pacheco e pelo DEM ao governo estadual em 2022. Mas o compromisso também vale caso a opção seja lançar o senador Antonio Anastasia (PSD-MG) – cujo mandato se encerra em 2022 – ao Executivo mineiro.
Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) vetou a candidatura de Alcolumbre à reeleição, o cenário que se desenhava na disputa pelo comando do Senado era o de lançamento de uma candidatura do PSD para rivalizar com a do MDB. Anastasia era o nome cotado pelo PSD. Mas a estratégia do DEM desarticulou a candidatura, apesar da insatisfação de alguns integrantes do PSD com Alcolumbre.
Além disso, caso Kalil seja o escolhido para concorrer ao governo mineiro, o compromisso aceito pelo DEM é de não lançar candidato ao Senado em Minas, abrindo caminho para a reeleição de Anastasia.
Bolsonaro e Alcolumbre: a sustentação de Rodrigo Pacheco
A articulação do DEM e de Rodrigo Pacheco com o PSD foi preponderante para fortalecer sua candidatura. Mas ele teve o “empurrão” do presidente Jair Bolsonaro e de Alcolumbre.
Mesmo criticado por alguns senadores, o presidente do Senado convenceu o governo a apoiar sua decisão de lançar Pacheco. Assim, Bolsonaro implodiu as pré-candidaturas dos senadores Eduardo Gomes (MDB-GO) e Fernando Bezerra (MDB-PE) para apoiar o senador mineiro.
Como coordenador de campanha e principal cabo eleitoral de Pacheco, Alcolumbre auxilia o colega de partido na articulação com senadores e outras legendas. Embora desacreditado e criticado por uma parte do Senado, Alcolumbre conseguiu reter o apoio de aliados e, com isso, fortalecer seu sucessor. O atual presidente da Casa é apontado, por exemplo, como o principal responsável por “salvar” os senadores Chico Rodrigues (DEM-RR) e Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) do Conselho de Ética. Chico Rodrigues é o senador do dinheiro na cueca. E Flávio está envolvido no escândalo das "rachadinhas".
O atual presidente do Senado também foi o responsável por engavetar pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) STF e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lava Toga, criada para investigar o Judiciário.
Por essas atuações, Alcolumbre ganhou crédito para costurar apoio à candidatura de Pacheco. Com a participação dele, partidos como Republicanos e PROS embarcaram na candidatura do DEM – que, agora, trabalha para conseguir puxar votos de PP e PL. Ambas as legendas integram o mesmo bloco do adversário MDB.
Agenda de Pacheco para o Senado é uma incógnita
A atuação de Alcolumbre nos bastidores evidencia uma campanha calcada, sobretudo, pela costura política, e não por agenda para o Senado. “Ele [Pacheco] vem guardando isso [agenda de propostas que considera prioritárias]. Não falou para ninguém nem no partido”, diz um parlamentar do DEM. “Esse tipo de coisa não chegou até nós”, diz um interlocutor de um partido aliado.
Pacheco ainda não teria apresentado suas propostas por ainda não ter oficializado a candidatura. “É um pré-candidato que ainda está em fase de articulação e, por isso, acha prematuro apresentar sua agenda e propostas”, diz um aliado.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), líder em exercício de seu partido e integrante de um bloco que pode ter até 24 votos, também desconhece as propostas de Rodrigo Pacheco. Mas diz que vai procurá-lo para conhecer o que o candidato defende. “Eu não tive essa conversa com ele [sobre agenda para a Casa]. Mas eu, particularmente, vejo no Rodrigo uma pessoa bem preparada”, diz. “Apesar de novo, ele é uma pessoa que tem toda uma capacidade intelectual e técnica. É um bom advogado.”
O bloco do qual Izalci faz parte, liderado por PSDB e Podemos, cobra do próximo presidente do Senado o compromisso de uma Casa independente e autônoma em relação ao governo federal. Também pede o respeito à proporcionalidade partidária – tanto para ocupação de cargos quanto para nomeação de relatores nos projetos importantes.
“Vou conversar com o Rodrigo para saber até que ponto ele teria esse compromisso com nós, uma vez que ele também tem acordo com o governo. Precisamos saber se ele será submisso ou não [ao Executivo]”, diz Izalci.
Os pleitos do bloco de PSDB e Podemos podem vir a ser atendidos por Pacheco, caso vença a disputa. “Ele certamente seria mais independente do que o Davi [Alcolumbre]”, assegura um interlocutor do DEM. “Ao contrário do Davi, o Rodrigo tem a característica de ser uma pessoa ponderada, que escuta e conversa com todo mundo, é um cara de mais diálogo.”
Um correligionário diz que Pacheco é um “lorde”. Mas alerta que, por vezes, isso até o atrapalha. “Ele é muito diplomático e esse lado ‘lorde’ dele é até algo que atrapalha e não é bem visto por alguns senadores”, diz um congressista do DEM.
Apoio do PT é indício de compromisso com a agenda econômica; resta saber qual
A adesão do PT à candidatura de Rodrigo Pacheco sugere que Pacheco defenderá uma agenda econômica, mas falta saber qual. Ao se posicionar a favor do candidato do DEM, a legenda destaca que irá apoiá-lo em razão “da grave situação econômica, social e política do país”.
“É fundamental o compromisso da próxima Mesa do Senado em pautar debates e votações de alternativas concretas de recuperação da economia e estímulo ao desenvolvimento com sustentabilidade ambiental”, disseram, em nota, os senadores Rogério Carvalho (PT-SE) e Jaques Wagner (PT-BA), líder e vice-líder do partido, respectivamente.
Ainda não é claro, contudo, qual seria a agenda econômica apoiada por Pacheco. Na nota, o PT fala que “a retomada do teto [de gastos] em 2021 agravará o quadro [econômico]”.
Pelo perfil de Pacheco, interlocutores não contam que ele defenderá a flexibilização do teto de gastos, mas também não é descartado que ele atenda alguns pleitos dos petistas – na economia ou não – para retribuir o apoio dado pela legenda.
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