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Depoimentos

Governistas criticam posição política de especialistas na CPI da Covid

CPI da Covid
Depoimentos à CPI da Covid-19 desta sexta-feira (11) foram marcadas por críticas dos pesquisadores convidados ao governo federal na condução da pandemia. (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

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Depois de um início marcado por críticas dos convidados ao governo federal e depoimentos contrários ao tratamento precoce contra o coronavírus, a CPI da Covid desta sexta-feira (11) abriu a sessão vespertina para questionamentos dos parlamentares aos dois convidados do dia: a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo, Natália Pasternak e o médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz, Cláudio Maierovitch.

Senadores governistas aproveitaram para contrapor as falas iniciais dos pesquisadores, criticar e enfatizar as posições políticas dos convidados, além de defender novamente o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.

Um dos primeiros a se manifestar nesse sentido foi o senador Jorginho Mello (PSL-SC). Ele criticou o tratamento dos demais parlamentas aos pesquisadores no depoimento de hoje e fez uma comparação com o depoimento de Nise Yamaguchi, no início do mês. “Essa mesma tranquilidade não teve com a outra médica que esteve aqui”, reclamou.

Mello também destacou reportagens publicadas com a opinião dos dois especialistas, destacando que o posicionamento contrário de ambos ao governo federal é bastante óbvio. “Eles são literalmente adversários do governo Bolsonaro e isso está claro nas manifestações deles na imprensa”, disse.

Em resposta, Natália Pasternak afirmou que a questão não é pessoal e sim contra as políticas públicas adotadas pelo governo. “Quando a ciência é distorcida para embasar políticas públicas erradas, os cientistas precisam sim se posicionar. Então não é uma questão pessoal com Jair Bolsonaro. É uma questão com a política pública deste governo que está sendo promovida pelo presidente da República e que tem uma responsabilidade, porque pediu para estar lá e então precisa se responsabilizar pela mensagem que passa para a população”, disse.

Em resposta a um questionamento da senadora Kátia Abreu (PP-TO) sobre mortes evitáveis no Brasil, a microbiologista citou um estudo coordenado pelo epidemiologista Pedro Hallal que mostra que três a cada quatro óbitos poderiam ter sido evitados se houvesse políticas como testagem em massa, rastreamento e isolamento social; investimento em vacinação ao invés de "tratamento precoce"; além de uma campanha única de conscientização das medidas não farmacológicas, como uso da máscara, higienização das mãos e distanciamento social.

“Nunca se liberou tanto dinheiro”, diz senador na CPI da Covid

Já o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) começou sua pergunta defendendo a atuação do governo federal no combate da pandemia e afirmou que nunca se liberou tanto recurso para a saúde como no último ano. “Dinheiro houve e foi repassado para estados e municípios”, disse. O parlamentar também questionou a pesquisadora Natália Pasternak se ela considerava tecnicamente correto afirmar que a ciência comprova a ineficiência da ivermectina, quando há cinco metanálises favoráveis ao medicamento, citando alguns estudos.

Pasternak respondeu que não se comprova ineficácia na ciência. “Em relação a comprovação da ivermectina, a gente não comprova ineficácia em ciência. A gente não pode comprovar uma negativa. Por isso que quando a gente fala para a imprensa que a cloroquina é comprovadamente ineficaz, a gente está usando uma liberdade jornalística, para que as pessoas entendam que as evidências acumuladas até agora indicam que a cloroquina não é uma medicação que serve para Covid-19”, disse.

“Não cabe aqui ficar avaliando trabalho por trabalho. Precisamos usar o conjunto de evidências. E o conjunto de evidências que temos hoje é de que a ivermectina não é um medicamento apropriado para o tratamento dessa doença”, reforçou.

Médico ressalta falta de coordenação nacional contra propagação do vírus

Por videoconferência, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) iniciou sua fala afirmando que estados e municípios forçaram a barra para ter o controle pleno das medidas de enfrentamento da pandemia em seus territórios. Isso ocorreu, segundo ele, por decisão do Supremo Tribunal Federal. “Não há como fugir dessa realidade”, disse. Na realidade, porém, o STF referendou que a gestão da pandemia é compartilhada entre União, estados e prefeituras.

Ao questionar o médico Cláudio Maierovitch sobre uma declaração anterior, em que o especialista lamentava a falta da adoção de critérios homogêneos nacionais para combater a crise, Rogério questionou o grau do impacto especificamente na pandemia.

O médico sanitarista respondeu que não houve e não há um plano nacional para enfrentar a pandemia. “Não há uma coordenação nacional que vise reduzir a transmissão do vírus. Isso pra mim é muito cristalino”, disse o médico. “Houve medidas como destinação de recursos para os estados e municípios para equipar hospitais, aquisição de insumos, mas não houve nenhuma medida nacional para reduzir a transmissão e diminuir a circulação do vírus. Para isso seria necessária uma coordenação nacional”, afirmou.

“Para mim está absolutamente claro que a decisão do STF teve impacto nessa equação”, rebateu o parlamentar. “O STF retirou a possibilidade do Ministério da Saúde dar o aparato técnico mínimo necessário”, disse.

No encerramento da CPI, a microbiologista Natália Pasternak disse esperar que a CPI consiga cumprir seu objetivo que é o de responsabilizar os culpados por ignorar a ciência, por propagar o negacionismo e por causar mortes que poderiam ter sido evitadas com medidas baseadas em evidências científicas.

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