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Parlamentares do PT se articulam para tentar criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso a fim de investigar a força-tarefa da Lava Jato de Curitiba com base em diálogos vazados atribuídos a procuradores do Ministério Público Federal e ao ex-juiz Sergio Moro. A estratégia para tirar a CPI da Lava Jato do papel envolve obter apoios até do Centrão e de bolsonaristas.
O cálculo político dos petistas é de que grande parte dos partidos do Centrão foi atingida pelas investigações e, portanto, haveria interesse na instalação da CPI. O PT também aposta que bolsonaristas podem apoiar a investigação porque seria uma forma de atingir Moro – ex-ministro da Justiça, desafeto de Jair Bolsonaro e potencial adversário do presidente nas eleições de 2022.
No Senado, o movimento está mais adiantado. Na terça-feira (9), o senador Rogério Carvalho (PT-SE) começou a recolher assinaturas parar abrir a comissão parlamentar. Mas, até a quarta-feira (10), apenas os seis senadores do PT haviam assinado o requerimento de criação da CPI da Lava Jato. Para que a investigação possa começar, são necessárias as assinaturas de 27 dos 81 parlamentares da Casa – além da aprovação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Apesar da baixa adesão até agora, dentro do Senado parlamentares de outros partidos articulam ofensivas contra a Lava Jato, cuja força-tarefa de Curitiba foi extinta no dia 3 de fevereiro último. Isso anima os petistas, pois eles acreditam que mais senadores podem assinar o pedido de CPI.
O líder da maioria no Senado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), por exemplo, recentemente protocolou um projeto de lei para anistiar os hackers que invadiram os celulares de Moro e de outras autoridades. Na justificativa que acompanha a proposta, o parlamentar argumenta que os acusados contribuíram para o "aperfeiçoamento das instituições brasileiras", pois os diálogos são "confissões inequívocas de perseguição política", de "desprezo pelos direitos fundamentais das pessoas acusadas".
Renan Calheiros foi investigado pela Lava Jato e é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) em um processo decorrente da investigação.
Como está a articulação da CPI da Lava Jato na Câmara
Na Câmara, não há a coleta de assinaturas para a CPI da Lava Jato. Mas o líder do governo Bolsonaro na Casa, Ricardo Barros (PP-PR), recentemente criticou de forma dura a operação e defendeu a punição a juízes e procuradores que cometeram ilegalidades.
“Não vamos permitir que as conversas da Lava Jato, que foram autenticadas pelo ministro [do STF Ricardo] Lewandowski, desapareçam. São crimes cometidos pela quadrilha da Lava Jato”, disse Barros em entrevista à rádio CBN. Ele ainda afirmou que a prisão do ex-presidente Lula foi um “casuísmo” para tirar o petista da eleição presidencial de 2018. O líder do governo é integrante do PP, um dos partidos do Centrão que foi investigado pela Lava Jato.
E é justamente dos partidos do Centrão que o PT pretende se aproximar para conquistar as assinaturas necessárias para abertura da CPI. “Se não for pelo Senado, vamos trabalhar pela Câmara. Talvez possamos contar com o apoio dos integrantes do Centrão e até dos deputados bolsonaristas, que viraram críticos do Moro”, diz um integrante do PT na Câmara.
Caso a movimentação dos petistas dê certo, caberá ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aceitar ou não o pedido de CPI. O deputado alagoano já teria sinalizado ser favorável a tirar a proposta do papel.
Deputados bolsonaristas, porém, descartam assinar a CPI. Para Carla Zambelli (PSL-SP), isso é um “ato isolado” dos petistas. Já Bibo Nunes (PSL-RS) diz não acreditar na abertura de uma CPI sobre o assunto. “Não acredito nessa CPI. O combate à corrupção está cada vez mais intenso no governo Bolsonaro”, afirma ele.
Na Câmara, para uma CPI ser criada são necessárias as assinaturas de 171 dos 513 deputados.
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Parlamentares criticam proposta do PT
Na avaliação de parte dos parlamentares, o PT se precipitou em tentar abrir uma CPI contra a Lava Jato.
“Eu continuo com a minha convicção de que, apesar dos equívocos conhecidos, a Lava Jato foi uma conquista da sociedade brasileira. Apesar dos erros, não é por isso que eu vou colocá-la no banco dos réus. Por isso que vejo esse pedido de CPI como uma precipitação ou uma empolgação da bancada do PT”, diz o líder do PP no Senado, Esperidião Amin (SC).
A empolgação a que ele se refere seria em função do julgamento da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que, na terça-feira (9), liberou o acesso do ex-presidente Lula às mensagens hackeadas de integrantes da Lava Jato.
Líder do Cidadania no Senado, Alessandro Vieira (SE) diz que a CPI é uma tentativa de fazer com que o brasileiro “esqueça os bilhões roubados”. “É um movimento que busca reescrever a história com base em mentiras. O sistema corrupto que suga o Brasil há décadas está mais ativo que nunca. Querem que o brasileiro esqueça os bilhões roubados. Nosso papel é garantir que isso não aconteça", diz Vieira, que é integrante do "Muda, Senado", grupo de senadores que defende o combate à corrupção.
Outros parlamentares entendem que o Brasil tem outras prioridades neste momento. “Eu tenho minhas críticas à Lava Jato e à forma como ela foi politizada. Mas o PT achar que este é o momento para tratar de uma CPI com tantos outros problemas é trocar os pés pelas mãos”, diz um líder partidário que pediu para não ser identificado.
Tentativa anterior de abertura da CPI da Lava Jato acabou frustrada
Não é a primeira vez que o PT tenta emplacar uma CPI para investigar a Lava Jato. Em setembro de 2019, sob o impacto das primeiras mensagens vazadas atribuídas a Moro e ao procurador Deltan Dallagnol, publicadas pelo site The Intercept Brasil, a bancada petista na Câmara conseguiu reunir 176 assinaturas em apoio à CPI, número suficiente para a criação do colegiado.
Mas o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não apoiou a medida e o assunto esfriou, com vários parlamentares "arrependidos" retirando suas assinaturas do pedido de instalação da comissão.