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CPI das Fake News

Frota acusa “milícia digital” no Planalto e põe mais lenha na fogueira da polarização

Deputado Alexandre Frota na CPI das Fake News
Alexandre Frota (PSDB-SP) exibe fotografias vinculadas ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) na CPI das Fake News: bate-boca e palavrões. (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

Ex-bolsonarista, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News, nesta quarta-feira (30), disparando pesadas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) e aos seus aliados mais próximos.

Frota disse que existe um grupo de assessores de Bolsonaro que é pago com dinheiro público para disseminar informações falsas na internet. Ele também discutiu acaloradamente com membros de seu antigo partido, como a deputada Bia Kicis (PSL-DF) e, principalmente, com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O depoimento do tucano ocorreu no dia em que Brasília amanheceu sob o impacto da reportagem do Jornal Nacional que tentou vincular Jair Bolsonaro ao assassinato da vereadora Marielle Franco. Frota foi questionado sobre a morte de Marielle e os membros da oposição, em suas perguntas, aproveitaram para citar o crime e as informações recentes – o que despertou críticas dos governistas, que alegavam que o tema não fazia parte do objeto de investigação da comissão.

Ainda durante a sessão da CPI, o Ministério Público do Rio esclareceu que o porteiro que citou o nome do presidente no caso Marielle mentiu em depoimento à Polícia Civil. E o procurador-geral da República, Augusto Aras, informou que o Supremo Tribunal Federal (STF) e a própria PGR já haviam arquivado uma notícia de fato, enviada pelo MP do Rio, que informava a existência da menção ao nome do presidente na investigação.

Mas o caso Marielle e as declarações de Frota dominaram os discursos dos parlamentares nesta quarta, reforçando a polarização que já existe no Congresso Nacional. Bolsonaro acabou recebendo a solidariedade de deputados que, mesmo integrando a direita, haviam se distanciado do governo. E a oposição encontrou mais um ponto para criticar o presidente da República.

Enquanto Frota falava à comissão, deputados de partidos como PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT e Rede concediam entrevista para falar sobre o caso Marielle Franco. Nas falas dos parlamentares, reservas quanto a uma acusação direta de responsabilização do presidente e seus familiares, mas críticas em demasia à reação de Bolsonaro às informações divulgadas e à postura do ministro da Justiça, Sergio Moro, que pediu à Procuradoria-Geral da República investigações sobre a menção ao nome do presidente no caso.

CPI das Fake News teve fake news, palavrões e risadas

O depoimento de Frota na CPI das Fake News durou mais de cinco horas. O parlamentar adotou uma postura crítica a Bolsonaro e buscou passar aos integrantes a imagem de que conhecia “por dentro” a estrutura bolsonarista para disseminação de notícias falsas – tanto por ter apoiado Bolsonaro e ser do PSL até agosto, quanto por ter se tornado um alvo dos ataques virtuais.

Frota, ao responder pergunta da relatora da CPI, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), disse que confirmava a informação da existência de um gabinete vinculado ao Palácio do Planalto que, com três funcionários, faria a disseminação de notícias falsas na internet.

O filósofo Olavo de Carvalho – a quem Frota criticava ainda antes de deixar o PSL – foi também bastante mencionado pelo deputado durante o depoimento. Frota acusou Carvalho de ser o comandante do que chamou de “direita xiita”, o grupo mais disposto a conduzir ataques virtuais. O deputado Paulo Ramos (PDT-RJ) pediu a convocação de Carvalho para a comissão. A requisição será analisada em outra sessão da comissão, ainda sem data definida. Carvalho mora nos EUA, mas seu depoimento poderá ser feito por videoconferência, segundo a deputada Lídice.

Uma das críticas que Frota fez a Carvalho foi, ironicamente, uma “fake news”: o deputado exibiu uma imagem de uma mensagem escrita em um perfil falso do filósofo, com palavrões e uma provocação ao cantor Caetano Veloso.

Os palavrões também apareceram quando Frota disse que foi cobrado diretamente por Bolsonaro por ter pedido a prisão do motorista Fabrício Queiroz, acusado de conduzir um esquema de “rachadinhas” quando era assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O deputado disse que, após ter falado na tribuna da Câmara sobre seu desejo de ver Queiroz preso, recebeu uma ligação de Bolsonaro, pedindo silêncio em relação ao tema. Flávio também teria procurado o deputado, dizendo “papai não gostou disso”. E a cobrança mais incisiva veio quando Frota e Bolsonaro se encontraram em um evento no Palácio do Planalto.

Segundo o deputado, o presidente o chamou em reservado e disse: “fecha essa matraca, p… Eu ainda quero continuar casado com você”. A metáfora do casamento é constantemente usada por Bolsonaro para explicar suas relações políticas. Frota disse que esse momento está registrado em vídeo e relatou ter entregado as imagens para a CPI.

Um dos maiores adversários recentes de Frota, o deputado Eduardo Bolsonaro foi à comissão apenas para discutir com o antigo colega de partido. Eduardo chegou à CPI quando a reunião já somava mais de duas horas, pediu a palavra na condição de líder do PSL, fez seu pronunciamento crítico a Frota e saiu em seguida. O filho do presidente chamou Frota de “traíra”, “caroneiro” e “alguém que quando eleito, muda de lado”.

O embate entre os deputados arrancou risos dos presentes quando Eduardo disse que Frota “era menos promíscuo quando fazia filme pornô” – e o ex-ator respondeu: "que você assistia, né?". Ao longo do restante do depoimento, Frota chamou Eduardo de “embaixador” em inúmeras ocasiões – referência à tentativa frustrada de Bolsonaro de nomear o filho como embaixador do Brasil nos EUA.

Eduardo também disse que Frota estava recebendo “massagens do PT” durante seu depoimento. De fato, o deputado do PSDB foi elogiado em diversas ocasiões pelos integrantes da oposição, que celebravam a “disposição” de Frota em falar sobre as fake news. As principais contestações da esquerda vieram do deputado Rui Falcão (PT-SP), que relembrou indicações feitas por Frota ao primeiro escalão do governo.

Caso Marielle despertou reações

O deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que foi presidente da comissão especial da Câmara sobre a reforma da Previdência e vota com o governo em questões econômicas, participou da entrevista coletiva dos partidos da oposição sobre o caso Marielle, disse que buscava uma elucidação do caso, “e que faria o mesmo se o crime fosse contra alguém do PSL”.

A manifestação de Ramos foi um raro posicionamento de membros de direita e centro-direita que não de apoio a Bolsonaro, por conta da suposta vinculação dele ao crime contra Marielle. Políticos que estavam se distanciando do bolsonarismo e outros de centro deram suporte ao presidente, nas redes sociais e nos microfones do Congresso.

Foi o caso de Kim Kataguiri (DEM-SP), deputado federal e coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), que tem contestado o governo Bolsonaro e passou por embate recente com Eduardo. O parlamentar disse ser “sensacionalismo barato” a reportagem da TV Globo sobre o assunto. Também deputado federal, Augusto Coutinho (Solidariedade-PE) chamou a notícia de “inadequada” e “irresponsabilidade”.

Outra manifestação de apoio veio do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). “Também já passei por situações difíceis onde fui penalizado por calúnias desferidas contra mim e minha família, e não tem nada mais doloroso do que o ataque a quem amamos. Mas como homem temente a Deus, isso faz com que a gente seja ainda mais firme. Não desista, @jairbolsonaro!”, escreveu no Twitter.

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