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De acordo com o presidente da CPI das ONGs, senador Plínio Valério (PSDB-AM), alguns líderes indígenas viajaram por 14 dias de canoa para denunciar à Comissão a atuação suspeita de ONGs socioambientais que atuam em regiões do Amazonas. A sessão da CPI da última quinta-feira (31) aconteceu direto de Pari-Cachoeira, no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), localizado na região que é considerada uma das mais ricas do mundo em nióbio, ouro e diamantes.
Ao requerer à CPI a diligência para realização de sessão in loco, o senador Plínio enfatizou que os líderes indígenas manifestaram, por meio de cartas, o desejo de serem ouvidos pelo colegiado.
Participaram da diligência, além do presidente da Comissão, o relator Márcio Bittar (União-AC) e o senador Francisco Rodrigues (PSB-RR).
Nas cartas, os indígenas pedem socorro e demonstram revolta e indignação contra a tutela da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e duas ONGs: O Instituto Socioambiental (ISA) e a Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN). Os indígenas também pedem a saída das organizações.
“Os indígenas fizeram denúncias graves que vão ser investigadas pela CPI, como recursos recebidos pelo ISA para um projeto de gestão indígena, mas segundo os depoentes, ninguém sabe como os R$12 milhões foram gastos, já que apenas 50 indígenas ligados às duas ONGs foram consultados e nenhum projeto foi realizado”, diz um trecho da nota enviada pelo senador Plínio à Gazeta do Povo.
Em uma das cartas, lida por uma liderança do povo Baré, os indígenas apelidaram o ISA de “Índio Sendo Roubado”. Os indígenas disseram que se sentem presos em suas próprias terras, já que qualquer projeto para geração de renda ou exploração sustentável teria que passar por consulta prévia no ISA.
Ao todo, o ISA é acusado de ter arrecadado cerca de R$ 28 milhões que teriam sido gastos na região de Pari-Cachoeira, porém, a comunidade local alega desconhecimento das ações da ONG.
Durante a CPI, o professor indígena Tule, da etnia Coripaco/Baniwa, denunciou que o ISA estaria ganhando muito dinheiro com a venda da pimenta com a grife Baniwa.
Segundo as denúncias, a ONG exporta a pimenta Baniwa produzida por índios para fábrica de produção de cerveja na Irlanda.
“Ganham um bom dinheiro em cima do nosso conhecimento, quantos milhões levaram? Há 30 anos ouvimos falar na nossa autonomia e nada. Só pregam assembleias para capacitação de líderes, quantos líderes temos formado? Do nosso lado não temos nada. Já roubaram nosso dinheiro e temos que trabalhar sozinhos. O que mais dói é que quando apresentamos um projeto tem que passar por eles (ISA). Quando o projeto está pronto, quem aproveitou foi o ISA levando nossos parceiros para pegar dinheiro. Tudo bacana na vida deles, carro, casa, e para nós? Nada”, relatou o professor.
Outro indígena, Deilton Coripaco, disse que seus parentes fizeram uma viagem muito longa para encontrar os senadores da CPI e revelar a realidade de suas comunidades.
“Venho para pedir socorro para meu povo coripaco. A gente mora quase em frente a cidade. As sedes do ISA e da FOIRN ficam em frente à praia, perto da gente. O ISA e a FOIRN nunca chegaram lá para nos ajudar. Quem nos dá sustentação é o batalhão. Eu queria trazer aqui a única coisa que o ISA e a FOIRN deu para nossa comunidade: uma plaquinha”, contou o indígena.
“Nós recebemos da FOIRN uma lamparina para cinco famílias. E o dinheiro, para onde foi?”, questionou outro indígena.
Os três senadores presentes se comprometeram a destinar emendas parlamentares para atender a demandas de melhoria da vida das comunidades locais.
"Só de ouvir os depoimentos dos indígenas na terra deles já valeu a pena a vinda da CPI. É muito empolgante saber que todos eles rejeitam a tutela das ONGs sanguessugas , como sempre o ISA e a FOIRN. Isso já vale nossa viagem até aqui ", disse o senador Plínio.
O que dizem as ONGs
Procurados pela Gazeta do Povo para comentar sobre as denúncias, o Instituto Socioambiental (ISA) e a Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN) não responderam até o fechamento desta matéria. O jornal segue aberto para quaisquer manifestações das organizações.
Veja a sessão da CPI das ONGs da última quinta-feira (31) na íntegra