CPI da Covid interrogou o policial Luiz Dominguetti, que acusou um servidor do Ministério de Saúde de cobrar propina para negociar vacinas.| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
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O presidente da CPI da Covid do Senado, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que pode promover uma acareação entre o policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira, e outras pessoas citadas no depoimento dele à comissão, nesta quinta-feira (1º). O policial diz ter participado de uma reunião com membros do Ministério da Saúde em que foi pedido a ele propina para que a pasta fechasse um contrato de aquisição de vacinas contra a Covid-19. Na ocasião, Dominguetti estava atuando como representante da Davati Medical Supply, empresa que se apresenta como intermediária da farmacêutica AstraZeneca no Brasil.

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A acareação deve incluir o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, e dois ex-dirigentes do Ministério da Saúde: Roberto Dias, ex-diretor de Logística, e o coronel Marcelo Blanco, que foi assessor também da diretoria de Logística. Em 25 de fevereiro, Dominguetti jantou em Brasília com Blanco e Dias, encontro que é confirmado pelos três; na ocasião foi apresentada, segundo o policial, a proposta de propina, o que Blanco e Dias negam.

Outro ponto que os senadores da CPI consideram como necessário de mais esclarecimentos é a atuação de Carvalho no processo. Segundo Dominguetti, ele o teria apresentado à jornalista da Folha de S. Paulo para quem contou a história da proposta de cobrança de propina.

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Carvalho, também de acordo com Dominguetti, é o responsável pelo envio de um áudio apresentado na CPI que supostamente comprometeria o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF). Durante seu depoimento, Dominguetti veiculou a gravação em que o deputado falaria sobre negociação de vacinas — o policial dissera antes que Miranda queria de atuar como intermediário na negociação.

Luis Miranda reconheceu que a voz era sua. Porém, declarou que o áudio era de 2020 e não tinha ligação com vacinas. Tratava-se de uma proposta comercial para aquisição de luvas por uma empresa dos Estados Unidos do qual o parlamentar é sócio. Em nenhum momento do áudio é falado em vacinas. Miranda negou qualquer irregularidade, disse que o áudio estava editado e providenciou atas notariais em cartório com a transcrição correta dos diálogos da gravação, apresentando-as à CPI.

Pressionado pelos senadores, o próprio Dominguetti reviu sua declaração. Ele afirmou que só recebeu o áudio de Carvalho e que ele havia sugerido que na gravação Miranda falaria sobre vacinas.

“Então, nós vamos ter que trazer o Cristiano aqui, juntamente com o senhor, juntamente com o Roberto, juntamente com outras pessoas, para gente fazer uma acareação a cinco. E aí, na acareação, se houver algum tipo de querer brincar com essa CPI, de querer atrapalhar as investigações, de querer desnortear o trabalho que nós estamos fazendo, as consequências não serão as mesmas de hoje”, afirmou Aziz. Dominguetti disse que está à disposição para a acareação na CPI e que olharia “nos olhos dele [Dias]” para manter sua acusação do pedido de propina.

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O presidente da CPI rejeitou o pedido de prisão de Dominguetti, que fora solicitado por alguns dos senadores como Jean Paul Prates (PT-RN), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Fabiano Contarato (Rede-ES). Os parlamentares disseram que Dominguetti estaria mentindo à comissão, especialmente nos momentos em que falou sobre Miranda.

Aziz chamou Dominguetti de “peixe pequeno” e declarou que não pediria a prisão por respeito à família do policial. Apesar de descartar a prisão, Aziz foi crítico à postura do depoente: “a sua contribuição não foi nada positiva à CPI". Dominguetti chegou a ter seu aparelho celular apreendido pela Polícia Legislativa. O aparelho, segundo ele, contém registros de diálogos e documentos que o auxiliariam a corroborar sua versão sobre o caso.

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“Tentativa de vender algo inexistente ao governo”

O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente da República, afirmou que o depoimento de Dominguetti revelava que “não houve nada de concreto” que possa modificar o curso das investigações da CPI.

Segundo o parlamentar, o apresentado por Dominguetti “refuta a tese de dolo eventual” contra o governo Jair Bolsonaro, já que não houve efetivamente o pagamento de nenhuma quantia à Davati. Flávio também declarou que, ainda que a história relatada por Dominguetti seja verdadeira, mostra uma tentativa de corrupção feita por membros “do quarto ou quinto escalão” do Ministério da Saúde, sem implicações ao presidente da República.

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O senador disse ainda que a proposta de 400 milhões de doses de vacinas, citada por Dominguetti em seu depoimento, é inverossímil. “Foi uma tentativa de vender algo inexistente ao governo”, disse.

À espera de acareação, CPI entra em fim de semana prolongado

O depoimento de Dominguetti encerrou a semana da CPI da Covid. O colegiado não terá sessão nesta sexta-feira (2) e nem na segunda-feira (5), retomando os trabalhos apenas na terça-feira (6), quando ouvirá novamente o deputado Luís Miranda. Inicialmente, a sessão com o parlamentar seria secreta, mas ao longo da reunião desta quinta Omar Aziz indicou que o encontro deverá ser aberto, aos moldes dos outros que a CPI fez até o momento.

O cancelamento da reunião da sexta é resultado de um “efeito cascata” após o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, conseguir autorização junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para permanecer calado na CPI. Maximiano deveria ser ouvido pelo colegiado nesta quinta (1º). Mas depois da concessão do direito ao silêncio, a CPI reorganizou sua agenda e antecipou a fala de Dominguetti, que estava prevista para o dia seguinte.

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