A sessão da CPI da Covid que ouviu o ex-secretário de Comunicação da Presidência da República (Secom) Fábio Wajngarten, nesta quarta-feira (12), foi quente do início ao fim. Houve embates acalorados entre os senadores, com parte deles defendendo o pedido de prisão de Wajngarten, ex-integrante do governo de Jair Bolsonaro, sob acusação de mentir no depoimento à comissão.
Os trabalhos do colegiado foram interrompidos por volta das 17 horas após o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) xingar o relator Renan Calheiros (MDB-AL) de "vagabundo". "Imagine um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros", disparou Flávio, que acusou o relator da CPI de estar usando a comissão como “palanque”. "Vagabundo é você que roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete", rebateu Renan.
Com a confusão, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AL), suspendeu temporariamente a sessão e retomou os trabalhos cerca de duas horas depois, com mais 40 minutos de depoimento de Wajngarten, até ser encerrada definitivamente por volta de 20 horas.
Apesar do clima de confusão que pairou em mais de sete horas de sessão, Aziz qualificou a reunião desta quarta como a mais produtiva desde o início das atividades da comissão. O motivo da avaliação do parlamentar foi o fato de Wajngarten ter revelado à CPI que uma oferta de vacinas que a empresa Pfizer fez ao governo brasileiro permaneceu ignorada por cerca de dois meses.
A proposta da farmacêutica, apresentada por meio de uma carta, foi endereçada a autoridades como o presidente Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão, o ministro Paulo Guedes (Economia), o então ministro Eduardo Pazuello (Saúde) e só passou a ter encaminhamentos, segundo Wajngarten, após ele ter tomado conhecimento da iniciativa por meio de uma conversa informal com o empresário Marcelo de Carvalho, proprietário da Rede TV!.
"A CPI hoje trouxe uma informação que nós não tínhamos: a de que metade da cúpula do governo sabia desde setembro que a Pfizer estava oferecendo vacinas para nós", declarou Aziz.
O episódio da oferta da Pfizer foi inicialmente contado por Wajngarten em entrevista que ele concedeu à revista Veja, em abril. Na ocasião, ele buscou eximir o presidente Bolsonaro de culpa e transferiu a responsabilidade a Pazuello e à equipe do Ministério da Saúde. Mas o detalhamento do processo foi dado por ele no depoimento desta quarta.
Segundo o ex-secretário, a Pfizer enviou a carta ao governo brasileiro em 12 de setembro. Não houve nenhuma ação até o dia 9 de novembro, quando ele foi informado da mensagem por Carvalho. Na mesma data, segundo seu relato, ele levou o caso a Bolsonaro, e a partir daí se iniciaram as tratativas para compra da vacina.
Wajngarten falou à comissão que não empreendeu negociações com a Pfizer, apenas abriu caminhos para que a empresa e membros do governo sentassem à mesa. Ele citou que seu interlocutor na empresa foi o executivo Carlos Murillo — que, por coincidência, será ouvido pela CPI nesta quinta-feira (13).
Contradições e ameaças marcam depoimento de Wajngarten à CPI
Pouco antes de suspender a sessão, Aziz disse que descartava a hipótese de pedir a prisão de Wajngarten. A detenção havia sido solicitada por diferentes senadores, como Renan Calheiros, o vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e Fabiano Contarato (Rede-ES).
"Não sou carcereiro de ninguém. Temos como pedir o indiciamento no relatório para ele ser preso, mas não por mim, e depois que for julgado. Aqui não é o tribunal de julgamento", disse o presidente da CPI.
Na visão dos parlamentares, Wajngarten mentiu à comissão. Em uma de suas primeiras respostas, ele falou que não havia chamado de incompetente o Ministério da Saúde na gestão de Pazuello, e que o uso da palavra pela revista Veja era uma estratégia para vender a publicação. Ao longo da tarde, porém, a revista divulgou um trecho em áudio da entrevista em que Wajngarten usa a expressão "incompetência" mais de uma vez e chama a situação de "7x1".
Outro momento de polêmica se deu em torno da campanha "O Brasil não pode parar", que foi veiculada no primeiro semestre do ano passado, com o mote de pedir a retomada das atividades, e acabou suspensa pela Justiça. Wajngarten declarou que as peças que se tornaram públicas não tiveram a divulgação autorizada e que ele não havia participado da concepção do plano, por ter contraído o coronavírus na época.
Mas senadores localizaram dois elementos que contradisseram o ex-secretário: postagens da conta secomvc, oficial da Secretaria da Comunicação e criada por Wajngarten, com o mote da campanha; e um diálogo entre ele e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em março do ano passado, no qual o então secretário diz estar com sua rotina profissional inalterada, mesmo estando com Covid-19.
Renan argumentou que Wajngarten mentiu “descaradamente” em vários pontos de seu depoimento, em atitude que representaria “desprestígio” à CPI. Como o ex-secretário de Comunicação falava na condição de testemunha, os atos configurariam flagrante de crime, argumentou o relator.
Na parte final da sessão, o presidente Omar Aziz acolheu uma questão de ordem formulada pelo senador Humberto Costa (PT-PE), que solicitou o encaminhamento do depoimento de Wajngarten para o Ministério Público Federal apurar "eventual cometimento do crime de falso testemunho perante essa Comissão". "A CPI não pode ser objeto de uma desmoralização", disse Costa.
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