O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), discutirá a MP da reoneração da folha com líderes nos próximos dias.| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado.
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Crescem sobre o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Congresso, a pressão de parlamentares e empresários, pela devolução da medida provisória (MP) editada pelo governo na última sexta-feira (29) para reonerar gradualmente a folha de pagamento de salários dos 17 setores que mais empregam no país.

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Uma eventual decisão nesse sentido está fundamentada no regimento do Senado, levando em conta os aspectos constitucionais de urgência e de relevância da MP e dando ao presidente do Congresso a prerrogativa de devolver proposições consideradas por ele impróprias. Ao rechaçar a sua tramitação, a medida enviada pelo governo sequer precisaria ser votada no plenário das duas Casas Legislativas em votações. A devolução representaria na prática uma espécie de anulação direta da medida de Lula por Pacheco.

Em 2008, durante o segundo mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), o também então presidente do Senado, Garibaldi Alves (MDB-RN), anunciou a devolução ao governo da MP que dava benefícios tributários a entidades filantrópicas e anistiava instituições suspeitas de fraude. Naquela época, a última vez que uma medida de governo tinha sido devolvida pelo Congresso foi em 1989.

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Após a devolução de 2008, ato semelhante voltou a acontecer em 2015, quando o então presidente do Congresso, Renan Calheiros (MDB-AL), devolveu uma MP da presidente Dilma Rousseff (PT), que reduzia os benefícios fiscais de 56 segmentos econômicos. Calheiros argumentou à época que elevar impostos via medida provisória e sem a mínima discussão no Parlamento seria apequená-lo e desrespeitar as suas prerrogativas institucionais e o próprio Estado Democrático de Direito.

A Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) na Câmara enviou ainda na sexta-feira a Pacheco ofício solicitando a devolução da MP. “A iniciativa do governo é uma afronta ao Legislativo. Essa matéria foi votada duas vezes no Congresso em 2023. O veto presidencial foi derrubado nas duas Casas em 14 dezembro por ampla maioria, revelando o desejo da sociedade por meio dos representantes”, ressaltou presidente da frente, deputado Joaquim Passarinho (PL-PA).

Segundo ele, se a decisão imposta pelo governo na medida provisória for concretizada, os setores afetados sofrerão, além da insegurança jurídica, pressões para reavaliar o emprego de milhões de pessoas. O Movimento Desonera Brasil, que reúne os 17 setores que empregam mais de 9 milhões de pessoas, também pediu formalmente a devolução ao governo do texto.

Até agora, o atual presidente do Congresso afirmou só ter “estranhado” a decisão do governo contrária à lei votada e confirmada pelos congressistas, promulgada na véspera da MP. Ele também prometeu avaliar com consultores a constitucionalidade da medida.

Pacheco avalia reação política à "estranha" investida do governo

O presidente do Senado já avisou que irá ouvir ainda em janeiro os líderes partidários sobre uma eventual “reação política” à edição da MP. “Somente depois de cumprir essas etapas é que posso decidir sobre a sua tramitação no Congresso ou não”, finalizou. O Congresso iniciou em 23 de dezembro o recesso que vai até 2 de fevereiro. A reoneração definida pela medida assinada pelo presidente Lula e pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), passa a valer a partir de 1º de abril. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), foi o encarregado de tratar do caso pelo lado do governo nos últimos dias, prometendo diálogo.

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O enfrentamento do Congresso pelo Planalto ocorre dentro de um contexto de adversidades para o cumprimento da meta fiscal do ano fixada pelo ministro Haddad, de déficit zero das contas públicas, além do significativo avanço dos congressistas sobre a pauta do Legislativo e sobre as verbas do Orçamento. Em 2023, três quartos das leis e resoluções aprovadas pelo Congresso foram de iniciativa dos próprios parlamentares. O percentual foi visto por analistas como marco histórico desde o fim do regime militar.