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Disputa interna

Como a crise no PSL afeta as votações do governo no Congresso

Encontro de Jair Bolsonaro com a Bancada do PSL.
Bolsonaro e a cúpula do PSL em reunião no início do governo: partido está rachado. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

A queda de braço pelo controle do PSL teve um novo capítulo nesta quarta-feira (16), com o pedido de destituição do líder da sigla na Câmara, o Delegado Waldir (GO). Deputados aliados ao presidente Jair Bolsonaro conseguiram 27 assinaturas para destronar o atual líder e conduzir Eduardo Bolsonaro ao posto. No fim da noite, aliados de Waldir protocolaram na Secretaria-Geral da mesa diretora da Câmara uma nova lista, que teria assinaturas suficientes para mantê-lo no posto. A decisão, agora, caberá ao presidente da Casa, Rodrigo Maia.

O pedido de mudança no comando do partido na Câmara ocorre um dia após Delegado Waldir orientar a bancada a obstruir a votação de um projeto favorável ao governo e retirar o líder do governo na Casa, deputado Major Vítor Hugo (GO), do assento destinado ao PSL na comissão especial que discute a Previdência dos militares.

Apesar de Waldir ter dito que não tomou a decisão para provocar o Palácio do Planalto, o sinal foi dado: a ruptura interna no PSL pode dificultar a vida do governo no Congresso.

Uma eventual falta de apoio dentro do próprio PSL se somaria a outros fatores que têm complicado, ao longo de 2019, a relação do governo com o Parlamento. A gestão de Jair Bolsonaro adotou um rumo diferente das antecessoras ao não negociar a troca de ministérios por apoio partidário. A estratégia foi a de apostar nas “bancadas temáticas”, isto é, grupos de parlamentares que têm afinidades ideológicas com o governo e, assim, tendem a votar de acordo com o que o Planalto deseja. O problema é que nem sempre isso tem ocorrido como Bolsonaro e sua equipe esperam.

“Essa crise pode, sim, comprometer muito os trabalhos. Qualquer tipo de ofensa já desestabiliza e tira o foco. Imagine então essas que estão sendo trocadas no PSL”, afirmou o deputado federal Gilson Marques (Novo-SC). O partido dele tem sido o mais fiel ao governo na pauta econômica – mais até do que o PSL antes da crise, já que o partido de Bolsonaro teve restrições a pontos da reforma da Previdência.

Para Marques, as complicações sepultam em definitivo a possibilidade de uma reforma tributária ainda em 2019. “Está descartado. Estávamos esperando o governo enviar a sua proposta, o que ainda não ocorreu. Agora, então, fica praticamente impossível”, destacou. Bolsonarista, mas não filiado ao PSL, Sargento Fahur (PSD-PR) endossa a avaliação: “fica tudo realmente prejudicado. É algo que pode enfraquecer o governo”.

Pauta de costumes aposta em base “suprapartidária”

O Novo deu suporte às propostas econômicas do governo Bolsonaro e a reforma da Previdência teve protagonismo dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Além disso, outras lideranças do chamado “Centrão” foram consideradas por membros do próprio governo para que a reforma prosperasse no Legislativo.

Mas este mesmo grupo tem se mostrado menos disposto a apoiar outra agenda tida como prioritária para o governo: a pauta de costumes. Em algumas discussões ligadas a esta temática, como pontos relacionados a gênero e mesmo no pacote anticrime do ministro Sergio Moro, membros da ala mais simpática a Bolsonaro permaneceram mais isolados.

Por esse contexto, o deputado Diego Garcia (Pode-PR), um dos líderes da pauta conservadora na Câmara, acredita que a implosão do PSL não deve influir na discussão da temática dos costumes.

“A agenda dos costumes aqui é suprapartidária. No meu partido, por exemplo, há parlamentares que pensam de maneira bem diferente de mim, enquanto outros, de outras legendas, pensam como eu. Essas questões acabam se dando de forma independente, e conduzidas mais pelas frentes parlamentares, como as de vida e família, católica e evangélica”, apontou.

Oposição fica entre a crítica e o desdém

Já entre os oposicionistas, a crise no partido de Bolsonaro tem motivado reações distintas. Alguns parlamentares celebram a possibilidade de irregularidades na legenda e na campanha do presidente da República virem à tona. Outros dizem que, mesmo sendo contrários ao governo, temem impactos negativos para a economia nacional. Já uma terceira corrente desmerece o ocorrido: a avaliação é de que o governo já não dispunha de uma base robusta, então não há muito o que ser impactado.

O deputado José Guimarães (PT-CE) integra este último grupo. “Nunca houve uma base, eles nunca se organizaram. Então acaba não mudando muita coisa”, disse. O parlamentar ainda ironizou as realizações do governo: “nunca foi tão fácil fazer oposição”.

Também deputado, Gonzaga Patriota (PSB-PE) disse ficar “triste” com o impasse. “Não é uma disputa entre um deputado e um partido, e sim de um partido com todo o governo. Mesmo não tendo votado em Bolsonaro e não concordando com as propostas dele, tudo isso é prejudicial, pode afetar a recuperação econômica do país”, apontou.

Possíveis destinos em pauta

A crise no PSL mantém também em debate o possível novo destino dos parlamentares que estão em vias de rompimento com o partido. Mesmo com o então líder da legenda da Câmara, Delegado Waldir (GO), afirmando que os deputados não serão expulsos – o que daria a eles a possibilidade de ingressarem em um novo partido sem perderem os mandatos – diversas alternativas estão colocadas na mesa.

O deputado Diego Garcia disse que seu partido, o Podemos, está “à disposição” dos membros do PSL. “Já conversei com alguns deputados, eles serão bem-vindos”, disse.

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