A atual crise política na Venezuela tem pouco efeito sobre os preços dos combustíveis no Brasil. No último mês, a cotação do petróleo no mercado internacional chegou a escalar quase 10%, o que levou a Petrobras a reajustar o preço da gasolina três vezes nas refinarias. O último aumento, de 3,5%, ocorreu na segunda (29).
Aqui e no resto do mundo, a escalada do petróleo é resultado da pressão de Donald Trump sobre os países que consomem óleo do Irã. O país está sob embargo desde novembro, mas os EUA ameaçam começar a punir os países que seguem comprando petróleo iraniano a partir deste mês.
Embora esteja sobre uma das maiores reservas do mundo, a Venezuela hoje produz cerca de um quarto do que já extraiu no passado, segundo Adriano Pires, diretor do Cbie (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Estima-se que o país produza hoje menos de 1 bilhão de barris/dia, em razão da falta de investimentos provocada pela instabilidade política.
A turbulência da ditadura de Nicolás Maduro já está refletida nas atuais cotações do petróleo, afirma Pires.
A opinião é compartilhada por quadros técnicos do governo, que acompanham os acontecimentos na Venezuela e as cotações internacionais do petróleo.
"A crise na Venezuela, na verdade, faz com que o preço do petróleo não caia", disse Pires.
Sem Maduro na Venezuela, tendência é de queda nos preços
Caso o regime mude de mãos e Maduro deixe o comando do país, o mais provável é que as cotações do petróleo caiam, acrescenta o analista, em razão da perspectiva de retorno de investimentos e maior produção.
Para o Brasil, isso poderia significar menor pressão para a Petrobras reajustar os preços nas refinarias, reduzindo o risco de greve de caminhoneiros. "O governo brasileiro é o único acionista de petroleira do mundo que acha ruim quando o petróleo sobe", disse Pires.
Nesta quarta (1º), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o agravamento da turbulência política na Venezuela poderia resultar em alta de preços no Brasil.
Problemas para a Petrobras
Enquanto a crise política da Venezuela não tem um desfecho, a Petrobras tem um problema mais imediato à frente.
Caso seja mantida a atual regra de reajuste para o diesel, a estatal deverá anunciar um novo aumento do combustível anunciar nos próximos dias.
O último reajuste, ocorrido após a interferência do presidente Jair Bolsonaro, ocorreu em 18 de abril, e a Petrobras se comprometeu em corrigir o preço do combustível em intervalos pouco superiores a 15 dias.
O prazo vence na próxima quinta (2) e, segundo Adriano Pires, é preciso corrigir os preços internos para adequá-los às cotações internacionais. A defasagem calculada na última segunda (29) variava entre R$ 0,09 e R$ 0,15.
Enquanto o preço do petróleo subia no mercado internacional, o dólar ficou praticamente estável no Brasil, o que não contribuiu para suavizar o aumento do combustível. "Se a Petrobras tem autonomia de fato, será inevitável o reajuste do preço do diesel e da gasolina nos próximos dias", afirmou.