Daniel Silveira, deputado pelo PSL, é alvo de investigação que apura a realização e o financiamento de atos antidemocráticos.| Foto: Reila Maria/Agência Câmara
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Membro da base bolsonarista no Congresso Nacional, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) virou alvo de mais uma investigação policial. No fim de maio, ele foi citado como disseminador de notícias falsas na internet no inquérito que apura a publicação de fake news, em andamento no Supremo Tribunal Federal, ao lado de outros colegas de Câmara. Agora, aparece como suspeito em outro inquérito, sob acusação de incentivar manifestações de rua que pedem o fechamento do Congresso e do STF.

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O deputado foi alvo de um mandado de busca e apreensão na Operação Lume, da Polícia Federal, nesta terça-feira (16), na investigação que apura a realização e o financiamento de atos antidemocráticos. Agentes apreenderam equipamentos eletrônicos na casa e no gabinete de Silveira na Câmara.

Outras 20 ordens de busca foram cumpridos pela PF. A suspeita é da prática de crimes enquadrados na Lei de Segurança Nacional. No Twitter, o deputado disse que o inquérito é "absurdo e recheado de inconstitucionalidades". As buscas foram pedidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

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Um dia antes, na segunda-feira (15), o nome de Daniel Silveira já circulava no Supremo, mas por outro motivo. O ministro Luiz Fux pediu para a PGR se manifestar sobre uma notícia-crime apresentada contra o deputado bolsonarista pela deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR). A acusação é da prática dos crimes de incitação e apologia ao crime.

Gleisi argumenta que o deputado gravou e publicou em suas redes sociais um vídeo proferindo ameaças, “com um alto grau de violência”, contra manifestantes antifascistas. No vídeo, Silveira afirma que manifestantes opositores iriam “achar o que procuram” e, em meio a palavrões, ameaçou “descarregar a arma” em “comunista” que tentar agredi-lo.

Passagem pela PM, placa de Marielle e questionamento da extensão pandemia

Deputado federal de primeira viagem, Daniel Silveira ficou conhecido nacionalmente no primeiro turno das eleições 2018, quando ajudou a quebrar uma placa de rua que homenageava a vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018 junto com o motorista dela, Anderson Gomes. Além de Silveira, participaram do ato o agora governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL).

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Foi policial militar na Baixada Fluminenses por sete anos, até 2018. Em entrevista à revista piauí disse que não teve desvios de conduta durante a passagem pela PM e afirmou: “Matei o quê? Uns doze, por aí, mas dentro da legalidade, sempre em confronto”. Silveira foi eleito com quase 32 mil votos pelo estado do Rio.

Recentemente, em meio ao avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o deputado chegou a afirmar que “a Covid-19 idiotiza as pessoas”. Depois de alguns dias recebeu o resultado positivo para a doença e mesmo assim manteve o discurso. O Brasil é o segundo país em número de infectados e mortos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

De temperamento forte, Silveira gosta do enfrentamento na atividade política. Antes de tomar posse na Câmara Federal, em 2019, Silveira ameaçou entrar no Colégio Estadual Dom Pedro 2º, em Petrópolis, no interior do Rio de Janeiro, para investigar as ações da direção. Para, segundo ele, evitar que "o marxismo cultural” fosse implantado nas escolas.

A diretora o processou. O caso corre na esfera cível na comarca de Petrópolis e também gerou uma primeira queixa-crime no Supremo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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Papel na crise que dividiu o PSL 

Foi Daniel Silveira o responsável por vazar a reunião da bancada do PSL em que o então líder do partido, Delegado Waldir (GO), dizia que iria “implodir o presidente” e chamava Jair Bolsonaro de “vagabundo”. Silveira disse que se infiltrou na reunião com o objetivo de "blindar" Bolsonaro na guerra declarada contra o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE).

Depois de gravar a reunião, que ocorreu em outubro do anos passado, ele mostrou ao presidente da República. Segundo o jornal o Estado de São Paulo, Silveira tem experiência em trabalhar disfarçado. Quando era membro da PM do Rio, atuou na área do Serviço de Inteligência, a chamada P2, unidade especializada em operações infiltradas.

O parlamentar causou polêmica em um discurso na Câmara considerado racista, em novembro de 2019, às vésperas do Dia da Consciência Negra. Segundo reportagem do UOL, ele negou haver no Brasil um genocídio da população negra e afirmou que se mais negros morrem é porque "tem mais negros com armas, mais negros no crime e mais negros confrontando a polícia".

O deputado falava sobre uma charge que denunciava o suposto genocídio negro em exposição nos corredores da Câmara e que havia sido rasgada pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). Silveira afirmou que gostaria de "apertar a mão" de colega por ter rasgado a placa. Sobre a imagem de um homem negro algemado sendo executado pela polícia, ele disse: "Não venha atribuir à Polícia Militar do Rio de Janeiro as mortes porque um negrozinho bandidinho tem que ser perdoado".

Defensor de armas de fogo

Como a maioria dos ex-policiais, Daniel Silveira é declaradamente armamentista, favorável a que a população possa comprar e portar armas de fogo livremente. Ele costuma postar fotos e vídeos com armamentos. Mas não só isso.

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No dia 31 de maio, o deputado postou um vídeo afirmando que há muitos agentes armados participando de manifestações pró-Bolsonaro. E que torce para um dos críticos do presidente tomar um tiro “no meio da caixa do peito”.

Silveira não parou por aí: disse que ele mesmo gostaria atirar contra um opositor. "Eu tô torcendo para isso. Quem sabe não seja eu o sortudo. Vocês me peguem na rua em um dia muito ruim e eu descarregue minha arma em cima de um filho da puta comunista que tentar me agredir. Vou ter que me defender, não vai ter jeito. E não adianta falar que foi homicídio, foi legítima defesa. Tenham certeza: eu vou me defender."

Foi esse vídeo que gerou a notícia-crime da deputada Gleisi Hoffmann em análise no STF.