Daniela Reinehr assumiu interinamente o governo de Santa Catarina nesta terça-feira (27).| Foto: Maurício Vieira/Secom SC
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Pela primeira vez em sua história, o estado de Santa Catarina será governado por uma mulher, ainda que de forma provisória. A vice-governadora Daniela Reinehr, 43 anos, assumiu o comando do Executivo estadual, nesta terça-feira (27), após o Tribunal Especial de Julgamento afastar o governador Carlos Moisés (PSL) por até 180 dias. Moisés responde a processo de impeachment, acusado de crime de responsabilidade, por ter concedido reajuste salarial a procuradores estaduais por decreto, sem aval da Assembleia Legislativa catarinense.

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Daniela Reinehr também figurava como ré nesse processo, mas foi absolvida pelo mesmo tribunal na última sexta-feira (23), garantindo assim o direito de assumir o cargo de governadora em exercício até que o julgamento do impeachment contra Moisés seja concluído.

Casada e mãe de dois filhos, Daniela Reinehr nasceu no município de Maravilha, no Oeste do estado. Tem sua base eleitoral em Chapecó, cidade vizinha onde reside há muitos anos. É advogada de formação, ex-policial militar e produtora rural.

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Típica candidata outsider, ela disputou pela primeira vez um cargo eletivo em outubro de 2018. Formando chapa com o ex-bombeiro militar Carlos Moisés ao governo do estado, foi eleita vice-governadora na esteira do bolsonarismo e do avanço da centro-direita no país. Moisés e Daniela venceram as eleições com mais de 2,6 milhões de votos, o equivalente a 71% dos votos em segundo turno.

Daniela Reinehr: de policial militar a produtora rural e ativista política

Em 1996, ainda antes de completar 20 anos de idade, Daniela Reinehr ingressou na Polícia Militar de Santa Catarina como soldado, onde permaneceu até 1999, quando pediu baixa após se formar no curso de Direito pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UnoChapecó). Passou então a atuar como advogada nas áreas de direito empresarial, administrativo, civil e comércio exterior.

Daniela Reinehr começou a se envolver com política em 2013, quando o país foi sacudido por manifestações de rua contra o aumento das passagens de ônibus e os gastos exorbitantes para realização da Copa do Mundo no Brasil. Após a reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, a ex-PM despontou como liderança local do movimento “Nas Ruas” a favor da Operação Lava Jato e do impeachment da presidente da República. Com o afastamento de Dilma, em 2016, passou a apoiar a candidatura de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Virou bolsonarista de carteirinha e acompanhou o hoje presidente na filiação ao PSL com vistas a concorrer nas eleições de 2018.

Mas a relação com o PSL durou pouco. Já no cargo de vice-governadora, Daniela Reinehr se desfiliou do partido em novembro de 2019 para acompanhar Bolsonaro no projeto de fundar uma nova legenda, o Aliança pelo Brasil. Tornou-se “embaixadora” e uma das principais incentivadoras do novo partido em Santa Catarina.

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Insatisfação e rompimento com Carlos Moisés

Daniela passou a entrar em atrito com o governador Carlos Moisés, que buscou se desvencilhar do bolsonarismo após tomar posse no governo de Santa Catarina. A insatisfação da vice-governadora ocorria também por causa da gestão de Moisés. Alinhada ao agronegócio, ela foi contra a tentativa do governador de taxar agrotóxicos e de adotar políticas mais restritivas na pandemia. O posicionamento minou seu relacionamento com Moisés.

Desde o início do ano, Daniela Reinehr esteve praticamente isolada das decisões da gestão do Estado, sem voz. Em diversos momentos usou as redes sociais para criticar a gestão Moisés, principalmente sobre as decisões relacionadas à pandemia. Em junho de 2020, divulgou uma carta anunciando o rompimento definitivo com o governador.

A essa altura, Daniela já estava implicada no pedido de impeachment protocolado contra Moisés e ela na Assembleia Legislativa e que foi aceito no mês seguinte. Mas no julgamento da última sexta-feira (23), ela teve melhor sorte que o governador eleito: foi absolvida enquanto Moisés foi afastado do cargo por 180 dias. A percepção política é que ele dificilmente voltará e ela será oficializada governadora de fato no primeiro semestre de 2021.

Ao comentar o arquivamento da denúncia de impeachment, e que também evitou seu afastamento temporário, Daniela disse que "foi feita Justiça" e que o processo pretendia julgá-la por "atos de terceiros". "A gente passou por uma instabilidade política muito grande que tirou, de certa forma, a estabilidade institucional e econômica" afirmou.

Daniela foi absolvida pelo voto do deputado Sargento Lima (PSL), que manteve posição pelo afastamento de Moisés, mas não teve o mesmo entendimento no voto para Daniela.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Daniela Reinehr promete mais aproximação com Brasilia e Bolsonaro

A governadora interina de Santa Catarina disse nesta terça-feira (27) que deve realinhar a gestão do estado ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Na sua primeira manifestação no cargo, disse que irá buscar recursos em Brasília e resgatar "a credibilidade" do estado, prometendo que "mudanças essenciais irão ocorrer".

Afirmou ainda que fará revisão dos decretos sobre a pandemia e que vai focar na retomada econômica. "Minha fala sempre foi de prevenção, de cuidado, mas sem prejudicar o setor econômico", disse. "Nunca fui a favor da generalização do fecha tudo. Eu acredito que precisamos cuidar dos doentes de acordo com o quadro clínico de cada um."

Daniela presidiu a primeira reunião do secretariado nesta terça-feira. A primeira mudança no governo foi a nomeação do general da reserva Ricardo Miranda Aversa para comandar a Casa Civil. Aversa foi comandante da 14ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército, em Florianópolis, onde ficou até janeiro deste ano.

Questionada sobre o alinhamento com o governo federal, ela disse que como governadora terá mais acesso. "Diante da minha lealdade também ao projeto que nos elegeu, agora, com certeza, na condição de governadora, vou ter ainda mais acesso e eu já pedi para fazer o levantamento de todas as possibilidades que a gente tem de conseguir buscar recursos no governo federal para beneficiar Santa Catarina."

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Governador interina evita polêmica e revisionismo

Na primeira entrevista coletiva que concedeu, a governadora interina Daniela Reinehr foi questionada a se posicionar se concorda com as teorias pregadas por seu pai, conhecido professor de história revisionista e que nega a existência do holocausto judeu. "Acabei de ser julgada por atos de terceiros e fui absolvida. Eu não posso responder ou ser julgada e condenada por aquilo que esse ou aquele pense", afirmou.

No início da cerimônia, ela agradeceu à família, que voltou a ser citada na resposta sobre as teorias revisionistas. "Existe uma convicção que move a mim e acredito que a todos os senhores que se chama família. Me cabe como filha manter a relação familiar em harmonia, independente das diferenças de pensamento, indiferente das defesas; eu sou uma pessoa como todos vocês, que tem problemas, que tem diferenças no meio familiar. Eu realmente espero que os atos sejam apartados como foram pela comissão mista (de impeachment). Eu não quero ser arrastada por atos de terceiros, por convicções de terceiros".

A governadora interina encerrou falando que suas convicções estão publicadas em suas redes sociais, sem responder de forma objetiva seu posicionamento sobre o tema.