O presidente Jair Bolsonaro não tem dúvida do potencial eleitoral do jornalista José Luiz Datena, apresentador de programa popular e ligado à área de segurança pública. E, usando sua metáfora preferida - a que faz referência a paquera, namoro, noivado ou casamento - Bolsonaro sugeriu que está de olho no jornalista. "Datena é a menina mais bonita da praça", disse o presidente durante a visita que fez à sede do Grupo Estado, anteontem (10). A "praça" à qual o presidente se refere é São Paulo, o maior colégio eleitoral do País.
"Nós vamos conversar com o Datena. Tenho uma simpatia por ele", completou. Questionado, Datena brincou. "Não me considero nem a menina nem o menino mais bonito da praça. Não sou exatamente o modelo típico de beleza, mas, vindo do Bolsonaro, é realmente interessante", disse. Segundo Datena, a conversa com Bolsonaro foi "informal", na qual ele disse que tem até o ano que vem para pensar em um eventual candidatura.
Bolsonaro deu a entender ainda como seria a abordagem ao apresentador. "Tudo pra chegar sem gastar nada. Já dei umas dicas pra ele. Ele queria já arranjar um partido, falei pra ele: 'Você é a menina mais bonita da praça'", disse. "Se você se quiser se candidatar pra prefeito você tem que ter… A única sugestão que te dou… Um vice gestor… E você ter poder de veto nos candidatos da legenda pra vereador. Pra picareta não se eleger na tua onda e depois ficar aí… Né? Fazendo aquela politicagem que a gente sabe como é.' Foi isso que falei pra ele", afirmou.
Datena nunca concorreu a cargo público, mas seu nome tem surgido nas últimas eleições como potencial "outsider" a entrar para a política. Em seu programa de TV e em entrevistas, Datena tem modulado seu discurso nos últimos anos, sempre que o assunto vem à tona.
Histórico
Em 2012, disse que seria um "péssimo candidato". Em 2018, fez o gesto mais explícito: "Eu me proponho a ser candidato ao Senado. Agora, se pintar a possibilidade de ser candidato à Presidência da República, talvez eu tente ajudar o meu país. Quero ser candidato para ajudar o povo", afirmou ele em junho de 2018. Um mês depois, justificou sua desistência. "Achei que não era a hora de participar dessa política do jeito que ela está aí."
Datena foi filiado ao PT entre 1992 e 2015. Em setembro daquele ano, migrou para o PP na expectativa de se candidatar à Prefeitura de São Paulo no ano seguinte. Em 2018, filiou-se ao DEM, partido do qual saiu neste ano.
Bolsonaro, que nesta semana fez um gesto explícito de que pretende deixar seu partido, o PSL, vê no apresentador uma possibilidade de replicar a fórmula que o levou à Presidência. Para Bolsonaro, o apresentador tem chance. "Ele se elege sendo de qualquer partido, tá entendendo? Sem televisão, sem Fundo Partidário, sem nada. Agora, tem que saber que tem que sempre estar com o couro duro e com gás. Eu tive até facada", disse.
Já apresentador afirmou que se tiver, de fato, o apoio de Jair Bolsonaro, será candidato pelo partido que o presidente escolher. Em crise com o PSL, Bolsonaro avalia deixar a legenda. Já Datena afirmou que se desfiliou do DEM neste ano. Ontem, Bolsonaro divulgou uma foto em uma rede social ao lado do apresentador e do presidente da Fiesp, Paulo Skaf. "Ontem (anteontem) estive com os velhos conhecidos Datena e Paulo Skaf" escreveu.
Sobre seu interesse em participar da política nacional, Datena concedeu a seguinte entrevista:
O senhor será candidato em 2020?
Já falei com quase todos os partidos ou que têm candidatos ou que vão querer compor com alguém para ser vice. Falei com todo mundo porque fui convidado para falar com essas pessoas. Mas estou ouvindo. Estou como autêntico espectador. O presidente (Jair Bolsonaro) acha que tenho potencial para ser candidato a prefeito. Falei que não é o momento certo para falar isso agora e, quando for, que é até março, tenho que tomar uma decisão. Porque, se eu sair candidato, desta vez tenho que sair mesmo.
Desta vez a candidatura sai?
Olha, as duas vezes que me apresentei como pré-candidato eu não vi com bons olhos os caminhos que estavam tomando as campanhas. Não deixei de ser candidato, fui só pré-candidato. Mas os acontecimentos que se sucederam não me agradaram. Tenho vontade de fazer política, mas para ajudar quem votou em mim. E não vi nem na primeira nem na segunda vez (que se colocou como pré-candidato) chance de ajudar essas pessoas. Com quem eu estava, eram pessoas que estavam mais interessadas em conquistar e manter o poder. Mas eu quero participar. Não quero ser joguete na mão de ninguém. Estou pensando com bastante calma, porque, se dessa vez eu sair para qualquer coisa, vereador, prefeito ou vice-prefeito, vou até o fim. É candidatura sem retorno. Falei isso para o presidente. Estou analisando e, se eu sair, eu saio realmente candidato a prefeito.
É a primeira vez que o senhor recebe um apoio explícito de um presidente da República no cargo?
No cargo, sim. É um apoio significativo. Na última pesquisa XP/Ipespe que saiu, ele continua sendo o principal influenciador da eleição em São Paulo. Não é o João Doria.
O senhor está sem partido?
Graças a Deus. Saí do DEM neste ano, mas, recentemente, recebi uma ligação de (Rodrigo) Maia para conversar quando ele voltar de Roma. Se pudesse ser candidato sem partido, eu seria.
E se não puder, para qual partido o senhor iria?
A questão ideológica no Brasil ficou relegada ao segundo plano. Tem gente ruim e gente boa em todos os partidos. Isso depende de que apoio eu teria. Se optar pelo presidente, seria o partido que o presidente optar. Se optar pelo Márcio França (PSB), seria o partido dele. Se optar pelo partido da Igreja Universal do Reino de Deus, será o partido da igreja.
Nesta semana, Bolsonaro deu sinais de que pode deixar o PSL. O senhor iria para o partido dele?
Se sair apoiado pelo Bolsonaro, saio (candidato) pelo partido que ele for. Claro que sim. Mas não seria afinidade partidária.
O senhor é apresentador de um programa de TV focado na segurança pública, principal área defendida por Bolsonaro...
Eu não aguento mais fazer programa policial. É um programa que tenho que apresentar, mas o início de minha carreira foi no esporte.
Mas o senhor concorda com as propostas dele nessa área, como a liberação do porte de armas?
Não vou discutir o que o presidente acha, mas o porte... Não adianta o cara andar com arma na rua. A maioria não vai saber se defender. É claro que não concordo com tudo o que o presidente diz. Nem ele com o que eu digo. Mas, particularmente, acho ele uma boa pessoa, um cara bem-intencionado, legal, e espero que ele dê certo.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF