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Lançado como pré-candidato à Presidência da República pelo PSL, o apresentador de TV José Luiz Datena tem sinalizado que irá concretizar sua candidatura em 2022, mas não necessariamente ao Palácio do Planalto. Ele também cogita tentar o Senado ou governo de São Paulo, numa negociação que pode envolver o apoio mútuo entre ele e Ciro Gomes (PDT). Paralelamente, também há negociações com a ala do MDB que quer lançar a candidatura da Simone Tebet (MDB) ao Planalto.
Apesar de Ciro Gomes estar no campo da centro-esquerda e o PSL querer se reposicionar como sigla de centro direita, a aliança é possível. O pedetista vem mantendo diálogo com partidos de centro e centro-direita para se viabilizar como nome da terceira via na disputa presidencial. E já ofereceu o apoio a Datena numa candidatura ao Senado por São Paulo. O próprio apresentador de TV admitiu publicamente ter recebido essa oferta; e não a descartou.
Em entrevista recente à revista Veja, Datena disse, sobre uma possível união com Ciro Gomes, que alianças são alternativas contra a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT). "Alianças políticas devem surgir para que o Brasil não fique polarizado. É uma polarização, inclusive, de rejeições", disse.
As negociações entre Datena e Ciro Gomes contam com o apoio, inclusive, do deputado delegado Waldir (PSL-GO) – que chegou a liderar a bancada do partido na Câmara e que apoiava Bolsonaro, antes de romper com o presidente. “O Ciro [Gomes] é inteligente e eu diria que é um dos mais preparados. A união seria uma estratégia para ganhar as eleições”, diz Waldir, que também apoiaria uma coligação com outros partidos como MDB e PSD.
Aliança de Datena com Simone Tebet também é possível
O PSL também estreitou os laços com a ala do MDB que aposta na candidatura da senadora Simone Tebet. A estratégia dos emedebistas em lançar a senadora à Presidência foi traçada pelo presidente da legenda, deputado Baleia Rossi (SP), e pelo ex-presidente Michel Temer, para frear acordos de caciques do partido nos estados que ensaiam uma composição com Lula – sobretudo no Nordeste.
Integrantes dos MDB e do PSL admitem que o lançamento das pré-candidaturas neste momento tem como objetivo testar nomes até a oficialização das candidaturas. Nesse período, a construção de uma possível aliança entre Datena e o MDB seguirá nos bastidores. A ideia é que o nome que tiver mais “musculatura” eleitoral seja apoiado. Antes de ingressar no PSL, o apresentador foi filiado ao MDB.
Como Datena está nas pesquisas eleitorais
No último levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas, Datena aparece em terceiro lugar entre os presidenciáveis, com 7% das intenções de voto – empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), que somou 6,8%. O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro lideram a corrida com 33,7% e 32,7%, respectivamente.
Datena apareceu à frente de outros nomes que tentam se viabilizar com a terceira via para 2022. É o caso do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que somou 3,9% nesse último levantamento; e do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), que teve 1,8%. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também cotados para a disputa, somaram 0,7% e 0,6%, respectivamente.
Entre os eleitores que responderam que “podem votar” em Datena nas eleições presidenciais do ano que vem, 52,8% é do público feminino. Além disso, a maior parte dos seus possíveis eleitores (55,5%) tem entre 35 e 44 anos. Ainda nesse grupo favorável a ele, a maioria conta com ensino médio completo (54,9%) e é evangélica (54,7%).
Datena tem histórico de desistir de candidaturas
O PSL é o sexto partido ao qual Datena se filia. Antes, passou pelo PT, PP, PRP, MDB, DEM e MDB. O apresentador já ensaiou duas vezes disputar a prefeitura de São Paulo e uma vez o Senado, mas não levou o projeto eleitoral adiante em nenhuma das ocasiões – o que levanta a dúvida no meio político se ele efetivamente vai ser candidato ou desistir.
Em 2020, Datena se filiou ao MDB com objetivo de disputar a prefeitura de São Paulo nas eleições municipais daquele ano. A articulação contou com o apoio de Baleia Rossi e do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (sem partido-RJ).
Contudo, as negociações não avançaram e Datena acabou desistindo do pleito, alegando à época que seus contratos com a TV Bandeirantes pesaram na sua decisão. Sem Datena, o MDB acabou apoiando à reeleição de Bruno Covas (PSDB) e indicou o vice na chapa, Ricardo Nunes.
Dois anos antes, nas eleições de 2018, Datena chegou a lançar sua pré-candidatura ao Senado pelo DEM, numa chapa que teria João Doria (PSDB) como candidato ao governo de São Paulo. No entanto, o apresentador acabou recuando 11 dias depois de ter colocado seu nome na disputa.
Em 2016, ele foi cotado pelo PP para ser candidato à prefeitura de São Paulo, mas também optou por continuar sua carreira como apresentador.
O próprio Datena comentou recentemente sobre a dúvida de que pode desistir novamente. "Desta vez é para valer. Já contestaram isso, falaram que eu não ia sair a nada. Mas eu não respondo a boca de aluguel; só respondo à voz do dono", disse Datena recentemente.
“Eu continuo ancorado com a possibilidade de disputar o Senado ou o governo de São Paulo. Por enquanto eu sou apresentado como pré-candidato único do PSL e não tenho medo nenhum de disputar a Presidência da República”, afirmou Datena à revista Veja.
PSL tenta se desvencilhar do "bolsonarismo"
O PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu presidente, vem tentando se afastar do “bolsonarismo”. O presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE), tem afirmado que Datena será o nome de terceira via e descarta qualquer possibilidade de Bolsonaro retornar ao partido.
A candidatura de Datena também vai servir para o PSL tentar se manter como um partido grande na Câmara. Hoje, a sigla conta com a maior bancada de deputados na Casa, 53 deputados. Mas teme que a saída de bolsonaristas na janela de desfiliação, no ano que vem, reduza o tamanho da legenda na Câmara na próxima legislatura. Outro fator que indica essa tendência é que, sem Bolsonaro para puxar votos para candidatos a deputado, a votação no PSL fique menos expressiva. Mas, com Datena, o partido tenta reverter a tendência.
"Datena hoje está mais confiante em parar sua vida jornalística e entrar em uma vida política. É um player muito forte para chegar ao segundo turno", afirmou Luciano Bivar em entrevista à CNN Brasil.
Além de Datena, Bivar negocia com o Movimento Brasil Livre (MBL), que deve lançar diversas candidaturas pelo PSL ao Legislativo no ano que vem. Entre os integrantes do movimento, o deputado Kim Kataguiri (SP) já sinalizou que negocia deixar o DEM para se filiar ao antigo partido de Bolsonaro.
Metodologia da pesquisa citada
O Instituto Paraná Pesquisas ouviu 2.010 eleitores entre os dias 24 e 28 de julho. A margem de erro da pesquisa citada na reportagem é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.