Ouça este conteúdo
Os esforços do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em eleger o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o comando da Casa têm um objetivo claro: ser eleito governador do Amapá nas eleições de 2022. “Ele só trabalha por isso”, diz um aliado de Alcolumbre à Gazeta do Povo sobre seu sonho de comandar o estado.
Sem a possibilidade de concorrer à reeleição para a presidência do Senado, é muito importante para Alcolumbre continuar a ter influência no comando da Casa para manter sua projeção e influência política. Pacheco é uma aposta pessoal de Alcolumbre. Ele conseguiu inclusive que o senador mineiro ganhasse o apoio do Planalto.
Uma das moedas de troca das articulações de Alcolumbre para eleger um aliado do Planalto para comandar ao Senado é um cargo de ministro para o senador amapaense. E, como um ministério para comandar, Alcolumbre teria poderes para levar recursos e obras para o Amapá – uma vitrine para seu projeto de se eleger governador.
Além disso, caso Alcolumbre ganhe um ministério, seu assento no Senado será ocupado pelo primeiro suplente, que é Josiel Alcolumbre, seu irmão, que foi derrotado nas eleições municipais de Macapá. Nesse cenário, Alcolumbre ganharia poderes no Executivo e manteria, por meio de seu irmão, influência no Senado.
O empenho em eleger Pacheco está diretamente associado à busca pela maior concentração de poder de Alcolumbre. Ele entende que, se fizer seu sucessor no comando do Senado, poderá negociar o ministério que quiser. Se perder, terá que aceitar o ministério que o presidente Jair Bolsonaro oferecer. A ele, foram oferecidos quatro ministérios: a Secretaria de Governo, que cuida das articulações políticas; o Ministério da Saúde; o Ministério de Minas e Energia; e o Ministério do Desenvolvimento Regional.
As outras duas hipóteses para o futuro de Alcolumbre
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo diz que, além do cargo de ministro, Alcolumbre trabalha com outras duas hipóteses futuras: eleger-se vice-presidente do Senado ou comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
A hipótese de ser vice-presidente seria uma forma de Alcolumbre manter quase intactos seus poderes no Senado em caso de vitória de Rodrigo Pacheco.
De qualquer modo, a possível eleição de Pacheco vai render a Alcolumbre ou a um aliado de sua escolha um assento na Mesa Diretora. Pela critério de proporcionalidade partidária – o respeito do tamanho de cada legenda aliada da candidatura de Pacheco –, sendo o DEM a quarta maior bancada, uma das seis vagas poderia ser entregue ao presidente do Senado. Com um ministério engatilhado, essa vaga poderia recair até para Josiel, apostam interlocutores do atual presidente do Senado. “No mínimo, o Davi fica com uma comissão permanente”, sustenta um deles.
E essa comissão permanente pode ser a CCJ. Mas essa seria a opção menos interessante para Alcolumbre. Ainda assim, trata-se da principal comissão do Senado. Todos os projetos têm de passar pela CCJ antes de ir ao plenário. E, como presidente da comissão, o senador do Amapá manteria o poder de agenda no Senado. Ou seja, ele continuaria a controlar o que será ou não enviado a votação no plenário. E, com esse poder em mãos, ele poderia barganhar cargos e verbas para seu estado.
Os ministérios que Alcolumbre quer
Reportagem do jornal Valor Econômico informou que, aos senadores mais próximos, Alcolumbre confidenciou que, se aceitar a oferta de virar ministro, gostaria de assumir a pasta do Desenvolvimento Regional, mas que não descarta o Ministério das Minas e Energia.
Aliados e fontes do Palácio do Planalto ponderam, contudo, não será tão simples para Alcolumbre assumir o Desenvolvimento Regional – ministério que tem dinheiro para tocar obras nos estados.
“O Alcolumbre pode até ter esse interesse. Mas daí ao presidente [Jair Bolsonaro] tirar o Rogério [Marinho, ministro da pasta], acho que não”, comenta um deputado com trânsito no gabinete presidencial. Marinho é um dos ministros mais bem avaliados por Bolsonaro e inclusive se especula que ele pode ser o candidato a vice-presidente na chapa de reeleição, em 2022.
Assessores de Marinho se dizem muito tranquilos quanto à permanência do ministro no Desenvolvimento Regional. Reconhecem que, na política, tudo é possível. Mas desconhecem qualquer movimento de Bolsonaro para retirá-lo, sobretudo devido ao trabalho que vem fazendo no Nordeste, que tem ajudado o governo a deixar sua marca na região.
Nessa hipótese, Alcolumbre teria de ser contemplado com outro ministério. “Minas e Energia é uma pasta mais provável para o Alcolumbre”, comenta um interlocutor do Planalto.
“Depois do que aconteceu no Amapá [o blecaute que deixou 13 dos 16 municípios do estado, incluindo Macapá, sem energia elétrica em novembro], a derrota do Josiel [na eleição municipal], essa é uma pasta que, de forma alguma, ele descarta. Ele tem predileção por esses ministérios ligados à infraestrutura”, diz um interlocutor de Alcolumbre.
Na hipótese de Rodrigo Pacheco não se eleger presidente do Senado, o capital político de Alcolumbre para barganhar com o governo tende a diminuir, até mesmo para ocupar uma pasta "menor", como a Secretaria de Governo.
O motivo "caseiro" por trás da ambição de ser governador
Tamanha ambição de ser governador do Amapá não se deve apenas à busca por poder. Interlocutores de Alcolumbre, senadores aliados e adversários explicam à Gazeta do Povo que ele não gosta de Brasília. “As pessoas são frias”, já chegou a desabafar o presidente do Senado.
“Davi sempre foi um cara muito popular. Em Macapá, todo mundo conhece ele”, explica um interlocutor. “Lá [no Amapá], é onde ele se sente em casa; não em Brasília. Então, todo movimento que ele faz é para o governo do Amapá, daqui a dois anos”, diz outro interlocutor.
O poder da família do senador no Amapá
A família Alcolumbre é de judeus que migraram do Marrocos para o Brasil no início do século 19. No Amapá, construíram um vasto patrimônio. O avô materno do presidente do Senado, Isaac Alcolumbre, trabalhou negociando vários produtos. Mas ganhou a alcunha de “rei de ouro”, por também negociar o metal.
Hoje, o patrimônio da família no Amapá se estende por várias áreas, inclusive na comunicação. Os Alcolumbre são propritários de retransmissoras da Bandeirantes e do SBT no estado – negócio que colocou a família na política.
Até a eleição de Davi no Senado, a família era aliada no estado do ex-presidente e ex-senador José Sarney (MDB).