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O deputado federal David Soares (DEM-SP) foi, nos últimos dias, de parlamentar pouco citado a um dos nomes mais comentados do Congresso Nacional. Ele é o autor da emenda que perdoa dívidas tributárias de igrejas, cujo valor está estimado em R$ 1 bilhão. A norma foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro na última segunda-feira (14), mas o próprio chefe do Executivo defendeu que seu veto seja derrubado pelos deputados e senadores.
Soares tem sido mencionado não apenas por ter elaborado a emenda, mas por ser filho daquele que pode ser um dos principais beneficiários da proposta: o pastor RR Soares, fundador e maior liderança da Igreja Internacional da Graça de Deus. A dívida da igreja de Soares com o poder público, segundo números levantados pelo site Congresso em Foco, está na casa de R$ 37 milhões.
A fusão entre igreja e vida pública é um elemento presente na trajetória política de David Soares. Integrante da bancada evangélica da Câmara, ele também defendeu causas ligadas à área em seu primeiro mandato eletivo, que foi o de vereador na cidade de São Paulo. Além disso, tem três irmãos que estão na política. David ainda alterna seus compromissos políticos com presenças em cultos e atividades artísticas ligadas à religião.
A Gazeta do Povo procurou o deputado para esta reportagem, mas não recebeu retorno.
Igreja como atividade essencial
David Soares está em seu primeiro mandato como deputado federal. Foi eleito para a função em 2018 com 99.865 votos. Ficou na terceira colocação entre os nomes do DEM em São Paulo, atrás de Kim Kataguiri e Alexandre Leite.
Em 2019, o primeiro ano de Brasília, foi titular da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Participou também da comissão que discutiu a reforma da Previdência para militares, em que propôs que as regras valessem de modo igual aos integrantes de todos os níveis hierárquicos.
Também no ano passado, Soares integrou a comitiva de Bolsonaro que viajou à Ásia. A relação do deputado com Bolsonaro, aliás, não é tão ostensiva como a de outros parlamentares da bancada evangélica. Soares não costuma discursar em defesa do presidente e, durante o período eleitoral de 2018, seu apoio a Bolsonaro foi também discreto — só se deu no segundo turno.
Já em 2020, em virtude da pandemia de coronavírus, Soares apresentou uma projeto de lei que estabelece as igrejas como fornecedoras de serviços essenciais e que, portanto, não poderiam ser fechadas. "Esses estabelecimentos possuem papel fundamental para auxiliar na propagação de informações verdadeiras e auxiliam o poder público e as autoridades na organização social em momentos de crises, uma vez que além de oferecerem em diversos casos o auxílio material, auxiliam através da assistência psicológica e espiritual, bem como na orientação para o respeito às ações governamentais", diz a justificativa do projeto, que é também assinado pelas deputadas Rosangela Gomes (Republicanos-RJ) e Maria Rosas (Republicanos-SP). A proposta não avançou na Câmara.
Família Soares tentou formar bancada própria na Câmara
David Soares é atualmente o único integrante de sua família no Congresso Nacional. Mas o objetivo dos Soares em 2018 foi ter três representantes na Câmara dos Deputados.
Na eleição daquele ano, além de David, seu irmão Marcos foi candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro, também pelo DEM, e outro irmão, André, concorreu ao mesmo cargo, mas pelo estado de Minas Gerais e filiado à Democracia Cristã (antigo PSDC).
Marcos recebeu 44.462 votos, mais do que os 44.440 que obtivera em 2014; na eleição anterior, entretanto, conseguiu se eleger, o que se explica pelas regras do sistema proporcional brasileiro. Ele exerceu o mandato entre 2015 e 2019 e esteve entre os parlamentares que votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Em discurso no plenário da Câmara um dia antes da votação do afastamento da petista, Marcos declarou que a gestão de Dilma agredia "as famílias, incentivando a distribuição de cartilhas homossexuais para crianças puras e indefesas, corrompendo suas mentes e tentando agir contra a natureza que Deus criou".
Já candidatura de André em Minas Gerais foi uma mudança grande de trajetória pelo fato de que ele, nos 12 anos anteriores, exerceu mandato de deputado estadual em São Paulo. Sua mudança de estado, porém, não deixou a família sem representantes na Assembleia Legislativa paulista: com 97.330 votos, o irmão Daniel foi eleito deputado estadual.
Como vereador, David criou "dia da independência corintiana" e deu nome de bisavô a praça
David Soares disputou sua primeira eleição em 2008, quando concorreu ao cargo de vereador por São Paulo. Não conseguiu ser eleito, mas permaneceu como suplente e acabou assumindo o posto em 2011, após a renúncia de outros parlamentares. Exerceu a função até a vitória para a Câmara dos Deputados em 2018.
Em sua atuação na capital paulista, Soares apresentou projetos de teor diversificado, contemplando causas como o direito dos animais, a mobilidade urbana e a criação de um benefício aos recém-nascidos.
Uma de suas propostas que acabou aprovada pela Câmara Municipal foi a concessão do nome de seu avô, Cornélio Ribeiro Soares, a uma praça no centro da cidade de São Paulo. David Soares foi também o coautor do projeto que criou o "dia da independência corintiana", implantado para celebrar anualmente o aniversário da conquista da Copa Libertadores pelo Corinthians em 2012.