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O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) foi acusado, no último dia 14, apenas dois dias depois de ter sido escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro como novo líder do governo na Câmara, de receber propinas da construtora Galvão Engenharia. Segundo executivos da companhia, ele teria atuado a favor da empresa em negócios com a Copel, estatal de energia do Paraná, seu estado. Ele negou ter cometido irregularidades. E, poucos dias depois de a denúncia ser tornada pública, Barros figurava como uma das principais peças da vitória que a gestão Jair Bolsonaro teve ao manter o veto presidencial à possibilidade de reajuste salarial a determinadas categorias de servidores públicos.
A situação aparentemente contraditória de Barros, indo em poucos dias da condição de acusado à de articulador-chave, é um exemplo que caracteriza bem o PP, ou Progressistas – partido do líder do governo e de outras peças de destaque na política nacional.
O PP acumula denúncias de corrupção e tem sua cúpula respondendo a processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Foi protagonista no mensalão e na Lava Jato – os dois maiores escândalos de corrupção da história recente do país.
Por outro lado, está na linha de frente no suporte ao governo Bolsonaro – mesmo com o presidente tendo sido eleito com o discurso contra as práticas da "velha política", como a corrupção.
Para o PP, contudo, estar ao lado de um governo, seja qual for, não é novidade. O partido esteve na base dos antecessores do atual presidente da República: teve líderes do governo ou ministros nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Bancada, filiados, posicionamento: as razões do sucesso do PP
O PP tem 39 deputados federais e seis senadores. É a terceira maior bancada da Câmara, atrás apenas de PT e PSL; e a quinta maior do Senado. O partido ocupa a quarta colocação na lista dos maiores do Brasil por número de filiados: são 1,34 milhão de integrantes segundo dados de julho. Esse número de filiados é inferior apenas ao de MDB, PSDB e PT.
A relevância do PP é chamativa – e aparentemente contraditória – não apenas pelas denúncias de corrupção que envolvem o partido, mas também pelo perfil eleitoral da legenda.
O PP é um partido que, propositadamente, optou por ser uma espécie de "coadjuvante de ouro" na política nacional. O partido não tem um candidato a presidente desde 1994. Mesmo nos estados, são raras as ocasiões em que o PP faz um governador – em 2018, foi apenas um, o do Acre, Gladson Cameli, que está em vias de deixar a sigla e migrar para o PSDB.
Ainda assim, nada tira o grande número de filiados e a força do PP nos legislativos pelo país, em especial no plano federal. Isso porque, em geral, o partido costuma se aliar com quem tem boas chances de vitória eleitoral. E, se não esteve junto desde a eleição, não vê problema em migrar para a base de quem se elegeu.
Outro motivo: PP é a base do Centrão
Ricardo Barros foi formalizado como líder do governo na Câmara no último dia 18. Ele substituiu Vitor Hugo (PSL-GO). Apesar de a substituição ter sido feita sob discursos elogiosos, a essência do processo era a de executar a troca de um nome de primeiro mandato pelo de um dos políticos mais experientes do Congresso.
Outra figura de importância e experiência do PP é Arthur Lira (AL), o atual líder do partido na Câmara. Lira tem se aproximado de Bolsonaro desde o início do ano. Atualmente, é visto como uma das apostas do chefe do Executivo para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara, nas eleições previstas para fevereiro de 2021. Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) também é mencionado como alternativa.
A aproximação entre Lira e Bolsonaro ajuda o governo a resolver aquele que foi um dos seus principais problemas em 2019, que é a articulação com o Congresso.
Lira é, mais do que o líder do PP, o principal expoente do que se convencionou chamar de Centrão, o bloco de parlamentares que pode apoiar qualquer presidente da República, independentemente de caráter ideológico. Nesse contexto, a aliança do partido acaba sendo seu principal diferencial.
"O PP tem uma razoável articulação política. E uma bancada coesa, que vota junto. Com isso, acaba sendo importante para vários governos", afirma o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB).
A coesão do PP é também destacada por um integrante do partido, o deputado Ricardo Izar (SP). "O PP tem um comando forte, por parte do senador Ciro Nogueira [PI, presidente nacional do partido], que consegue agregar todo mundo, dentro e fora do partido. Com isso, se forma um grande bloco de articulação. E também com pessoas capacitadas. São pessoas capacitadas e que conseguem transitar bem entre todos os segmentos do Congresso", afirma o parlamentar.
Apesar disso, Nogueira, Lira e outros integrantes do PP são acusados de comandar uma organização criminosa na Petrobras para superfaturar contratos da estatal e repassar valores aos membros do partido.
A ideologia do pragmatismo
O presidente do PP indicou, recentemente, que o partido tende a apoiar o Bolsonaro em uma eventual candidatura à reeleição em 2022. Ciro Nogueira também foi o cicerone do presidente em uma recente viagem ao Nordeste – postura diferente da adotada por ele em 2017, quando chamou Bolsonaro de "fascista e preconceituoso".
À época, Nogueira era um grande defensor das gestões petistas no plano federal, dos ex-presidentes Lula e Dilma. A visão permaneceu até 2018, quando o senador militou a favor de Fernando Haddad na disputa presidencial e de Wellington Dias (PT) na corrida pelo governo do Piauí. O estado foi o que Haddad teve seu melhor desempenho proporcional na eleição, com 63% dos votos no primeiro turno e 77% no segundo.
O professor Fleischer caracteriza a conduta do PP como "pragmática". O que se reflete também na tática de não se concentrar em disputas para o Executivo, e sim na formação de bancadas expressivas.
"O PP decidiu não gastar tempo e dinheiro participando de eleições que sabia que não tinha condições de ganhar", diz o professor. O deputado Izar endossa: "O que mais importa para um partido é ter uma bancada federal grande. Afinal, as grandes decisões acontecem no Congresso".
Ex-partido de Bolsonaro e herdeiro da base do regime militar
O PP foi o partido no qual Bolsonaro passou a maior parte do tempo de sua vida pública. O presidente esteve na legenda entre 1993 e 2003 e, posteriormente, entre 2005 e 2016. À época da primeira passagem de Bolsonaro, o PP adotou outros nomes, o que se explica pelo histórico da sigla.
A origem do atual PP (Partido Progressista) é a Arena, um dos dois partidos permitidos pela ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985. A Arena era a legenda que dava sustentação ao governo militar.
Com o fim da ditadura, a Arena foi rebatizada. Tornou-se PDS e teve em seus primeiros anos como principal ícone o ex-governador paulista Paulo Maluf, que em 1989 foi candidato a presidente da República.
Fusões com outras siglas e mudanças de marca fizeram com que o PDS fosse rebatizado para PPR, PPB e, em 2003, para PP. O plano atual da sigla é mudar seu nome para Progressistas, mas a alteração ainda não foi consolidada.