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Arthur Lira (PP-AL) é presidente da Câmara dos Deputados desde 2021
Arthur Lira (PP-AL) é presidente da Câmara dos Deputados desde 2021| Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Partidos já começaram a se articular para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados, mesmo faltando um ano e meio para a próxima eleição que definirá o comando da Casa. Nomes do Republicanos e do União Brasil já despontam como os mais cotados e a tendência é que Lira consiga fazer um sucessor com apoio do governo petista.

Ninguém ainda fala abertamente sobre o assunto, mas a Presidência da Câmara já é tema informal de algumas reuniões e conversas de bastidores, como nas rodas de bate-papo no Salão Verde da Câmara.

Um deputado do Republicanos, que integra o bloco formado por MDB, PSD, PSC e Podemos e é próximo às lideranças, disse à Gazeta do Povo em condição de anonimato que já despontam nos bastidores os nomes do presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), e do líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), que integra o outro grande bloco formado por PP, União Brasil, Federação PSDB-Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Patriota. Nascimento, segundo ele, seria o preferido de Lira por ser do mesmo bloco partidário e amigo pessoal do atual presidente – e do próprio governo.

Além disso, o líder do União foi um dos convidados para a comemoração realizada no Palácio da Alvorada depois de concluídas as votações da reforma tributária e do Carf. Tanto Pereira quanto Nascimento almejam a presidência da Câmara já há algum tempo. Eles se apresentaram como pré-candidatos nas eleições em 2021, mas acabaram apoiando Arthur Lira.

Os dois deputados não são garantia de “apoio” a Lula na Câmara, mas têm feito esforços para se aproximar do governo nos últimos tempos. Nascimento foi fundamental no convencimento da bancada do União horas antes da votação da reforma tributária. O partido estava no centro da disputa pelo ministério do Turismo, e depois de um anúncio da permanência de Daniela Carneiro no cargo ameaçou adiar a votação. Mas a resistência foi contornada em seguida pela confirmação da troca da ministra por Celso Sabino (PA), e Elmar Nascimento conseguiu garantir os votos de 48 dos 59 deputados da bancada, em favor da reforma.

Ainda correm por fora os líderes do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), e do PDT, André Figueiredo (CE), que tentam ganhar espaço na corrida pela presidência e são presenças fortes no Centrão. Para o deputado do Republicanos ouvido pela reportagem, essa divisão de candidatos dentro do mesmo bloco partidário pode acabar gerando um “racha” nos blocos e embolando a disputa.

Blocos partidários foram criados pensando na sucessão, diz analista

Para o analista político Adriano Cerqueira, os dois grandes blocos que formam maioria na Câmara, ao lado do PL, foram pensados já com vistas à sucessão de Arthur Lira.

Os blocos, segundo ele, são um forte indicativo da reestruturação partidária em curso no Brasil desde a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando legendas antes tradicionais e fortes, como PSDB e MDB, perderam força e se uniram com partidos de porte pequeno a mediano que desejavam maior poder de decisão na agenda do Congresso Nacional.

“Esses partidos agora disputam diretamente o poder, e tem uma postura diferente daquele Centrão que antes servia aos governos de plantão e negociava cargos somente”, diz, acrescentando que o que está em disputa nesses dois blocos maiores da Casa é a sucessão de Arthur Lira.

Do outro lado, a esquerda, base do governo Lula, conta com número bastante inferior de votos e a tendência é que não arrisque uma candidatura própria para substituir Lira. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse em entrevista ao portal UOL recentemente que o PT não deverá lançar candidato para a presidência da Câmara em 2025.

“Creio que o PT não deva disputar [a presidência da Câmara]. Temos 140 parlamentares, se formos disputar o Congresso Nacional e perdermos, já teve um antecedente que não foi bom”, completou o ministro ao UOL, se referindo à derrota do então deputado Arlindo Chinaglia para Eduardo Cunha, em 2015, que diminuiu a governabilidade da então presidente Dilma Rousseff (PT), criando clima para seu impeachment no ano seguinte. Teixeira defendeu ainda que o governo converse para construir nomes e compromissos.

A oposição, por sua vez, tem evitado falar do assunto. Para o vice-líder do PL Alberto Fraga (DF), um nome competitivo ainda não surgiu e "ainda é muito cedo para falar nisso".

Presidente da Câmara exerce protagonismo na política nacional

Reeleito no início deste ano com apoio recorde de 90% dos parlamentares, Lira foi hábil para elevar ainda mais importância da presidência da Câmara, lançando mão de um bom trânsito entre os parlamentares para negociar com oposição e governo.

Lira foi, por exemplo, o principal articulador da reforma tributária aprovada no começo de julho na Câmara. E ainda conseguiu negociar mais uma vitória ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando foi aprovado o projeto do voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), que favorece a União em disputas entre o contribuinte e a Receita Federal. A reforma tributária, especialmente, enfrentava forte resistência de governadores, prefeitos, parlamentares e setores produtivos, como agronegócio e serviços. Lira, porém, conseguiu costurar os acordos que possibilitaram o entendimento e votação das matérias.

Também foi Lira quem esteve por trás dos principais reveses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro semestre, como a aprovação de um decreto legislativo que sustava o decreto de saneamento de Lula e de um projeto que estabelece o marco temporal de terras indígenas, que ainda precisa ser apreciado pelo Senado. Por diversas vezes, ele cobrou maior articulação política do governo e disse que o Congresso tem autonomia para votar o que é melhor para o país.

A atuação de Lira no decorrer destes dois anos e meio à frente da Câmara – e não apenas nos primeiros meses de governo Lula – deram projeção ainda maior ao cargo, que já vinha ganhando maior protagonismo desde quando era ocupado por Rodrigo Maia, que inicialmente demonstrou grande capacidade de articulação política.

“O presidente vai ter sempre um poder forte, vai sempre alguém muito relevante. O cargo projeta e fortalece a pessoa que está lá”, afirma o analista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, lembrando também que o presidente da Câmara é a terceira figura na linha da sucessão da Presidência da República.

Sobre o atual cenário que começa a se desenhar, Noronha diz que Elmar Nascimento é um nome forte, tem diálogo com partidos do Centrão, e para o governo seria uma opção mais interessante do que Marcos Pereira, que é do mesmo partido do Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que tem suas próprias pretensões políticas.

O analista cita ainda outro nome que, segundo ele, poderia se tornar uma alternativa no cenário político atual: Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). “Lula precisa aprimorar o diálogo com o agro, especialmente no ano do marco temporal”, enfatiza.

Mas Noronha acredita que ainda é cedo para um debate público sobre a sucessão de Lira. “Se começar muito antes, acaba enfraquecendo o próprio Lira, por isso as discussões e articulações ainda não são tão ostensivas”, diz.

A próxima eleição para a presidência da Câmara só ocorrerá em fevereiro de 2025. A definição vai depender de muita articulação e acordos partidários, além da conjuntura política do momento.

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