O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retorna ao Brasil nesta quinta-feira (30), às 7h30, com a proposta de reorganizar e liderar a oposição, além de atuar na articulação para viabilizar um candidato à presidência da República até 2026. No atual cenário, ele é um possível postulante.
Por volta das 19h45 (horário de Brasília) desta quarta-feira (29), Bolsonaro estava no Aeroporto de Orlando, na Flórida (EUA), e se preparava para embarcar em direção ao Brasil. O ex-presidente tirou fotos com apoiadores e foi visto com o passaporte nas mãos. As imagens foram feitas pela CNN Brasil.
Ele também comentou a derrota nas eleições 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e falou sobre sua saída do Brasil. "O resultado das eleições foi bastante apertado, ficou um sentimento muito forte no Brasil de indignação e eu resolvi sair de lá, não passar a faixa e deixar que o Lula assumisse o governo sem ninguém fazendo uma oposição do lado dele", disse o ex-presidente antes do embarque. "Eu fiquei quase três meses aqui [nos EUA], praticamente, em silêncio. Tenho acompanhado tudo o que vem acontecendo no Brasil e, infelizmente, o Brasil não vai bem", completou.
Na volta ao Brasil, a ideia é que Bolsonaro percorra o país em uma agenda de viagens e se reúna com prefeitos, governadores, empresários e com parlamentares das bancadas do PL e da oposição na Câmara e no Senado ao longo das próximas semanas. Por ora, contudo, ainda não há datas ou maiores definições estratégicas de suas atividades.
Interlocutores do PL afirmam que ele inicia as atividades políticas apenas a partir da próxima semana e ainda vai conversar com dirigentes e com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, antes de bater o martelo e tomar as decisões.
Até o fim da semana, aliados preveem que Bolsonaro tire os primeiros dias para cuidar da família. "É um ser humano como qualquer um e qualquer outro, tem as suas responsabilidades com sua família, sua esposa e seus filhos, principalmente a filha menor de idade [Laura Bolsonaro, de 12 anos]", comenta o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL-AM), vice-líder do partido na Câmara.
O aliado do ex-presidente afirma que é esperada uma "grande recepção" em seu retorno. "Tem gente vindo do Brasil inteiro para fazer a recepção dele", destaca. Bolsonaro deve contar com uma segurança reforçada, mas não está previsto um evento de retorno, ou fala.
Polícia quer evitar carreatas e tumulto na chegada de Bolsonaro
Em conversa com a cúpula do PL e Costa Neto, Bolsonaro não pediu nenhuma celebração específica e manifestou o apoio à ideia de uma recepção espontânea. Se houver a presença de apoiadores, a expectativa é de que o ex-presidente vá até as pessoas presentes.
O superintendente da Polícia Federal, Cezar Luiz Busto de Souza, pediu à população que não vá ao aeroporto, pois o presidente não deve desembarcar pelo saguão principal. "Buscamos preservar a rotina do aeroporto de Brasília. 40 mil pessoas por dia passam por lá. e eventuais problemas podem repercutir em toda a malha aérea brasileira", afirmou.
Autoridades locais também afirmaram que não serão permitidos carreatas ou desfiles em carro aberto. As vias de acesso ao aeroporto serão monitoradas pela polícia e a aglomeração de manifestantes não deve ser permitida.
A Esplanada dos Ministérios será fechada e a polícia não deve permitir que manifestantes estabeleçam acampamentos. Após sair do aeroporto, Bolsonaro deve se dirigir para a sede do PL, onde receberá aliados. Ele receberá cumprimentos de parlamentares de seu partido e de outras autoridades em um espaço reservado.
A Esplanada dos Ministérios será fechada e a polícia não deve permitir que manifestantes estabeleçam acampamentos. Após sair do aeroporto, Bolsonaro deve se dirigir para a sede do PL, onde receberá aliados.
A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) toma posse como presidente do diretório distrital do partido na noite de quinta. Fontes ligadas a ela afirmaram que Bolsonaro pode comparecer ao evento, em Brasília. Sua mulher, Michelle Bolsonaro, presidente do diretório feminino do partido, já confirmou participação.
Bolsonaro vai cumprir agendas como presidente de honra do PL
O ex-presidente retorna ao Brasil com o status de presidente de honra do PL, posto oferecido por Valdemar Costa Neto. Os dois mantiveram uma boa e próxima relação mesmo quando Bolsonaro esteve nos Estados Unidos. Em nota, seu partido informa que ele assume formalmente a função na próxima semana e despachará em um escritório fornecido pela legenda.
Como presidente de honra, Bolsonaro receberá um salário equivalente ao de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de cerca de R$ 41,6 mil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou um projeto de lei aprovado ao fim do ano passado pelo Congresso que reajustou, parceladamente, em 18% o salário dos magistrados. Em 2025, a remuneração atingirá o teto de R$ 46,3 mil.
O deputado Capitão Alberto Neto diz que, como presidente de honra, Bolsonaro vai trabalhar de maneira "profissionalmente partidária". "Ele pretende viajar por todo o Brasil para organizar o partido pensando nas eleições de 2024, que são muito importantes, é a base da eleição de 2026. A gente precisa sair com o maior número de prefeitos e vereadores possível. O ex-presidente vai estar muito focado nessa missão", afirma.
O parlamentar sustenta que Bolsonaro será o mais importante cabo eleitoral do país para as eleições de 2024. "É muito forte sua influência nas eleições de 2024, então não tenho dúvidas que, hoje, o PL é o maior partido do Brasil e, com a força do presidente, continuaremos sendo esse grande partido", destaca.
Embora a agenda de viagens para Bolsonaro não esteja definida, segundo afirmam interlocutores de Costa Neto, uma ideia é que a caravana pelo país comece pela região Nordeste, especificamente Maceió, única capital onde Bolsonaro venceu Lula nas eleições do ano passado. O prefeito é João Henrique Caldas, o JHC, aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Bolsonaro quer ouvir "todo mundo" para a organização da oposição
Aliado do ex-presidente, o deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES) afirma que Bolsonaro está "super tranquilo" e disposto a ouvir "todo mundo" em seu retorno ao Brasil. "Ele quer conversar com alguns governadores, prefeitos, quer ouvir um bom número de parlamentares. Ele está selecionando um grupo de empresários para ouvir, quer escutar o setor financeiro e alguns setores da base do governo para, depois, claro, defender o legado do que foi o governo dele e, aos poucos, ir organizando a agenda da oposição", afirma.
Melo reforça que Bolsonaro vai executar toda sua agenda política pelo PL, mas afirma que as definições operacionais ainda não estão fechadas. "Ele vai assumir a posição dele no PL [presidente de honra], vai andar o Brasil, ouvir as pessoas. Não há nenhum plano de atrapalhar o país, vai manter a chama do governo dele acesa", diz.
O deputado Capitão Alberto Neto reconhece que ainda não há definição sobre a parte operacional da agenda, sobretudo a respeito de como Bolsonaro pode ser inserido no processo de organização da oposição. Mas, o deputado diz entender que a própria dinâmica política norteará os rumos da agenda do ex-presidente.
"Ainda não sabemos se vai ser ele pessoalmente quem vai organizar as reuniões [da oposição] ou se vai cuidar da questão macro partidária. Isso ainda não foi muito bem definido, mas está muito claro que o governo [Lula] está chegando aos seus 100 dias sem nada a apresentar ao povo, com a economia em queda", diz Alberto Neto. "E ele pode trazer a sua experiência como presidente do Brasil para organizar e comandar a oposição, orientar com sugestões de pauta e como lidar com determinados assuntos", complementa.
O deputado Marco Feliciano (PL-SP) considera que o regresso de Bolsonaro será importante para fortalecer a oposição. "Irá fazer muita gente perder o sono. Será uma mensagem para a esquerda comunista brasileira de que a direita no Brasil está mais viva do que nunca e pronta para fazer uma oposição implacável. Mas, com prudência, buscando o bem da nação, por meio da fiscalização da coisa pública, não permitindo que atos escusos de corrupção venham pairar novamente no cenário brasileiro", destaca.
Feliciano também está convencido de que o retorno de Bolsonaro fará com que as pessoas estejam mais atentas aos atos do governo Lula e cobrem o que foi prometido. "E serão mais de 50 milhões de fiscais atuando simultaneamente em todo o Brasil, e outros milhares ao redor do mundo reverberando tudo que for dito pelo maior líder da oposição, tudo em consonância com o Parlamento mais conservador da história", afirma.
Eleições de 2024 são prioridade, mas disputa presidencial está na mira
Embora a curto prazo o trabalho político-partidário de Bolsonaro nas eleições de 2024 seja a prioridade, as eleições presidenciais em 2026 também estão na mira da agenda política. E a despeito da possibilidade de disputa pelo posto da liderança política na direita conservadora, o ex-presidente ainda conta com o apoio de aliados.
O deputado federal Sargento Fahur (PSD-PR) apoia o presidente para uma possível disputa presidencial em 2026 e considera que ele terá um peso ainda maior por ser um "injustiçado". "O que espero do Bolsonaro é que realmente faça uma oposição ferrenha, consciente e técnica contra os desmandos do governo [Lula], que, no meu ponto de vista, ele terá certa facilidade, pois o governo é uma sucessão de erros e fracassos", comenta.
O deputado Capitão Alberto Neto também espera que Bolsonaro lidere a oposição no país em um projeto para 2026 e traga consigo a experiência de presidente. "Ele sabe como gerir o país, vai facilmente identificar os erros que o governo está cometendo com o objetivo de corrigir, trazer novas proposituras e fazer uma oposição diferente, que ajude a construir o Brasil, e não uma oposição que o PT fazia, de quanto pior melhor", destaca.
Feliciano diz estar de "braços abertos" à espera de Bolsonaro. "Estamos unidos pelas mesmas bandeiras. No Congresso tem pessoas leais ao [ex-]presidente e ao Brasil, que irão contribuir para a pavimentação desse caminho que levará o presidente Bolsonaro de volta à Presidência da República em 2026", comenta.
O deputado minimiza a derrota de Bolsonaro nas urnas em razão da menor diferença em toda a história e entende que o ex-presidente demonstrou ser competitivo e ter força política. "A população confia no [ex-]presidente Bolsonaro e a prova disso é que ela se faz representada na Câmara pelos 99 deputados eleitos no partido do [ex-]presidente, o PL", comenta.
Além disso, Feliciano entende que Bolsonaro segue recebendo apoio de aliados e que ele demonstrou uma "resiliência hercúlea". O deputado também considera que o ex-presidente é o responsável por uma "verdadeira revolução e renovação" no Legislativo. "O seu perfil simples, espontâneo e, acima de tudo honesto, conquistou o Brasil e trouxe de volta o amor pela pátria, despertou civismo na população e a esperança nos corações por dias mais justos", diz.
PT critica retorno de Bolsonaro ao Brasil
A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, divulgou um vídeo com críticas ao retorno de Bolsonaro ao Brasil. Ela insinuou que o ex-presidente teria fugido do país e ressaltou os programas sociais e outras ações do atual governo. No conteúdo divulgado nas redes sociais, a petista ainda fez críticas à gestão anterior.
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