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7 de setembro em São Paulo
Manifestação de Sete de Setembro na Avenida Paulista, em São Paulo, no ano passado.| Foto: Fernando Bizerra/EFE

Os mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes contra um grupo de oito empresários virou um estímulo adicional para convocar a população para as manifestações do 7 de setembro. Além disso, organizadores dos atos do Dia da Independência admitem que a ação contra os empresários, suspeitos de terem falado sobre um golpe de Estado no WhatsApp, pode levar as manifestações a ganhar um tom maior de apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Oficialmente, isso não faz parte da pauta dos atos.

Organizadores das manifestações argumentam que a ação autorizada contra os empresários é ilegal – a lei não diz que é crime falar sobre um golpe; a ilegalidade está em agir. Seria, portanto, mais um exemplo de afronta à liberdade de expressão. E a defesa das liberdades faz parte da agenda dos atos de 7 de setembro.

A pauta oficial das manifestações é o amor ao Brasil e à bandeira nacional, a celebração dos 200 anos de independência, a defesa das liberdades, o respeito à democracia e a todas as instituições, e a demanda por eleições transparentes.

Além disso, organizadores das manifestações avaliam ainda que, devido ao fato de a decisão de Moraes ter envolvido empresários que apoiam Bolsonaro, seria um exemplo do ativismo judicial que estaria em operação para atingir o presidente e impedir sua reeleição. Por isso, o caráter extraoficial de apoio a Bolsonaro tende a ser maior.

A organização das manifestações ainda vai trabalhar para que a ação policial autorizada por Moraes não acirre demais os ânimos dos manifestantes a ponto de isso causar problemas.

"De nossa parte [organizadores], não vai ter ataques [às instituições]. E vamos seguir na mesma linha da pauta definida, que não muda", diz o empresário Paulo Generoso, criador e coadministrador da página da internet República de Curitiba, um dos coordenadores das manifestações. Mas ele admite que pode haver dificuldade. "[A ação contra os empresários] complica no sentido de segurar o pessoal que está com 'sangue nos olhos'. E temos feito um esforço de segurar, para fazer um movimento pacífico a todo o tempo para não atacar as instituições", diz.

O empresário Tomé Abduch, fundador e coordenador do mvoimento Nas Ruas, não acredita que a ação da Polícia Federal (PF) autorizada por Moraes vai levar os manifestantes a causar desordem no dia 7 de setembro. Mas ele diz que o caso estimula mais pessoas a se manifestar.

"Eu acho que nós vamos ter um clima de defesa da Constituição, mas de maneira nenhuma mais acirrado no sentido de poder causar qualquer tipo de tumulto, violência e desrespeito. Estarão presentes famílias com crianças, senhores, senhoras, pais e mães. E não haverá, por parte do Nas Ruas, nenhum tipo de acirramento ou de postura de se elevar o tom. Vamos manter nossa linha de respeito, sempre, pois acreditamos nisso", afirma Abduch.

Manifestações do 7 de setembro podem ter tom mais eleitoral

A pauta dos organizadores das manifestações de 7 de setembro foi elaborada sem ter o apoio à reeleição de Bolsonaro como na agenda oficial. Porém, após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, o empresário Paulo Generoso acredita que as manifestações podem elevar o tom político-eleitoral.

"A gente entende que o que ocorre é um ativismo judicial como estratégia de campanha contra a eleição do presidente. Isso anima e nos motiva ainda mais a fazer esse ato, diz.

Generoso diz que é preciso dar uma resposta àquilo que considera ser "ilegalidades" e "absurdos" do Judiciário, como a decisão de Moraes. Ele entende que a única forma de mudar o país é reelegendo Bolsonaro.

Generoso afirma ainda que, nos atos de 7 de Setembro na Avenida Paulista e em Brasília, serão colocados "Pixulecos" – bonecos infláveis que caricaturam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vestindo um traje de presidiário. O empresário também fala em fazer uma campanha para "o Brasil inteiro" colocar Pixulecos em suas casas. "A gente já estava com saudades [dos Pixulecos], mas deixando quieto. O Alexandre de Moraes conseguiu 'ressuscitar' o Pixuleco no dia 7 de setembro", diz Generoso.

Decisão de Moraes será usada para estimular convocação nas redes

O empresário Tomé Abduch diz que a decisão de Moraes não apenas será usada a favor dos organizadores para mobilizar a população a comparecer nas manifestações de 7 de setembro, como já pode ter influenciado mais brasileiros a irem às ruas. Segundo ele, há uma percepção de maior engajamento com base no monitoramento em redes sociais feito pelo movimento Nas Ruas.

"A gente percebeu que o engajamento para a presença do 7 de setembro teve aumento bem significativo nos últimos dias e percebemos uma indignação geral da população. Nos parece um ataque direto ao Poder Executivo, o qual foi eleito com 58 milhões de votos. E, do nosso ponto de vista, um grande desrespeito à democracia do Brasil", diz.

Baseado no mapeamento nas mídias sociais e em reuniões e conversas com outros organizadores de movimentos de rua, Abduch prevê manifestações em mais de 300 cidades. Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro concentrarão os principais atos. No ano passado, foram contabilizados atos do 7 de Setembro em pouco mais de 200 municípios.

O movimento Nas Ruas já iniciou em suas páginas nas redes sociais a convocação para os atos. E, na terça (23) e quarta-feira (24), publicou declarações de Luciano Hang, dono da Havan e um dos empresários que foi alvo da decisão de Alexandre de Moraes. As páginas na internet do movimento República de Curitiba também usaram imagens e falas de Hang em publicações recentes. "A indignação é grande com o que aconteceu e com certeza isso seguirá sendo usado e explorado. A gente tem que reagir de alguma forma e vamos reagir da forma como sabemos, que é fazer pressão nas ruas, demonstrando indignação com o que está acontecendo, a favor do governo e contra o ativismo judicial", diz Paulo Generoso.

Liberdade de expressão será destacada nos atos de 7 de setembro

Dentro da pauta das manifestações do 7 de setembro, o direito à liberdade de expressão terá destaque. Paulo Generoso afirma que há um entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de que prints de conversas no WhatsApp não podem ser usados como prova.

O coordenador das manifestações critica a autorização da operação com base em uma reportagem "com supostas conversas" em um grupo privado e, além disso, entende que não houve respeito às liberdades. "Tudo isso reforça a importância de demonstrarmos nossa indignação contra o lamentável ativismo judicial. Nós ainda somos tachados como propagadores de atos antidemocráticos. É um absurdo. Iremos às ruas contra os atos antidemocráticos do Alexandre de Moraes. Talvez isso esteja na pauta também", declara Generoso.

O criador da página República de Curitiba diz que o assunto não entrará como um tema "oficial" das manifestações ao reafirmar que a pauta não será alterada, mas reconhece que o acontecimento estará presente nos discursos em apoio aos empresários. "[Os empresários] são cidadãos brasileiros comuns como quaisquer outros. O cidadão comum, que usa o WhatsApp como ferramenta de comunicação, está preocupado em ter cuidado com o pode ser falado ou não", comenta.

Já Tomé Abduch reconhece que, dentro dos discursos de defesa à liberdade de expressão, é provável que haja um destaque à decisão de Moraes. "A democracia nos permite de maneira muito clara que a gente possa discordar das decisões. E discordar não significa que temos a verdade, nem tampouco que queremos atacar alguém. Isso é democracia, principalmente quando a gente não vê os mesmos pesos, sentimentos e medidas acontecendo para ambos os lados", diz.
"Esse tipo de discussão não tem nada a ver com a individualidade e com o lado pessoal do indivíduo, e sim com a entidade e figura representativa de um ministro [do STF]", complementa. Abduch acredita que a motivação das pessoas irem às ruas defender a liberdade da expressão independente de ideologia e que a pauta pode ser determinante para engajar a população.

Empresários investigados estão convidados a irem às manifestações

Os empresários investigados por ordem do ministro Alexandre de Moraes estão convidados a participar das manifestações. Tomé Abduch destaca, inclusive, que eles terão direito ao uso da palavra. "São muito bem vindos para estarem conosco", comenta o coordenador do movimento Nas Ruas.

"Nós não temos nenhum tipo de recordação de nenhum ataque desses empresários à democracia. Não creio que pactuem com qualquer tipo de ataque à democracia, como nós também não pactuamos. Não pactuamos com nenhum ataque individual a ministros e, por conta disso, seguindo o nosso direito à livre expressão, terão que ter a oportunidade de se explicar", diz Abduch.

O fundador do Nas Ruas se mostra ainda mais contrariado com a investigação ao destacar que o STF adotou decisões ao longo dos últimos anos que possibilitaram Lula deixar a prisão e concorrer às eleições. "E agora nós estamos vendo a Polícia Federal ir na casa de empresários que, eventualmente, estão conversando de maneira particular em um grupo de WhatsApp."

Um empresário que pode marcar presença em algum dos atos de 7 de setembro é Luciano Hang, o dono da Havan. Paulo Generoso lembra que Hang fez uso da palavra na Avenida Paulista no 7 de setembro no ano passado, e não descarta que ele volte a discursar em um trio elétrico. "Ele é sempre bem vindo e é possível que esteja com a gente. Conversei com a esposa dele hoje [quarta-feira] e ele está sem telefone ainda, para ver o absurdo que aconteceu. Mas vamos fazer o possível para ele estar com a gente [na Paulista]", diz.

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