A Delegacia Modelo de Investigação e Análise Financeira, inaugurada pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, nesta sexta-feira (1º), na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, visa implementar novos métodos de investigação para acompanhar as transformações digitais e o avanço da tecnologia. “Os processos judiciais já são eletrônicos em muitos órgãos e a Polícia Federal trabalha para desenvolver um inquérito digital”, disse Christian Wurster, um dos delegados da PF responsáveis pelo projeto.
“Não haveria lugar mais apropriado. Curitiba vivenciou desde 2014 a maior investigação da história do Brasil de crime de corrupção e lavagem de dinheiro, a Lava Jato. Com resultados extremamente substanciais”, ressaltou Moro.
O novo órgão irá investir em treinamento contínuo dos policiais, principalmente para investigações de grandes bases de dados. O Curso de Investigação e Análise Financeira (CIAF) deve prepará-los para agirem em casos concretos, segundo Fernando Celestino, agente da Polícia Federal.
“Uma das missões da delegacia modelo é utilizar metodologia científica, para documentar rotinas de trabalho, botar essas rotinas de trabalho à prova através de casos reais e ter uma melhoria constante”, afirmou Celestino. Novos softwares e equipamentos devem ajudar a compilar informações e vão traduzir dados complexos, apresentando uma pré-análise do que pode ser considerado informação com potencial interesse, além de dados georreferenciados.
O que a delegacia modelo deve fazer é aprimorar os métodos de investigação financeira. Para isso, a equipe deve contar com a consultoria de um perito dentro da delegacia. A intenção é melhorar a demanda que chega ao setor técnico científico, já que o perito poderá analisar o caso como um todo. Com o aconselhamento da perícia na própria delegacia, será possível direcionar a demanda para um perito apto a trabalhar com a especificidade de cada caso, para gerar um laudo de maior qualidade.
Serão analisados também métodos para combater a lavagem de dinheiro por meio de moedas virtuais, modalidade que os delegados afirmam deve se tornar uma constante nos crimes financeiros. Um dos desafios é ampliar a colaboração com órgãos internacionais.
O delegado Christian Wurster afirma que a tarefa não é fácil, mas se faz necessária, devido à velocidade das informações na internet. Ele cita como exemplo as transações financeiras instantâneas, ataques virtuais e ações feitas via "dark web". O diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, afirmou que a iniciativa de se criar uma delegacia modelo começou em 2017, mas o desenvolvimento foi paralisado em 2018 e retomado neste ano.
"Como na época era diretor de combate ao crime organizado, testemunhei todas as etapas desse projeto”, disse Valeixo durante a inauguração. A nova unidade é vinculada à Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da PF do Paraná. A execução do projeto começou em fevereiro e a equipe foi gerenciada pela delegada da PF, Suzane de Vasconcelos, atualmente lotada na Coordenação-Geral de Repressão à Corrupção, em Brasília.
Para Valeixo, o órgão vai unificar ações estratégicas, teoria e prática sobre as investigações que tramitam na Superintendência da PF, no Paraná. O conhecimento e metodologias desenvolvidos devem ser repassados para todas as unidades da PF no Brasil. Valeixo afirma que os mais de mil policiais que devem ingressar na instituição nos próximos meses poderão participar e compartilhar os conhecimentos concebidos pela delegacia modelo nos seus respectivos locais de atuação.
O ministro da Justiça aproveitou a inauguração para elogiar o trabalho da PF “é inegável a expertise e excelência da Polícia Federal em várias áreas”. Como exemplo, citou a investigação da PF que levou à identificação do navio grego que supostamente é responsável pelo vazamento de óleo na costa brasileira.
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