Em meio às especulações sobre uma possível mudança no comando da Polícia Federal, o nome do delegado Anderson Gustavo Torres surge como um dos mais cotados para substituir Maurício Valeixo na direção-geral da corporação. Torres é o atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e goza de bom trânsito no Palácio do Planalto. A indicação dele representaria uma mudança de perfil no comando da PF. O delegado é considerado alinhado à pauta de segurança pública do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo sua biografia oficial, Torres coordenou a atividade de inteligência da PF entre 2007 e 2008 em ações contra o tráfico internacional de drogas, e investigações contra o crime organizado em Roraima, entre 2003 e 2005. Também atuou na coordenação de comissões sobre temas relacionados à segurança pública na Câmara dos Deputados. Antes de integrar a PF, ele foi papiloscopista da Polícia Civil do Distrito Federal e mantem boas relações nas duas corporações.
O delegado é amigo do secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira, desde a época em que o atual ministro era chefe de gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Torres, por sua vez, foi por oito anos chefe de gabinete de Fernando Francischini, hoje deputado estadual pelo PSL do Paraná, ex-deputado federal e também com carreira na PF como delegado.
"É um nome natural e de total confiança do presidente, que nós apoiamos", afirmou o deputado federal Felipe Francischini (PSL-PR), filho de Fernando. Já na fase de transição do governo, no ano passado, o delegado era o favorito dos filhos de Bolsonaro – Flávio e Eduardo – para assumir a PF.
Anderson Gustavo Torres foi também diretor de Assuntos Parlamentares e Institucionais da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ANDPF), entidade que em 2017 coletou meio milhão de assinaturas em favor da PEC 412/2009, que prevê maior autonomia funcional e administrativa, inclusive orçamentária, para Polícia Federal. A PEC, em tramitação na Câmara, quer eliminar pressões políticas sobre a cúpula da PF.
Em 2008, Torres assinou um manifesto junto com outros 235 delegados da PF para protestar contra a determinação do ministro do Supremo Tribunal federal (STF), Gilmar Mendes, que concedeu dois habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas, preso na operação Satiagraha. A decisão do ministro na época irritou associações de classe de juízes, procuradores e delegados.
Acusação de tortura
Entre 2007 e 2018, o delegado Anderson Gustavo Torres respondeu a processo por tortura. Segundo denúncia do Ministério Público Federal, ele e mais cinco agentes federais teriam sequestrado à luz do dia dois rapazes, Marcelo Lamartine Coelho e Clésio Divino de Castro. Algemados, os jovens foram submetidos a espancamento em uma sessão de tortura.
De acordo com reportagem da revista Época publicada em 2011, os agentes supostamente queriam descobrir os autores de um furto na casa de dois policiais federais. Para apurar o crime, Torres e os outros policiais teriam aberto inclusive uma investigação paralela, mesmo se ter competência legal para isso, já que o papel de investigar cabe à Polícia Federal.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que Torres foi absolvido e que o pedido de absolvição foi emitido pelo próprio MPF com base na inexistência dos fatos.
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