O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, vai deixar a força-tarefa da operação. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do MPF e, logo depois, pelo próprio Deltan. Ele coordenou a Lava Jato no MPF do Paraná desde que a operação foi deflagrada, em 2014.
Pelo Twitter, Deltan confirmou a saída. "Sim, é verdade que estou de saída da coordenação da Lava Jato. É uma decisão difícil, mas o certo a fazer por minha família. Continuarei a lutar contra a corrupção como procurador e como cidadão. A Lava Jato tem muito a fazer e precisa do seu e meu apoio", escreveu.
Deltan também divulgou um vídeo em que explica a razão de ter saído da Lava Jato. Ele e sua mulher vão se dedicar à saúde de sua filha de um ano e dez meses de idade – que apresentou recentemente sinais de regressão em seu desenvolvimento. O procurador afirmou que a bebê já está em acompanhamento médico, mas que o diagnóstico só ficará pronto em nove semanas. Até lá, a recomendação é que a menina passe por uma série de terapias e tratamentos que vão exigir atenção especial dos pais.
Com a saída anunciada, o procurador da República no Paraná Alessandro José Fernandes de Oliveira deve assumir as funções antes exercidas por Deltan Dallagnol. Oliveira irá chefiar uma equipe de 14 procuradores na Lava Jato.
Saída de Deltan ocorre momento crítico para a Lava Jato
A saída de Deltan ocorre em um momento crítico para a Lava Jato e para ele próprio.
Até o próximo dia 10, o procurador-geral da República, Augusto Aras, vai decidir se prorroga ou dissolve a força-tarefa em Curitiba. A decisão ocorre em meio a diversos ataques à operação, parte deles partindo da própria Procuradoria-Geral da República (PGR).
No vídeo em que postou no Twitter, Deltan fez referência a esse momento da Lava Jato. E pediu que a população continue apoiando a operação mesmo com sua saída. "Se você apoia a Lava Jato, continue a apoiar. A operação vai continuar fazendo seu trabalho, vai continuar firme. Mas decisões que estão sendo tomadas e serão tomadas em Brasília afetarão seus trabalhos. A força-tarefa tem muito por fazer; e ela precisa de seu suporte", disse ele.
Deltan também corria o risco de ser afastado do comando da operação por decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Tramita no Conselho um pedido de remoção de Deltan protocolado pela senadora Kátia Abreu (PP-TO). O pedido é baseado em três argumentos: o fato de existirem 17 reclamações disciplinares contra Deltan tramitando no CNMP; o acordo feito entre a Lava Jato e a Petrobras que previa a criação de uma fundação bilionária com dinheiro da estatal, anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF); e o fato de que Deltan prestou, ao longo do trabalho na operação Lava Jato, palestras remuneradas.
O caso havia sido retirado da pauta do CNMP no mês passado por decisão do ministro Celso de Mello, do STF. Mas Celso de Mello se submeteu a uma cirurgia e tirou licença médica. Com isso, o relator do caso passou a ser Gilmar Mendes, crítico ferrenho da Lava Jato. E Mendes pode reconsiderar a decisão do colega de STF.
Também em agosto, o CNMP decidiu, por unanimidade, negar a abertura de um processo administrativo disciplinar (PAD) contra Deltan e outros dois membros da força-tarefa movido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O processo ficou conhecido como "caso do powerpoint", programa usado por Deltan para apresentar graficamente uma denúncia contra Lula.
O resultado do julgamento do caso do powerpoint, porém, representou apenas uma vitória parcial para a Lava Jato, pois os conselheiros decidiram não instaurar o PAD apenas porque eventual punição aos procuradores já havia prescrito.
Além disso, em novembro do ano passado o CNMP já havia punido Deltan por ter dado uma entrevista à rádio CBN em que fazia críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Por 8 votos a 3, os conselheiros do CNMP decidiram dar uma advertência ao coordenador da força-tarefa.
O processo administrativo disciplinar (PAD) contra o coordenador da Lava Jato havia sido protocolado no CNMP pelo presidente do STF, Dias Toffoli. A entrevista foi concedida pelo procurador em agosto de 2018. Na ocasião, Deltan afirmou que ministros do Supremo passam uma mensagem de leniência com a corrupção por causa de suas ações.
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