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Ainda em processo de cura da recente crise aberta no partido, o DEM destacou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta para rodar o país em busca de alianças para as eleições do ano que vem. Apesar de não cravar que Mandetta será candidato, a ideia do Democratas é não deixar o protagonismo ganho pela legenda durante as eleições municipais se perder.
A estratégia ocorre depois do racha que colocou em lados opostos o ex-presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, e o presidente do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto. O candidato de Maia foi derrotado na eleição para o comando da Câmara, no mês passado, e parte da culpa foi atribuída a ACM Neto. Os dois trocaram farpas públicas e Maia ameaçou deixar a legenda na qual figurava como um dos caciques.
Segundo Mandetta, a crise no partido já foi superada e agora é hora de organizar o projeto político para o próximo ano. “Eu acho que o DEM sempre foi um partido de muito diálogo e de conversa interna. Teve um atrito durante as eleições para a Câmara, mas agora é hora de sentar, conversar e entender para onde vai o país”, afirmou ele à Gazeta do Povo. Recentemente, o ex-ministro da Saúde participou de uma live nas redes sociais ao lado de ACM Neto para falar sobre a pandemia da Covid-19 no Brasil.
Sobre as viagens pelo país, Mandetta afirmou que irá aguardar o arrefecimento da pandemia para debater com lideranças políticas locais sobre o projeto do DEM. “O que a gente vai fazer é começar uma discussão de ideias para buscar alternativas para essa crise na educação, na economia e nas relações exteriores, e para essa crise gigantesca na saúde”, explicou.
Mandetta deixou o governo Bolsonaro há quase um ano e saiu com a popularidade e aprovação de sua gestão à frente do Ministério da Saúde em alta. Dia antes da sua demissão, em abril de 2020, um levantamento do Datafolha apontou que a pasta tinha aprovação de 76% dos brasileiros.
Segundo integrantes do DEM, a estratégia de o ex-ministro assumir o debate e as articulações neste momento da pandemia é justamente para mostrar que o partido tem quadros políticos para se contrapor ao governo Jair Bolsonaro. Além disso, Mandetta afirma que pretende se juntar a organizações da sociedade civil para buscar soluções para os problemas da saúde e da economia.
“Estamos naquela indecisão de saber o que vem por aí. Até agora, a amostra grátis dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, foi muito ruim. Não adianta a gente esperar pelo governo federal, o que precisamos é nos juntar como sociedade civil e buscarmos alternativas e formas para fazer a economia girar e toda a população ter acesso à vacina”, explicou Mandetta.
DEM vê em Mandetta uma ponte entre Maia, governadores e outros presidenciáveis
Além da popularidade durante a gestão no Ministério da Saúde, o DEM acredita que a relação criada por Mandetta com os governadores poderá ajudar na formação das alianças. Isso em meio à crise entre os governos estaduais e o Palácio do Planalto.
Para isso, ACM Neto já garantiu que Mandetta poderá contar com toda a estrutura do partido para fazer essas interlocuções com os governos estaduais e prefeitos das principais capitais do país. Entre os mais próximos, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), deverá ter um encontro com o ex-ministro para falar sobre os projetos políticos. Tradicionalmente, tucanos e democratas sempre caminharam juntos nas disputas presidenciais e Doria tenta viabilizar sua candidatura para 2022.
Além de Doria, Mandetta também tem mantido interlocução com outros possíveis candidatos, entre eles o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e o apresentador de TV Luciano Huck. O ex-ministro sinalizou que irá ouvir todos os projetos e programas para o Brasil.
“Se a pessoa tem as condições para se candidatar, deve participar. Sou a favor de ter os vários olhares sobre o Brasil. Não pode existir essa coisa maniqueísta como querem fazer com a gente de ter apenas dois lados”, explica Mandetta.
Além dessas possíveis alianças, Mandetta também está incumbido da missão de não deixar Rodrigo Maia sair dos quadros do DEM. Desde que deixou a presidência da Câmara, Maia se reservou para analisar os possíveis cenários — recentemente, disse que seu destino pode ser o MDB.
Internamente, os democratas garantem que ACM Neto contornou a crise interna e que Maia não deverá mais sair do partido. Nessa linha, o ex-presidente da Câmara vai ganhar espaço para se juntar a Mandetta na construção dos acordos para 2022.
Ex-ministro acredita que pode ser um contraponto a Lula e Bolsonaro
Além de se contrapor ao nome de Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde admite que não irá recuar da estratégia de construir uma aliança de centro mesmo com a possibilidade de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no campo da esquerda. O petista recuperou seus direitos políticos após os seus processos no âmbito da Lava Jato serem anulados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Os extremos comemoram, pois se nutrem um do outro. A ruptura da liga social brasileira avança. Mais que nunca o povo de bem terá que apontar o caminho para pacificar esse país", comentou Mandetta.