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O ministro Onyx Lorenzoni (Cidadania) entre os presidentes de Senado e Câmara, Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia, todos do DEM
Três nomes de peso do DEM: o Onyx Lorenzoni entre Alcolumbre e Maia. Dois deles são governistas e um é crítico de Bolsonaro.| Foto: Agência Câmara

O DEM atualmente é um partido dividido entre quem apoia o governo do presidente Jair Bolsonaro e forças que fazem oposição ao Palácio do Planalto. A disputa atual para a presidência da Câmara tem acentuado a distância entre os grupos. O choque, porém, não deve evoluir a ponto de causar um racha definitivo na legenda. Lideranças do DEM avaliam que o partido tende a se pacificar nos próximos meses e caminhar de modo relativamente coeso na próxima eleição presidencial.

"Acho natural que um partido tenha alas diferentes. O DEM sempre teve isso, sempre foi um partido plural. No momento certo, consegue se juntar para tomar uma decisão", afirma o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que foi deputado federal pela legenda.

Mandetta é um dos representantes da ala "oposicionista" do DEM. Ele deixou o Ministério da Saúde após divergir de Bolsonaro sobre as políticas contra a pandemia de Covid-19 e, desde então, tem trocado farpas públicas com o presidente e seus aliados.

Mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), é hoje o principal quadro do DEM que contraria Bolsonaro. Na segunda-feira (25), Maia falou que a política do presidente "cega" as pessoas. O deputado federal Kim Kataguiri (SP) e o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, são também do DEM e não endossam o apoio ao presidente.

Na mão oposta, o partido tem dois ministros de Bolsonaro: Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tereza Cristina (Agricultura). Ambos, inclusive, são deputados federais licenciados. O DEM tem também dois vice-líderes do governo no Congresso, o senador Marcos Rogério (RO) e o deputado Pedro Lupion (PR), além de parlamentares que se identificam com a gestão Bolsonaro.

"Depois da eleição o partido se unifica"

Pedro Lupion reconhece que o DEM hoje é um partido dividido. O deputado apoia Arthur Lira (PP-AL) na corrida pelo comando da Câmara. O alagoano é o candidato "oficial" do governo Bolsonaro, e tem como principal adversário Baleia Rossi (MDB-SP), nome referendado por Rodrigo Maia.

Segundo Lupion, a maior parte da bancada deve votar em Lira, contrariando Maia. Para ele, porém, a divisão se encerra quando acabar o período da disputa pelo comando da Câmara. "Depois da eleição, o partido se unifica."

Presidente estadual do DEM no Rio, o vereador César Maia descarta a ideia de que a sigla tenha alas diferentes e vê o partido como "pacificado há muitos anos". Maia, entretanto, faz um juízo sobre o futuro do DEM que contraria segmentos do partido: "O DEM é oposição. Terá candidato [a presidente] ou apoiará quem assim for".

A ideia de uma candidatura presidencial em 2022, que naturalmente disputaria com Bolsonaro, é defendida pelo ex-deputado federal Pauderney Avelino, presidente do DEM do Amazonas. "A ideia inicial é ter uma candidatura própria. Mas nós estamos ainda construindo isso. Não estamos falando de nomes, mas teríamos alguns para apresentar, como o ex-prefeito ACM Neto, o Rodrigo Maia e o ex-ministro Mandetta", diz.

ACM Neto é o presidente nacional do partido. Ele deixou recentemente a prefeitura de Salvador (BA), que comandou entre 2013 e 2020. Seus altos índices de aprovação o credenciam como pré-candidato ao governo da Bahia, que em 2022 escolherá o sucessor de Rui Costa (PT). ACM Neto já iniciou viagens pelo estado. Mas, publicamente, diz que ainda é cedo para tomar decisão sobre uma candidatura. O ex-prefeito também evita comentários sobre a situação nacional.

Na segunda-feira (25), ACM Neto se encontrou com Arthur Lira em Salvador. Rodrigo Maia disse que o encontro serviria para que Neto, na condição de presidente do partido, reafirmasse o apoio da legenda a Baleia Rossi. Mas os cinco deputados federais do DEM da Bahia indicaram que votarão em Lira.

Governismo dividiu o DEM em 2011

O DEM hoje tem o presidente da Câmara, o do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), três governadores (em Goiás, Tocantins e Mato Grosso) e a prefeitura de quatro capitais (Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba e Salvador). É também o partido de Rodrigo Pacheco (MG), um dos favoritos na eleição para a presidência do Senado.

A situação é bem distinta da vivida pelo partido na virada entre as décadas de 2000 e 2010. Na ocasião, o partido fazia oposição aos governos do PT e teve sua existência "ameaçada" pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: , que à época tinha altos índices de aprovação popular. "Precisamos extirpar o DEM da política brasileira", disse Lula em setembro de 2010.

O golpe mais forte para a legenda veio, porém, em 2011. Dissidentes deixaram a sigla para fundar o PSD. O novo partido foi encabeçado pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e por lideranças à época ligadas ao DEM, como a senadora Kátia Abreu (TO) e o governador Raimundo Colombo (SC). O episódio fez o DEM cair de 43 deputados federais na eleição de 2010 para 21 em 2014.

Um dos motivos que levou o grupo de dissidentes a deixar o DEM foi a postura de oposição da sigla às gestões petistas. Kassab e outros membros tinham o interesse de integrar a base do governo recém-iniciado de Dilma Rousseff. O ex-prefeito paulistano e a senadora Kátia Abreu acabariam se tornando ministros de Dilma, assim como o ex-vice-governador paulista Guilherme Afif Domingos.

Hoje, o PSD também reúne quadros favoráveis e contrários ao governo Bolsonaro. Entre os defensores estão os deputados federais Éder Mauro (PA) e Sargento Fahur (PR). Do lado dos críticos estão o senador Otto Alencar (BA) e o deputado Fábio Trad (MS).

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