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Rachado desde que o grupo do deputado Rodrigo Maia (RJ) rompeu com a cúpula do partido, o DEM busca traçar uma estratégia para a eleição presidencial do ano que vem. A sigla comandada pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto chegou a flertar com outros partidos a construção de uma candidatura de centro, mas as divisões internas e a falta de consenso entre os aliados inviabilizaram um acordo até agora.
Diante disso, as principais lideranças cogitam dois possíveis cenários para as eleições de 2022: lançar candidatura própria ou repetir a aliança histórica com o PSDB. A primeira hipótese envolve o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que até então vinha articulando com demais líderes de centro uma candidatura única e poderá ter sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto oficializada nas próximas semanas. A direção do DEM encomendou uma pesquisa para testar o nome do ex-ministro da Saúde e analisar a receptividade real do nome dele entre a população.
"O meu nome está aqui, eu não sou candidato de mim. Eu quero um projeto para a gente defender ideias. Se perguntar para mim, você está pronto? Eu estou pronto. Se perguntar para mim, você vai? Você tem coragem para ir a uma das campanhas mais sórdidas, baixas e invasivas, pelos comentários do presidente e do filho do presidente? Eu digo: estou pronto", afirmou Mandetta em entrevista à CNN Brasil.
A movimentação ocorre em meio à debandada de lideranças da sigla nos últimos dois meses. As principais dissidências ocorreram nos dois maiores colégios eleitorais do país, sendo a do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que migrou para o PSDB em um movimento orquestrado pelo governador tucano João Doria, e a ida para o PSD do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Além de São Paulo e Rio de Janeiro, em abril o governador de Tocantins, Mauro Carlesse, trocou o DEM pelo PSL. Aliado do presidente Bolsonaro, Carlesse se contrapôs às movimentações do partido contra o Palácio do Planalto. Além desses quadros, o ninho democrata deve perder ainda o ex-presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e quatro deputados federais que já anunciaram a intenção de sair: Carlos Gaguim (TO), Elmar Nascimento (BA), Sóstenes Cavalcante (RJ) e o deputado licenciado Pedro Paulo (RJ).
Na semana passada, os grupos de Mandetta e de ACM Neto se reuniram na casa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para discutirem um acordo sobre o cenário eleitoral. Segundo líderes do partido, a ideia é estruturar a pré-campanha de Mandetta e colocar o nome na rua como forma de ir ganhando popularidade em meio à CPI da Covid, já que o ex-ministro ganhou projeção justamente pelo antagonismo ao presidente Bolsonaro durante os primeiros meses da pandemia no Brasil.
Aliança histórica com o PSDB pode acontecer, mas sem Doria
Apesar da pré-candidatura de Mandetta, o nome do ex-ministro só deverá se confirmado na disputa eleitoral de 2022 caso haja viabilidade até o registro das candidaturas no ano que vem. Caso contrário, outra possibilidade ventilada pela cúpula do DEM é repetir mais uma vez a aliança história com o PSDB. No entanto, esse acordo depende do isolamento do governador de São Paulo, João Doria.
A estratégia é a mesma adotada em 2018, quando o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi lançado com pré-candidato, mas posteriormente desistiu para apoiar Geraldo Alckmin do PSDB. No recente encontro da cúpula do DEM, em Brasília, ACM Neto sinalizou que está disposto a dialogar com outras lideranças tucanas, como o presidente da sigla, Bruno Araújo, o senador Tasso Jereissati (CE) e o deputado Aécio Neves (MG), mas que acabaram as tratativas para 2022 com o atual governador de São Paulo.
Recentemente, ACM Neto fez uma série de críticas à atuação política de Doria. “A postura desagregadora do governador de São Paulo amplia o seu isolamento político e reforça a percepção do seu despreparo para liderar um projeto nacional”, disparou o ex-prefeito de Salvador.
Segundo integrantes do DEM, a ideia é esperar o imbróglio que também vive o PSDB sobre a disputa presidencial para cravar qual será o posicionamento. No ninho tucano, além de Doria, Jereissati e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pretendem disputar as prévias internas do partido, que devem ocorrer em outubro deste ano.
“Se o Doria for confirmado candidato pelo PSDB ou o Mandetta não consiga deslanchar nas pesquisas, a tendência é que o DEM se mantenha independente na disputa presidencial do ano que vem”, afirmou um aliado de ACM Neto.
DEM não quer perder de vista os estados e as bancadas federais
As estratégias ventiladas pela executiva do DEM visam contornar uma possível debandada de outros nomes do partido até a disputa eleitoral. Sem conseguir articular grandes alianças para o Palácio do Planalto até o momento, a sigla que reforçar os governos estaduais e as bancadas na Câmara e no Senado.
O atual governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, por exemplo, deve disputar a reeleição. Mendes integra a ala do DEM que faz oposição ao governo Bolsonaro. Nesse grupo, deve concorrer ao governo de Santa Catarina o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, e na Bahia o próprio ACM Neto também busca viabilizar sua candidatura.
O ex-prefeito de Salvador, por exemplo, tem mantido o pré-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) como opção de palanque na Bahia. Com o apoio do pedetista, ACM Neto pretende tentar derrotar a candidatura do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no estado. No entanto, uma aliança nacional com Ciro encontra resistência na maioria dos diretórios estaduais do DEM.
Na contramão, quadros do DEM que apoiam o governo Bolsonaro também devem entrar na disputa, o senador Marcos Rogério, em Rondônia, e o governador Ronaldo Caiado, em Goiás. O ministro da secretaria-geral, Onyx Lorenzoni, também articula sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul. Nesse caso, os candidatos teriam independência para construir seus palanques regionais.
Além dos quadros próprios, ACM Neto tenta atrair outros nomes para fortalecer o seu grupo político. Em São Paulo, o ex-governador Geraldo Alckmin passou a ser cortejado pelos democratas, após o isolamento do tucano pelo governador João Doria. Em Pernambuco, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, começou a estudar a possibilidade de deixar o MDB e migrar para o DEM para uma candidatura ao governo estadual.