Santos Cruz foi um dos alvos preferidos das críticas de seguidores do guru Olavo de Carvalho: desgaste público culminou com a saída do general do governo.| Foto: Carolina Antunes/PR

A demissão do general Santos Cruz da Secretaria de Governo, nesta quinta-feira (13), terminou com troca de palavras positivas entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (PSL). O agora ex-ministro, em nota oficial, desejou “saúde, felicidade e sucesso” a Bolsonaro e seus familiares. O presidente, também por meio de nota, disse que a demissão “não afeta a amizade, a admiração e o respeito mútuo”.

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O clima amistoso não revela, porém, o que se deu de fato no processo que levou à exoneração de Santos Cruz. O general já vinha em rota de colisão com o presidente e setores do governo há algum tempo, em especial com o chamado núcleo ideológico da gestão bolsonarista. A maneira como a demissão ocorreu também revela uma circunstância inusitada: Santos Cruz foi desligado num dia em que cumpria agenda convencional de ministro.

A análise entre membros do PSL – partido de Bolsonaro – é que a demissão de Santos Cruz foi o ponto final de um processo de fritura que já era de domínio público. Mas se engana quem pensa que a ala militar do governo saiu enfraquecida do episódio. O presidente escolheu um novo general para o ocupar o cargo na Esplanada, ou seja, como diz o dito popular "trocou seis por meia dúzia".

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Elogios relativos

Líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP) procurou minimizar os impactos da decisão de Bolsonaro: “o presidente tem 22 ministros, que são cargos da livre escolha dele. E de repente ele também tem a condição de fazer as modificações que são necessárias para o ajuste da equipe ministerial. Vejo como uma coisa normal”.

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O senador, entretanto, acrescentou em sua análise sobre a demissão uma crítica acerca da atuação do general à frente da Secretaria de Governo. “Nós, no Senado, não sentíamos efeito em relação à articulação política, desenvolvida por ele [Santos Cruz] ou pela equipe dele. Então eu vejo com uma expectativa positiva uma nova equipe com um novo ministro para essa missão”, afirmou.

O substituto de Santos Cruz é o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. Ele é o atual chefe do Comando Militar do Sudeste, cargo que exercia desde maio de 2018.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) elogiou Santos Cruz, disse que ele “sempre atendeu as nossas demandas”, mas também fez a ressalva: “acho que a pessoa que vem substitui-lo tem mais habilidade para a função”.

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A articulação política entre governo e Congresso tem sido apontada como uma das principais dificuldades vividas pela gestão Bolsonaro nesses seis meses de mandato. O presidente e sua equipe dizem, desde o período eleitoral, que pretendem interagir com o Legislativo sem o “toma-lá-dá-cá”, isto é, sem a concessão de cargos em troca de apoio das bancadas.

Essa situação, bem como outros ruídos e declarações ásperas de todos os lados, fizeram com que o governo perdesse algumas votações e que a reforma da Previdência, principal pauta econômica do Planalto para 2019, seja mencionada como uma tarefa difícil.

Conflitos com o 'olavismo'

Santos Cruz foi um protagonista de um confronto que tem marcado a gestão Bolsonaro: a disputa entre o núcleo militar e o núcleo ideológico. Este segundo grupo teria no filósofo Olavo de Carvalho uma espécie de guru informal. Por esse aspecto, a queda do general foi uma vitória dos “olavistas”.

Olavo e Santos Cruz trocaram farpas públicas em diversas ocasiões. O filósofo teve no ex-ministro um dos seus alvos nas críticas que fez aos militares, que considera um problema para a gestão Bolsonaro. Em resposta, o general chamou Olavo de “desocupado esquizofrênico”.

A briga respingou no vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, considerado o mais relacionado com o núcleo ideológico. Carlos também endossou críticas públicas aos militares e divergiu de Santos Cruz por conta da gestão da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo.

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A demissão de Santos Cruz foi celebrada por dois influenciadores digitais da direita brasileira, o youtuber Nando Moura e o jornalista Allan Santos, editor do site Terça Livre. “A bebida é por minha conta”, brincou Santos. Já Moura escreveu: “não será desse vez que Santos Cruz disciplinará as redes” – referência a uma declaração de abril de Santos Cruz, quando o ex-ministro falou que o uso das redes “tem de ser disciplinado, até a legislação tem de ser aprimorada”. A fala foi interpretada por bolsonaristas como uma defesa da censura nas redes.

Também alinhado com o núcleo ideológico do governo, o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) disse que a demissão foi feita “no sentido de manter o alinhamento do governo. Pois o governo é um todo, e todos devem estar alinhados, na mesma direção. Santos Cruz deu a sua contribuição, mas agora foi para a reserva”.

O senador Major Olímpio e o deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), porém, descartam a ideia de que a saída de Santos Cruz fortalece o grupo 'olavista'. “Acredito que a influência dele [Olavo] não cresce. Até porque a não aceitação do Olavo é grande dentro da bancada do PSL”, disse o parlamentar gaúcho. “Não vejo motivo de comemoração ou de tristeza por qualquer segmento ou apoiador do presidente”, acrescentou o líder do PSL no Senado.

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Dia "normal"

Horas antes de sua demissão, o ministro Santos Cruz havia se colocado ao lado do governo Bolsonaro em uma das principais polêmicas de momento, o vazamento das conversas atribuídas ao ministro Sergio Moro (Justiça) e ao procurador Deltan Dallagnol. “O ministro presta um serviço ao Brasil incalculável na nossa história”, disse, segundo o site O Antagonista.

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Santos Cruz participou na manhã desta quinta de uma audiência no Senado e, no início da tarde, recebeu o deputado Fausto Pinato (PP-SP) na Secretaria de Governo. “Nós nos reunimos e conversamos em um clima absolutamente normal, como se nada estivesse acontecendo”, relatou o deputado.

Mesmo após a divulgação da demissão, a notícia ainda não havia sido confirmada por Bolsonaro a integrantes de sua comitiva em Belém. “Eu estou sabendo pela internet. Ele [Bolsonaro] não falou nada para nós”, disse o deputado federal Éder Mauro (PSD-PA), por volta das 18 horas.

O vice-presidente Hamilton Mourão foi outro que tomou conhecimento da informação pela imprensa. “Tomei conhecimento agora. Ele [Santos Cruz] é um cara extraordinário”, declarou Mourão, segundo a Globo News.