O empresário Marconny Faria, que depõe nesta quarta-feira (15) na CPI da Covid do Senado, negou o rótulo de lobista, aplicado sobre ele por parlamentares que integram a comissão. "Se eu fosse um lobista, eu seria um péssimo lobista", afirmou. Ele também declarou que sua atividade profissional é a de prestar consultoria para empresas particulares que queiram empreender negociações com o poder público.
Suas afirmações, entretanto, foram confrontadas pelos senadores presentes na sessão desta quarta, que fizeram questões e mostraram mensagens obtidas pela CPI que sugerem a atuação de Faria como lobista. Ele, de acordo com os parlamentares, teria agido para ao intermediar a negociação entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos. A Precisa se posicionou como representante do laboratório indiano Bharat Biotech, fabricante da vacina Covaxin. A compra dos imunizantes é investigada por conta de um suposto sobrepreço e favorecimento da Covaxin na comparação com outras vacinas.
Faria disse que não foi contratado pela Precisa e que sua relação com a empresa se resumiu a uma sondagem feita via Whatsapp. Ele relatou que no início da pandemia de coronavírus sua empresa foi procurada por companhias que gostariam de fazer negociações com o governo e que, para isso, precisavam de informações sobre o cenário político. Faria afirmou que tem conhecimento da política nacional por ser natural de Brasília e também por realizar pesquisas sobre o assunto.
A fala foi vista como incoerente por senadores, principalmente os que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro, que são maioria na CPI. O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou a Faria qual seria a "influência política" em um processo de compra de vacinas, como o que a Precisa queria estabelecer com o Ministério da Saúde. Os parlamentares também viram incoerência no fato de Faria se apresentar como alguém que tem informações sobre o cenário político de Brasília e, ao mesmo tempo, falar à CPI que não dispõe de proximidade com nenhum parlamentar. "Este é o mais cínico de todos os depoimentos da CPI", afirmou Calheiros.
Desconhece senador, conhece Jair Renan
Senadores questionaram Faria sobre uma mensagem apreendida em seu celular em que ele diz ter contato com um senador que poderia "desatar o nó" de uma negociação entre a Precisa e o Ministério da Saúde para a compra de testes de Covid-19, que registrava dificuldades para a sua progressão.
O empresário não respondeu à pergunta. Disse que não se lembrava quem era o senador. A fala irritou os parlamentares, que o pressionaram, sem sucesso, para obter o nome.
Faria inicialmente também evitou falar sobre sua proximidade com Jair Renan, o filho adulto mais jovem do presidente Jair Bolsonaro. Ele confirmou posteriormente ser amigo de Jair Renan, após o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) expor que Faria celebrou seu aniversário no ano passado em um camarote que o filho do presidente tem no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Ele disse que o vínculo com Jair Renan se resume à amizade.
O empresário definiu da mesma forma a sua relação com a advogada Karina Kufa, que presta serviços para Bolsonaro e para o partido Aliança Pelo Brasil, que os apoiadores do presidente buscam fundar. Ele confirmou que esteve em um jantar promovido por Kufa no ano passado no qual também estava José Ricardo Santana, outro suposto lobista que atuou no Ministério da Saúde.
Novos rumos da CPI
A CPI não prosseguirá na análise do caso Precisa-Ministério da Saúde na quinta-feira (16). O depoimento de amanhã do colegiado será com representantes da empresa Prevent Senior, que presta serviços de plano de saúde. A companhia é acusada de ministrar o tratamento precoce contra a Covid-19 à revelia de alguns pacientes e também de impedir que seus médicos utilizem máscaras de proteção contra o coronavírus.
O restante da agenda da comissão será definido ainda na noite desta quarta-feira, em uma reunião informal que os parlamentares farão na casa do presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM). Os senadores discutirão se será mantida a ideia de concluir os trabalhos da CPI na próxima semana ou se haverá uma prorrogação das atividades, o que já passou a ser defendido por alguns parlamentares. O vice Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o senador Alessandro Vieira buscam, por exemplo, que a comissão promova o depoimento da advogada Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro e mãe de Jair Renan.
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