O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz, disse que participação de Nise Yamaguchi foi um baita engodo.| Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
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A participação da médica Nise Yamaguchi na CPI da Covid nesta terça-feira (1º) pode ter finalizado as discussões da comissão em torno do chamado tratamento precoce contra a Covid-19. A avaliação é do presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM). "A CPI não tem mais que tratar de cloroquina", afirmou o parlamentar, em entrevista coletiva após a conclusão da sessão desta terça.

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Mais cedo, sob a mesma justificativa, Aziz já havia cancelado a audiência que a comissão faria nesta quarta-feira (2) com médicos favoráveis e contrários ao tratamento precoce, e no lugar agendou o depoimento da médica Luana Araújo, que permaneceu por apenas 10 dias no posto de secretária de enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde.

Aziz chamou a participação de Nise Yamaguchi de "baita engodo" e disse que a médica "passou oito horas e não conseguiu apresentar uma publicação científica" que comprovasse os resultados do tratamento precoce. Ele também declarou que o procedimento "não deu certo em lugar nenhum" e que o Amazonas, seu estado, teve "vidas ceifadas" por conta da adoção da medida. No início do ano, Manaus registrou um colapso em sua rede de saúde, com recorde nos casos de Covid-19 e elevadas taxas de mortalidade de pacientes.

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O presidente da CPI descartou a reconvocação de Nise à comissão. Um novo depoimento da médica foi cogitado ao longo da fala desta terça, principalmente por senadores que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Alessandro Vieira (Cidadania-SE), por exemplo, chegou a sugerir que a sessão fosse encerrada, pelo motivo de Nise Yamaguchi estar falando na condição de convidada, e não de testemunha. Como testemunha, um depoente tem compromisso maior com a verdade e pode eventualmente ser preso se mentir à comissão.

O próprio Aziz mencionou a possibilidade de uma reconvocação da médica, antes de anunciar a retirada da ideia. Ele sugerira uma acareação entre Nise e o diretor da Anvisa, Antonio Barra Torres, para que ambos falassem sobre a reunião no Palácio do Planalto em que se teria discutido a possibilidade de modificação na bula da cloroquina, para incluir no texto que a substância é eficaz contra a Covid-19.

O episódio foi confirmado por Barra Torres e pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, em depoimentos que ambos prestaram à CPI, mas negado por Nise Yamaguchi. Segundo a médica, houve a reunião e houve discussões sobre as potencialidades da cloroquina, mas sem a hipótese de alteração na bula do medicamento.

Cloroquina vai mesmo sair de pauta?

Adversário do presidente Jair Bolsonaro, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse concordar com Omar Aziz quanto ao término das discussões científicas em torno da cloroquina, mas declarou que outros elementos relacionados ao tratamento precoce ainda devem ser considerados pela comissão.

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O parlamentar, que também é médico, mencionou que a defesa da cloroquina pelo governo federal integrou uma estratégia para o combate à pandemia que, na sua avaliação, é equivocada.

"A cloroquina fazia parte de uma estratégia que consistia em dar o remédio à pessoa e fazê-la ir para a rua trabalhar", criticou. Costa também falou que a comissão precisa apurar a quantidade de comprimidos de cloroquina comercializados nos últimos meses para apurar se "muita gente ganhou dinheiro com isso".

No outro campo do debate ideológico, o senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) reiterou sua defesa do tratamento precoce. O parlamentar, como tem feito nas sessões da comissão, citou exemplos de cidades que teriam alcançado resultados positivos com a adesão dos procedimentos e indicou que "interesses" poderiam explicar a rejeição ao método. Heinze disse que o tratamento precoce é mais barato do que outros encaminhamentos, o que seria desinteressante a alguns agentes públicos.

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Senador apresenta "organograma do gabinete paralelo" da Saúde

Como já havia feito durante o período da manhã, Nise continuou sua fala na CPI respondendo a perguntas sobre o tratamento precoce e sobre o suposto "gabinete paralelo", uma estrutura informal de aconselhamento ao presidente Bolsonaro da qual faria parte.

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Em relação ao tratamento, a médica disse que considera a aplicação dos medicamentos como "mais uma" ação para o combate à pandemia ao lado de outros procedimentos, como o distanciamento social, o uso de máscaras e a vacinação. Neste aspecto, Nise Yamaguchi foi confrontada por senadores oposicionistas, que recordaram declarações e ações do presidente Bolsonaro em contrariedade a estas medidas, especialmente as de isolamento. A médica disse que não comentaria os atos de Bolsonaro e que não tem "ascendência" sobre o presidente.

A participação no gabinete paralelo — e mesmo a existência do grupo — prosseguiu negada por Yamaguchi. A médica reforçou que sua atuação junto ao governo federal se dá na condição de "colaboradora eventual", com a participação em reuniões pontuais. Ela disse também que não foi convidada por Bolsonaro para exercer o cargo de ministra da Saúde e que tampouco se ofereceu ao posto.

Em sua fala, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) exibiu uma apresentação em power point na qual fez um "organograma" do que seria o gabinete paralelo. A estrutura teria três subdivisões, o "núcleo negacionista", o "núcleo operacional" e o "núcleo gabinete do ódio". A médica estaria no primeiro recorte, que seria responsável pela definição de estratégias para combate à pandemia.

Além dela, integrariam o grupo o empresário Carlos Wizard Martins e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), entre outros. A médica se disse ofendida com a apresentação e, novamente, negou fazer parte do grupo.

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