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Allan dos Santos é acusado de disseminar fake news na internet por meio do site Terça Livre.
Allan dos Santos é acusado de disseminar fake news na internet por meio do site Terça Livre.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O jornalista Allan dos Santos, proprietário do site Terça Livre, de linha editorial próxima do governo de Jair Bolsonaro (PSL), disse nesta terça-feira (5) que não tem vínculos formais com o Palácio do Planalto ou com outros membros da estrutura federal. Santos disse que sua conexão com o bolsonarismo é de “apoiador voluntário” e que a relação que tem com integrantes do governo é a que existe entre jornalista e fonte.

As declarações foram dadas em depoimento de Santos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as “fake news” e é conduzida em conjunto por Câmara e Senado. O jornalista foi à comissão na condição de acusado, por conta de um requerimento apresentado pelo deputado Rui Falcão (PT-SP). Em sua solicitação, o petista disse que o Terça Livre é um dos principais disseminadores de notícias falsas na internet e que teve peso decisivo para a vitória de Bolsonaro nas eleições do ano passado.

Além de negar conexões com o governo atual, Santos também falou que não manteve vínculos profissionais com o PSL ou com a família Bolsonaro durante o período eleitoral. Disse ter apoiado Jair Bolsonaro na condição de cidadão, pelo “combate ao comunismo” defendido pelo então candidato. Santos prestou depoimento trajando uma camiseta amarela com os dizeres “Meu partido é o Brasil”, similar à que Bolsonaro utilizava no dia em que sofreu uma tentativa de assassinato, em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018.

O jornalista disse ainda que o Terça Livre é, atualmente, um site com estrutura profissional e capacidade de arrecadação. A página é mantida, segundo Santos, com contribuições remetidas por apoiadores em plataformas como o "apoia.se" e a ferramenta “superchat” do Youtube, que permite doações durante transmissões ao vivo.

Santos apresentou extratos de seu cartão de crédito, comprovantes do pagamento do aluguel de sua casa em Brasília e do carro que utiliza atualmente. Segundo ele, a origem de sua casa e de seu carro costuma ser tema de especulações na internet. O jornalista também concordou com a quebra de seus sigilo fiscal, telefônico e bancário pela comissão.

Fake ou real news?

A relatora da CPI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), questionou Allan dos Santos sobre conteúdos publicados no Terça Livre que são mencionados como “fake news” – como uma suposta notícia de que pedófilos poderiam ingressar na comunidade LGBT, uma sobre a relação de uma quadrilha no Nordeste com o ex-presidenciável Fernando Haddad (PT) e também a de que o jornalista Glenn Greenwald teria sido internado em um hospital por conta de uma overdose de cocaína.

Santos disse não ter errado ao publicar os conteúdos em seu site. Em relação aos pedófilos, disse que a comunidade LGBT “não tem um só CNPJ”, e por isso a suposta conexão poderia ser real. No caso que envolve Haddad, mencionou que a ligação teria sido citada por um criminoso integrante da citada quadrilha. E em relação a Greenwald, alegou o direito constitucional do sigilo da fonte para não desenvolver o assunto.

O jornalista foi defendido por deputados da base governista. Deputados como Caroline de Toni (PSL-SC), Filipe Barros (PSL-PR) e Bia Kicis (PSL-DF) disseram que o portal de Santos rompe uma suposta “hegemonia” que a esquerda teria entre jornalistas e veículos de imprensa. “Allan dos Santos é um dos responsáveis por mudar a maneira como os brasileiros têm se informado”, declarou Caroline.

Filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi ainda mais incisivo: disse que a internet é o “único setor” que a esquerda não “domina” e que o objetivo da comissão não é investigar notícias falsas, e sim “inibir quem apoia Bolsonaro”.

CPI ou MMA?

O presidente da CPI, senador Angelo Coronel (PSD-BA), abriu os trabalhos da comissão pedindo um clima pacífico entre os parlamentares: “espero que a paz reine”. O apelo do senador, no entanto, teve pouco efeito. A CPI das Fake News viu uma série de embates entre parlamentares e, em diversos momentos, Allan dos Santos foi um mero espectador das discussões.

Uma das primeiras disputas foi entre o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP). Ambos levaram para a comissão um embate que têm travado no campo virtual desde o fim de semana, após Randolfe dizer que o presidente Bolsonaro poderia ter cometido obstrução de justiça no caso Marielle.

O senador citou um áudio vazado do deputado em que Feliciano pede que Randolfe seja “espancado” nas redes sociais, e disse que aquela não era uma atitude cristã – o deputado é também pastor. Em resposta, Feliciano fez menções indiretas ao apelido de “Múmia”, atribuído a Randolfe em uma das célebres planilhas da empreiteira Odebrecht que discriminaria propinas pagas a políticos.

Como ocorre em quase todos os debates no Congresso Nacional, os nomes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, foram citados em diversas ocasiões e motivaram embates entre os parlamentares. Os deputados Rui Falcão (PT-SP) e Márcio Labre (PSL-RJ) chegaram a travar uma discussão que teve momentos de “dedo na cara” e pedidos enfáticos de respeito, dos dois lados.

Já o confronto entre Allan dos Santos e o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), apontado previamente como um dos momentos de maior tensão em potencial na comissão, acabou não registrando temperaturas tão elevadas quanto esperado. Após Frota chamar Santos de “Sonia Abrão digital”, em referência à jornalista especializada em notícias sobre celebridades, o editor do Terça Livre disse que utilizaria seu direito de ficar em silêncio e não responderia mais as perguntas. Frota e Santos são adversários no ambiente virtual há meses.

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