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O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) manifestou preocupação em relação ao estado de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após os recentes procedimentos cirúrgicos no cérebro. Em entrevista à Gazeta do Povo, o parlamentar, que é médico e mestre em Neurociência, afirmou que o quadro pode ser mais grave do que vem sendo divulgado e criticou a falta de transparência nas informações repassadas ao público.
Na quinta-feira (12), o petista foi submetido a um cateterismo para bloquear a circulação sanguínea de uma artéria na área do coágulo que estava na cabeça.
“O que eu acho é que no caso do Lula, está se desenrolando um quadro de doença grave que está sendo tratado como uma coisa simples”, afirmou o deputado. Segundo ele, as medidas adotadas desde a queda do presidente, em outubro, foram insuficientes para prevenir a atual situação em que se encontra o chefe do Executivo.
“Eles se preocuparam em dizer que não tinha nada grave e que ele deveria apenas evitar a viagem para a Rússia, mas ele praticamente não ficou em observação. Uma pessoa de 79 anos com um trauma dessa magnitude deveria ter ficado, no mínimo, um mês em observação”, afirmou o parlamentar.
Durante a última semana, a equipe médica de Lula fez questão de destacar que os procedimentos aos quais o presidente seria submetido seria classificados como "simples" e que o presidente estava fora de risco. Ao comentar sobre o procedimento complementar que Lula seria submetido na quinta-feira (12), o médico Roberto Kalil Filho afirmou que o procedimento seria para minimizar possíveis sequelas para o futuro.
"Isso faz parte dos protocolos atuais, é o procedimento de baixo risco que foi muito discutido com a equipe médica no dia de hoje. Então hoje, a equipe médica –doutor Marcos Stávale, doutor Rogério Tuma, a doutora Ana, doutora Roberta e eu, nós discutimos com o doutor Zé Guilherme, que fará o procedimento. Então esse é um procedimento relativamente simples", disse em coletiva de imprensa.
Para Osmar Terra, o caso de Lula exige atenção redobrada devido às características específicas do sistema circulatório cerebral. Ele explicou que as veias no cérebro são mais vulneráveis por não possuírem válvulas, o que favorece o acúmulo de sangue em casos de lesão. “Se uma veia está lesionada, ela vai babando permanentemente, pingando sangue fora do seu canal natural. Isso pode aparecer semanas depois”, destacou.
De acordo com o deputado, o hematoma identificado recentemente já era previsível, visto o chefe do Executivo sofreu um acidente doméstico. “Eu disse isso em outubro, que poderia ocorrer. Traumas na região occipital (parte posterior da cabeça) frequentemente resultam em hematomas de médio prazo, e foi exatamente o que aconteceu”, afirmou.
Outro ponto levantado por Osmar Terra foi o intervalo de dois dias entre a realização da trepanação e o procedimento de embolização da artéria. “Por que fizeram a trepanação e só dois dias depois embolizaram a artéria? Isso precisa ser explicado”, questionou. Segundo ele, a decisão de embolizar a artéria não resolve o risco de novos sangramentos caso uma veia também tenha sido lesionada. “As veias precisam ser avaliadas, mas isso não foi feito”, pontuou.
O parlamentar também defendeu maior clareza nas informações oficiais sobre o quadro de saúde do presidente. Para ele, a postura da equipe médica e do governo tem como objetivo passar a sensação de normalidade. “É tudo no sentido de dizer que não tem problema, que é uma coisa leve, mas o fato de ter ocorrido esse hematoma agora — que já poderia ter sido previsto — mostra que as coisas não estão tão bem assim”, alertou.
Lula deveria passar comando do país para Alckmin
O congressista também ressaltou importância de se discutir o impacto que o quadro de saúde de Lula pode ter na capacidade de o presidente tomar decisões. Segundo ele, é preocupante a insistência em manter a rotina de despacho no hospital. “Uma pessoa de 79 anos, com um trauma dessa magnitude no cérebro, deveria se licenciar da presidência, ficar em observação por um mês e fazer todos os exames necessários”, sugeriu.
Para o deputado, o receio de passar o cargo para o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) pode estar influenciando as decisões. “A impressão que fica é que ele quer mostrar que está bem para não ter que passar o governo para o vice. Mas essa tentativa de passar a ideia de que tudo está bem pode levar a complicações”, concluiu o parlamentar.
Apesar de ter recomendação dos médicos para descansar, Lula despacha do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde tem conversado com ministros e sancionado projetos. Ele , ele sancionou leis importantes relacionadas ao mercado de carbono e à transformação digital. Além disso, tratou com ministros e acompanhou atualizações sobre as negociações do governo no Congresso.
Lula grava vídeo andando no hospital
Em vídeo divulgado nesta sexta-feira (13) em uma rede social, o petista aparece caminhando ao lado médico neurocirurgião Marcos Stavale, que fez o procedimento e integra a equipe do dr. Roberto Kalil Filho.
O presidente saiu dos cuidados intensivos para os "semi-intensivos" pela manhã, e pode ter alta no começo da próxima semana. A expectativa é de que ele volte para Brasília na segunda (16) ou terça (17).
Na gravação é possível ver o curativo na cabeça do presidente onde foi feito o primeiro procedimento para a drenagem de um sangramento na membrana entre o cérebro e o crânio, na madrugada de terça (10). Já a segunda intervenção, na quinta (12), foi realizado através de um cateter inserido em uma artéria pela virilha.
"Em breve, pronto para voltar para casa e seguir trabalhando e cuidando de cada família brasileira", diz a publicação na rede social. "Obrigado pelo carinho de vocês e por toda a dedicação da equipe médica. O amor que recebo me mantém sempre pronto para seguir!".