O deputado argentino Jorge Santiago Pauli, do partido La Libertad Avanza, falou sobre a importância da relação do país com o Brasil. Para ele, as diferenças políticas entre os presidentes de Brasil e Argentina - Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei, respectivamente - não devem afetar o comércio e as demais relações entre as duas nações.
O político da base governista de Javier Milei está em Brasília para as reuniões do P20. O encontro reúne parlamentares dos países do G20, grupo que, por sua vez, une as 20 maiores economias do mundo, a União Europeia e a União Africana. As reuniões acontecem até a próxima sexta-feira (8) e debatem a agenda brasileira na presidência do G20.
"Os governos mudam, mas é preciso continuar a manter isso [as relações], especialmente porque por trás dos governos estão as pessoas. O comércio continua, as relações continuam, o intercâmbio continua... Por isso me parece importante que, além do fato de poder haver governos com pontos de vista ou ideologias diferentes, seja capaz de se manter essa agenda diplomática", disse Pauli em entrevista à Gazeta do Povo.
Apesar de serem parceiros históricos na América do Sul, o relacionamento entre Brasil e Argentina enfrentou um esfriamento desde o último ano. Isso porque o presidente da Argentina, Javier Milei, está em um espectro político oposto ao de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Considerado libertário, Milei tem uma política econômica e social que diverge da defendida pelo petista. A diferença ideológica entre os dois líderes impediu uma aproximação. Desde que tomou posse, Lula e Milei ainda não se falaram.
A vitória do libertário foi encarada ainda como uma derrota política para o mandatário brasileiro, que apoiou Alberto Fernández na disputou pela Casa Rosada com Milei, em 2023. Apesar da diferença ideológica entre os dois presidentes, Pauli ressaltou a necessidade das relações entre os países serem mantidas e aprimoradas.
"Temos um grande histórico de relações [com o Brasil], não só diplomáticas, mas também comerciais, culturais... Nós, argentinos, amamos o povo brasileiro. Acho importante manter essa relação com as mudanças de governo", disse o deputado.
"Precisamos recuperar o tempo perdido", diz Pauli sobre acordo Mercosul-UE
Santiago Pauli também falou sobre a necessidade dos países sul-americanos "correrem atrás do tempo perdido" com acordos comerciais de livre comércio que não foram fechados, como é o caso do tratado que o Mercosul tenta negociar com a União Europeia. As tratativas com a UE se prolongam há mais de duas décadas e estão paralisadas devido ao chamado "protecionismo europeu".
"Temos que recuperar o tempo perdido, onde ficamos presos aos obstáculos regulares e ao comércio em pequenos grupos quando podemos nos abrir ao mundo. Acho que é disso que a região precisa e é sobre isso que temos que conversar também com a União Europeia. Precisamos estar abertos ao comércio livre e às relações comerciais que não têm nenhum tipo de obstáculo", disse Pauli.
"Acho que espaços como este aqui [o P20] são muito importantes para manter essas opções. Acredito que região sul-americana aprendeu que com o protecionismo, com as imposições burocráticas e com tarifas pesadas não podemos avançar e acredito que o mundo também está a compreender que é necessário mais liberdade comercial", salientou o deputado.
O parlamentar considerou ainda uma "tragédia" o governo argentino ter rejeitado, no início dos anos 2000, a Alca (Área de Livre-comércio nas Américas). "Isso para a Argentina foi uma decisão trágica. Foi uma oportunidade para abrir livremente o poder comercial e a Argentina, através do seu governo nacional da época, rejeitou-a. Então acho que temos que recuperar o tempo perdido", disse à Gazeta do Povo.
A Alca foi uma proposta que surgiu em 1994 pelo então presidente dos Estados Unidos, Geoge W. Bush, e tinha a intenção de remover tarifas alfandegárias entre 34 países nas Américas, com exceção de Cuba. O projeto previa que as nações priorizassem o comércio com os Estados Unidos e acabou sendo rejeitada no início dos anos 2000. O governo do presidente Lula foi um dos que se opôs à proposta ao lado do ditador venezuelano Hugo Chávez, e a presidência argentina.
Redução de gastos do governo Milei
Desde que tomou posse, Javier Milei adotou uma "terapia de choque" com a intenção de reduzir os gastos do governo e desregulamentar grande parte da economia estatista imposta pelos governos argentinos anteriores. Essas decisão, contudo, não tem agradado a todos.
Apesar da resistência de alguns setores, o libertário alcançou bons números. A taxa de inflação ano a ano da Argentina caiu para um dígito, em maio de 2024, e desde a eleição de Milei, os mercados de ações do país subiram, e seus títulos internacionais denominados em dólares atingiram novos patamares em resposta às medidas de austeridade planejadas.
Santiago Pauli elogiou a postura de Milei na liderança da Casa Rosada e minimizou as críticas. "A Argentina vem de anos de estagnação econômica. Anos em que o setor privado e o emprego não cresceram devido às políticas coletivistas dos governos anteriores, disse ao relembrar que, quando o libertário tomou posse, a situação econômica no país era "trágica".
"[Tínhamos] uma economia falida, um setor privado totalmente punido e pessoas saindo do país em busca de um futuro melhor em outro lugar, além de muitos outros problemas. Para sair desta crise são necessárias medidas fortes e contundentes, e fazer o que outras pessoas não ousaram fazer", disse à Gazeta do Povo.
"Muitas vezes os governos não tomam decisões difíceis por medo da opinião pública ou por medo de não serem reeleitos. O presidente Milei não tem medo de não ser reeleito, ele entende que existe um mandato para tirar a Argentina da crise em que estamos há muitos anos", salientou.
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