A estratégia pragmática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições municipais — focada na formação de alianças e na contenção de perdas, apoiando candidaturas mais competitivas, na maioria não petistas, sobretudo em capitais — expôs o enfraquecimento da esquerda no país.
Com o resultado do primeiro turno no domingo (6) favorável à direita e ao centro, a expectativa é de que partidos do Centrão, como PSD, MDB, PP, União Brasil e Republicanos, se fortaleçam como fiadores da governabilidade de Lula, pressionando-o a fazer mais concessões de poder.
O bom desempenho das legendas conservadoras e centristas também lhes dá mais peso nas negociações no Congresso, quando estão em jogo pautas cruciais para o governo, como a aprovação da indicação de Gabriel Galípolo para presidir o Banco Central e a regulamentação da Reforma Tributária.
Os pleitos municipais também favorecem partidos que conquistaram mais prefeituras nas eleições gerais de 2026, aumentando suas chances de eleger deputados federais. Além de formar as bases eleitorais, muitos prefeitos costumam migrar para o Legislativo após deixarem os seus mandatos.
Lula deve ceder à reforma ministerial para acomodar o novo cenário após as eleições
Segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, as eleições têm impacto sobre a sucessão na presidência da Câmara a partir de 2025 e devem dar o tom de uma eventual reforma ministerial. Lula deve considerar o desempenho dos partidos para reavaliarsuas alianças e possíveis trocas na Esplanada.
Para João Henrique Hummel Vieira, diretor da consultoria Action, as urnas consagraram o Centrão e a inclinação do eleitorado à direita, desafiando o governo esquerdista a mudar de postura. “Além de pautas no Congresso, há a aperto em torno da meta fiscal. A coisa ficará muito complicada”, sublinha.
Na opinião do cientista político, a governabilidade corre risco caso o Palácio do Planalto ignore a realidade de o Centrão representar o pensamento da maioria dos cidadãos brasileiros e insista em “continuar brigando contra as vontades da sociedade por meio do Supremo Tribunal Federal (STF)”.
Especialista acredita que Centrão pode ocupar a vice na chapa de Lula em 2026
Leonardo Barreto, sócio da consultoria Think Policy, o destaque nas eleições municipais obtido pelo PL, além de cinco partidos centristas, jogou luz sobre o “sentimento de centro-direita majoritário” na população, deixando o PT “muito longe dos objetivos” e ainda pressionando o governo a mudar.
Barreto considera bem provável que os partidos do Centrão, inflados por um eleitorado majoritariamente conservador, sejam em breve convidados por Lula a assumirem mais ministérios. Ele vai além e não descarta a chance de que uma dessas legendas indique o vice na chapa do presidente em 2026.
Para o especialista, muito além da polarização entre Lula e Jair Bolsonaro (PL), o cálculo político que o governo deve fazer é sobre quais partidos juntaram mais recursos, governarão mais gente e reuniram mais condições de influenciar a eleição legislativa de 2026, além do poder dos caciques.
PSD, MDB e PP estão no topo da lista de prefeitos eleitos no primeiro turno
No primeiro turno das eleições municipais, o PSD foi o que mais elegeu prefeitos: 882 ante os 659 de 2020. Além disso, foi a legenda que mais venceu em capitais, conquistando três das 26. O MDB vem em seguida, com 857 prefeituras ganhas, crescendo em comparação às 790 da última eleição.
O PP ficou em terceiro, com 748 cidades, superando as 697 de quatro anos atrás. O PT até aumentou, para 248 prefeituras, em contraste com 183 em 2020, mas ficou em nono lugar. O PL cresceu bem mais, elegendo 511 prefeitos, ante os 345 da eleição anterior. No segundo turno, PL disputará nove capitais e o PT, cinco.
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