Plenário do STF: pesquisa mostra que maioria da população vê motivação política em decisões da Corte.| Foto: Fellipe Sampaio/STF.
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A derrubada do X (antigo Twitter) do Brasil por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), posteriormente referendada por unanimidade pela Primeira Turma do Supremo, consagrou a crescente descrença da maioria da população na imparcialidade da Corte, que enxerga na postura política dela um risco para a democracia. Esse retrato está descrito pela pesquisa da AtlasIntel sobre a suspensão da rede social e a credibilidade no STF divulgada nesta quinta-feira (5).

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O dado mais intrigante do levantamento mostra que a maioria dos eleitores (56,5%) concorda que a decisão de Moraes contra a plataforma do empresário Elon Musk se deu por motivação política, superando em muito os que viram nela apenas razões técnicas (41,7%). Para 54,4% dos eleitores, essas decisões do STF sobre o X contribuem para enfraquecer a democracia no Brasil, enquanto 44,9% entendem o contrário.

Segundo a pesquisa, 49,7% dos entrevistados desconfiam do STF, enquanto 46,6% confiam. Os números confirmam flutuações observadas na série histórica desta pergunta feita desde janeiro de 2023 pelo instituto.

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Em relação à “imparcialidade para rivais políticos” desempenhada pelos 11 ministros do STF, o levamento aponta que 51% dos entrevistados avaliam como péssimo e 24% como ótimo. Para 12%, esse item é regular. Outros 9% veem como ruim e os 2% restantes considera regular.

Quanto ao “respeito à Constituição e as leis”, 46% disseram ser péssima a performance do Supremo; 40%, ótimo; 8% bom; 5%, ruim e 2%, regular. Já a avaliação sobre o desempenho dos ministros do STF sobre diferentes temas, a avaliação “péssima” varia de 45% a 51% para todos.

A resposta ao questionamento da entrevista em relação à imagem pessoal de cada um dos ministros do STF aponta Gilmar Mendes como o de pior reputação para 59% dos participantes. Em seguida vem Dias Toffoli com 55% e Nunes Marques com 54%. Alexandre de Moraes tem a imagem negativa para 52% dos entrevistados, enquanto 47% têm visão positiva dele, números favoráveis que empatam com os de Cármen Lúcia.

Para o consultor de empresas e palestrante Ismar Becker, em condições normais, uma Suprema Corte não deveria ser vista como um agente politico para ser avaliado pela população. Mas a pesquisa mostra o grau de distorção institucional do país. “Os números so mostram a cristalização de posições população brasileira. Os de um lado batem palmas, os do outro criticam”, avaliou.

Já o cientista político André Rosa, professor de Ciência Política na UDF, interpreta a pesquisa como um retrato claro do momento institucional do país. Para ele, os resultados apontam também para um cenário nacional e internacional que poderá influenciar algumas eleições municipais, sobretudo a de São Paulo, mais polarizada entre esquerda e direita. O discurso dos políticos conservadores do país incorpora novos segmentos à medida que os abusos do Judiciário passam a ser mais bem percebidos e ultrapassam o espectro apenas do grupo mais ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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“Ao mesmo tempo que o tema da liberdade de expressão passa a ser questionado publicamente por outros atores de centro e centro-direita, o ato público de 7 de setembro na Avenida Paulista tem o papel de alcançar outras camadas de eleitores que tem a pauta conservadora como afetiva”, observou.

Pesquisa indica apoio dos eleitores de Lula a decisões de Alexandre de Moraes

O levantamento consagra ainda a impressão de uma resistente polarização política no país ao mostrar que a maioria dos eleitores (50,9%) discorda da decisão de Moraes de derrubar o X, enquanto 48,1% a apoiam. O impacto da polarização política nessa abordagem fica evidente quando 95,5% dos que dizem ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) condenam a decisão. Por outro lado, 92% dos eleitores que escolheram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022 a apoiam.

Questionados sobre a conduta de Musk, 48,9% do total de entrevistados afirmou que o bilionário deveria ter cumprido decisões judiciais de remoção de conteúdos e de perfis de usuários da plataforma. Outros 37,6% dizem que ele não deveria ter cumprido nada, enquanto 9,9% entendem que deveria ter atendido só decisões relativas a postagens.

Quanto ao bloqueio das contas bancárias e ativos financeiros da empresa Starlink no país, a visão majoritária (55,1%) é de que a decisão judicial é abusiva. A posição é 11,1 pontos percentuais superior à daqueles que veem a decisão como justificada (44%).

A discordância é ainda maior em relação à decisão de Moraes de multar em R$ 50 mil qualquer usuário do X que busque acessar a plataforma por meio de VPN. Segundo a pesquisa, 64,5% são contrários e 34,7%, favoráveis.

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Levantamento entrevistou 1.617 cidadãos de todo o país por meio da internet

A pesquisa da AtlasIntel foi realizada toda por meio eletrônico, com 1.617 entrevistados recrutados durante a navegação na internet, entre os últimos dias 3 e 4 de setembro.

O método online é mais acessível financeiramente do que pesquisas presenciais ou por telefone, mas sofre críticas por haver risco de viés de seleção. O instituto defende que, comparado a levantamentos presenciais, essa forma evita o impacto psicológico da interação humana, resultando em respostas mais autênticas.

O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais para cima ou para baixo e confiança de 95%.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]