O Nordeste voltou a ser a região onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enfrenta uma alta rejeição, segundo as últimas pesquisas de opinião. Para reverter esse cenário, o Palácio do Planalto se movimenta para ampliar o programa Bolsa Família e para tentar levar mais investimentos para a região antes das eleições de 2022.
De acordo com o levantamento XP/Ipespe, divulgado neste mês de maio, 54% dos eleitores do Nordeste classificaram o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo. Outros 26% afirmaram que a gestão era boa ou ótima. Na mesma linha, o último Datafolha, também de maio, apontou que a desaprovação do governo na região chegou a 62% contra 17% de aprovação.
Esses dados têm reflexo direto nas intenções de voto de Bolsonaro na região. A pesquisa Datafolha mostrou Lula com 56%, contra 18% de Bolsonaro no Nordeste. Outra pesquisa eleitoral, também divulgada em maio, do Poder Data, apontou Lula com 47% e Bolsonaro com 35% na região. E nesta sexta-feira (21) outro levantamento, da Exame/Ideia, mostrou cenário semelhante: Lula com 50% contra 35% de Bolsonaro nas intenções de voto dos nordestinos.
Na avaliação de aliados do governo, a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao jogo político, a CPI da Covid e o valor mais baixo da segunda rodada do auxílio emergencial foram fatores que pesaram na perda de popularidade de Bolsonaro no Nordeste.
Para frear isso, o Palácio do Planalto aposta na reformulação do programa Bolsa Família e em agendas que mostrem resultados concretos do trabalho da equipe ministerial.
Bolsonaro intensifica agenda com aliados no Nordeste
Ao lado do ex-presidente Fernado Collor e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Bolsonaro esteve na última semana em Alagoas, onde cumpriu agenda com seus apoiadores na capital Maceió. Segundo interlocutores do Planalto, o presidente fará sempre viagens ao lado de parlamentares do Nordeste para reforçar o apoio das bancadas aliadas.
Na ocasião, Bolsonaro entregou 500 unidades habitacionais, inaugurou o complexo viário BR-104/AL e BR-316/AL e participou de um ato de lançamento do canal do sertão alagoano. O presidente também aproveitou para se contrapor ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, e ao governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), primogênito do senador.
“Se Jesus teve um traidor, temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem no país. É um crime o que vem acontecendo com essa CPI. Mas o que interessa são as boas ações”, disse o presidente na solenidade. Apesar de não citar o nome de Renan, os apoiadores gritaram “Renan, vagabundo”. Ainda na cerimônia, o presidente chegou a fazer um sinal positivo e acenou para os apoiadores que fizeram o ataque ao senador alagoano.
Na quinta-feira (20), Bolsonaro esteve no Piauí, onde inaugurou uma ponte sobre o Rio Parnaíba, ligand o Piauí ao Maranhão pela BR-235. O presidente esteve ao lado do senador e presidente nacional do PP, Ciro Nogueira.
“Essa [a ponte] é a realização de um sonho de mais de 50 anos do extremo sul do Piauí, que vai potencializar muito o desenvolvimento do nosso estado. É uma alegria muito grande poder participar da entrega dessa obra tão importante. Agradeço ao presidente por dar ao Piauí o respeito e a atenção que nosso estado merece”, disse Ciro Nogueira. O senador pretende se candidatar ao governo do estado no ano que vem e deve garantir palanque para Bolsonaro na região.
Os estados de Pernambuco e da Paraíba deverão ser os próximos a entrarem na rodada de viagens do presidente pelo Nordeste. Reservadamente, parlamentares da base governista afirmam que Bolsonaro tenta se antecipar ao ex-presidente Lula, que também pretende focar suas articulações nos estados da região nos próximos meses. No entanto, integrantes do PT afirmam que o ex-presidente só deverá ir ao Nordeste após o arrefecimento da pandemia.
“A lógica é fragilizar o líder-mor do PT em seu próprio reduto. Além de Bolsonaro, os auxiliares do Planalto e ministros estão reforçando as agendas no Nordeste. O plano passa por destravar obras que estiveram estagnadas ao longo das gestões Lula e Dilma”, disse um assessor do Palácio do Planalto à Gazeta do Povo.
Como será o novo Bolsa Família, e qual a relação do programa com o Nordeste
Assim como no ano passado, o governo voltou a discutir a possibilidade de ampliar o Bolsa Família como forma de chegar ao eleitorado de baixa renda – que é expressivo no Nordeste. Segundo dados do governo federal, o Nordeste concentra o maior número de beneficiários do Bolsa Família. A região representa cerca de 50% das mais de 14 milhões de famílias atendidas pelo programa social. Ceará, Pernambuco e Bahia são os estados com maior número de cadastros.
No ano passado, o governo chegou a discutir a criação de um novo programa de transferência de renda (o Renda Brasil) e a ampliação do Bolsa Família. Mas um impasse entre congressistas e o ministro Paulo Guedes (Economia) sobre qual seria a fonte de financiamento travou a discussão.
Agora, o assunto está sob responsabilidade do Ministério da Cidadania, sob o comando do ministro João Roma. Além do ministro da Cidadania, o tema está sendo articulado no Congresso através do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
Até o momento não há detalhes sobre a discussão. No entanto, uma medida provisória para tratar do assunto já vem sendo elaborada pelo governo. Segundo integrantes do Ministério da Cidadania, o texto já conta com pareceres favoráveis do corpo técnico da pasta, da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Controladoria-Geral da União (CGU).
Mas se sabe que uma das novas características do Bolsa Família é que ele vai tirar poder que hoje é das prefeituras ao fazer o cadastro das pessoas aptas a receber o benefício. Durante sua passagem por Alagoas, Bolsonaro afirmou que "está quase pronto o novo Bolsa Família" e falou sobre a mudança no programa por meio do lançamento de um aplicativo para avaliar quem está apto a receber o benefício. "A inclusão no Bolsa Família não será mais procurando prefeituras pelo Brasil; será feita através de um aplicativo. Vamos libertar as pessoas mais humildes do jugo de quem quer que seja", declarou o presidente.
Também há uma data prevista para o lançamento do novo Bolsa Família. Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), informou que Bolsonaro vai lançar um "programa social muito robusto em julho, para começar a valer em agosto". A data coincide com o fim dos pagamentos do novo auxílio emergencial.
Na mesma linha, o senador Ciro Nogueira afirmou: "Vamos criar mecanismos para um desenvolvimento econômico. Vamos criar um grande auxílio emergencial. Um novo programa social substituindo o Bolsa Família. Isso será fundamental para ajudar essas pessoas a mudarem de vida. Se isso ocorrer, vamos reeleger nosso presidente. Já estamos com isso finalizado".
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
A pesquisa XP/Ipespe realizou 1.000 entrevistas por telefone entre 4 e 7 de maio. A margem de erro da pesquisa é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Já o Datafolha realizou 2.071 entrevistas presenciais entre os dias 11 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O PoderData realizou 2,5 mil entrevistas por telefone entre os dias 10 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
A pesquisa Exame/Ideia foi realizada nos dias 19 e 20 de maio. Foram entrevistados 1,2 mil pessoas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para telefones celulares. O grau de confiança da pesquisa é de 95%, em uma margem de erro de 3,1 pontos percentuais para mais ou para menos.
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