Alvo do inusitado flagrante de tentar esconder dinheiro nas nádegas durante uma abordagem da Polícia Federal (PF) na quarta-feira (14), o vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), virou um dos assuntos mais comentados do país. A ponto de deixar em segundo plano a investigação que corre contra ele: a operação Desvid-19 apura desvios de recursos públicos de emendas parlamentares destinados ao combate à pandemia de Covid-19.
A operação Desvid-19 ocorreu em Boa Vista (RR). A ordem de busca e apreensão contra Chico Rodrigues foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. A investigação corre em sigilo. Mas, segundo apuração do jornal O Estado de S.Paulo com duas fontes que tiveram acesso a informações do inquérito, foram encontrados R$ 30 mil dentro da cueca do vice-líder do governo Jair Bolsonaro. Parte desse dinheiro estava entre as nádegas do senador – e algumas cédulas inclusive estariam manchadas de fezes. Ao todo, os valores descobertos na casa do senador chegariam a R$ 100 mil.
A investigação apura indícios de irregularidades em contratações feitas com dinheiro público, que teriam gerado sobrepreço de quase R$ 1 milhão em ações de combate à pandemia do coronavírus;
As informações oficiais da PF, dado o sigilo do caso, se limitam a dizer que foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão durante a operação, em Boa Vista, que busca a “desarticulação de possível esquema criminoso voltado ao desvio de recursos públicos, oriundos de emendas parlamentares”.
A Controladoria-Geral da União (CGU), que também faz parte da investigação, informou que a operação Desvid-19 apura o “desvio de recursos públicos por meio do direcionamento de licitações”. Ainda segundo a CGU, as contratações suspeitas de irregularidades, realizadas no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde, envolveriam aproximadamente R$ 20 milhões que deveriam ser utilizados no combate ao novo coronavírus.
Saia justa para Bolsonaro
A operação Desvid-19 criou uma saia justa para o presidente Jair Bolsonaro. Chico Rodrigues é vice-líder do governo no Senado. E a operação foi realizada no mesmo dia em que Bolsonaro disse que dará uma “voadora no pescoço” de quem se envolver em corrupção.
Além disso, Chico Rodrigues emprega em seu gabinete o assessor parlamentar Léo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro. Léo Índio é muito próximo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e é conhecido por ter livre trânsito no Palácio do Planalto.
No Palácio do Planalto, auxiliares de Bolsonaro ouvidos pelo jornal O Estado de S.Paulo, sob reserva, disseram que Chico Rodrigues deve deixar o cargo de vice-líder do governo. O argumento é que seria péssimo para a imagem de Bolsonaro manter o senador nesse posto depois do escândalo. A expectativa é a de que o próprio parlamentar entregue o cargo.
O outro lado: o que diz Chico Rodrigues
Em nota à imprensa, o senador Chico Rodrigues disse que tem “um passado limpo e uma vida decente” e afirmou nunca ter se envolvido em escândalos. “Acredito na justiça dos homens e na justiça divina. Por este motivo estou tranquilo com o fato ocorrido hoje em minha residência em Boa Vista, capital de Roraima. A Polícia Federal cumpriu sua parte em fazer buscas em uma investigação na qual meu nome foi citado. No entanto, tive meu lar invadido por apenas ter feito meu trabalho como parlamentar, trazendo recursos para o combate ao Covid-19 para a saúde do Estado”, afirmou o senador.
Rodrigues observou ainda que, ao longo de 30 anos na política, conheceu “muita gente mal intencionada”, a fim de macular sua imagem. “Ainda mais em um período eleitoral conturbado como está sendo o pleito em nossa capital”, declarou.
Barroso faz menção à operação Desvid-19 em julgamento de André do Rap
Durante o julgamento do caso do traficante André do Rap, na quarta-feira (14), o ministro do STF Luís Roberto Barroso fez uma menção à operação realizada pela Polícia Federal. Barroso afirmou que estava monitorando o cumprimento de mandados de busca e apreensão que envolviam uma autoridade com foro no Supremo, sem revelar o nome do senador investigado.
"Desviar dinheiro da saúde em plena pandemia é mais do que corrupção e chega bem próximo do assassinato. Devemos ter em conta que isso não é aceitável. Precisamos continuar no esforço de desnaturalização das coisas erradas no Brasil", argumentou Barroso.
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