As relações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden parecem ter esfriado desde que o petista escolheu o lado do eixo (China, Rússia, Irã e Coreia do Norte), além de apoiar a Rússia e criticar Israel nas guerras em curso do mundo. Enquanto os Estados Unidos têm fornecido claro apoio à Ucrânia e a Israel, Lula fez acenos na direção oposta e chegou a causar mal estar com as nações democráticas do Ocidente. Apesar do ruído e do desalinhamento geopolítico, representantes da Casa Branca no Brasil não enxergam grandes estragos na relação entre os dois presidentes.
Para Luke Ortega, porta-voz da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, as diferenças entre Lula e Biden "fazem parte do jogo". "Há uma relação muito forte entre os dois, mas não significa que eles sempre terão o mesmo papel, o que é natural. Na realidade, nenhum país vai ter sempre a mesma posição dos seus parceiros e isso faz parte do jogo", disse em entrevista à Gazeta do Povo.
Apesar do alinhamento ideológico, os dois mandatários não compartilham a mesma opinião sobre as guerras entre Rússia e Ucrânia, na Europa, e entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza. Enquanto o governo dos Estados Unidos condenou os invasores e iniciadores dos conflitos, Lula fez acenos ao ditador Vladimir Putin e incisivas críticas à contraofensiva israelense em Gaza. O brasileiro também condenou os esforços dos países do Ocidente em fornecer apoio político e militar à Ucrânia.
O mandatário brasileiro chegou a acusar americanos de incentivarem o conflito. "É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz, para a gente convencer o Putin e o Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando, por enquanto, aos dois", disse Lula no ano passado durante uma coletiva que deu em Pequim.
As afirmações renderam críticas da Ucrânia, da União Europeia e dos Estados Unidos ao petista. Para Ortega, contudo, não são opiniões diferentes que vão estragar a sólida relação bilateral entre os dois países, que completou 200 anos neste ano. "A gente tem perspectivas bem diferentes sobre a situação no Oriente Médio, mas a gente sentou, compartilhou nossa posição, ouviu a posição do Brasil e vimos onde a gente podia seguir cooperando e as áreas em que a gente simplesmente não vai ter a mesma perspectiva e isso é natural para a gente", pontua Ortega ao relembrar o encontro que o secretário Anthony Blinken teve com Lula durante uma viagem que fez ao Brasil.
"Óbvio que a gente vai ter discordâncias, mas a gente acredita que isso é natural. Essa relação vai muito além de simplesmente quem senta no Planalto, quem senta no Itamaraty ou na Casa Branca, [Brasil e Estados Unidos] têm uma relação muito forte", avalia o porta-voz estadunidense. Apesar da avaliação de Luke Ortega, a percepção é de distanciamento entre Lula e Biden.
Biden deixa Lula esperando uma visita ao Brasil
Os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil dividem o alinhamento nas pautas ambientais, transição energética e até mesmo o sindicalismo em prol da classe trabalhadora. Depois que voltou ao Palácio do Planalto para seu terceiro mandato, a expectativa de analistas era de que a relação entre os dois fosse de proximidade. Em busca de selar a similaridade entre os dois, os Estados Unidos foi um dos primeiros destinos internacionais de Lula no ano passado. A visita, contudo, não foi retribuída, apesar dos reiterados convites.
A expectativa do Planalto era de que Biden viesse ao Brasil ainda no primeiro semestre deste ano, mas a viagem não aconteceu. Lula também convidou o presidente norte-americano para participar das celebrações do bicentenário das relações entre Brasil e Estados Unidos, mas o convite também não foi atendido.
De acordo com Ortega, o foco nas eleições presidências deste ano tem ocupado a agenda de Joe Biden. O republicano tenta a reeleição contra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. "Viagens presidenciais, independentemente de quem for o presidente, são um pouco complicadas em período eleitoral nos EUA. Mas ainda esperamos receber o presente de Biden aqui no Brasil, no final do ano, para a Cúpula do G20", conta.
Desde que retornou ao Planalto, Lula e Biden tiveram duas agendas bilaterais. A primeira aconteceu quando o brasileiro fez uma visita aos Estados Unidos, em fevereiro, e a segunda foi à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, em setembro. Em ambos os encontros, os presidentes evitaram aprofundar as discussões sobre as guerras em curso no mundo.
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