Entre as diversas crises e fontes de controvérsias que têm marcado a relação entre o governo de Jair Bolsonaro e o Congresso Nacional, uma ainda não se solucionou: a atuação do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O parlamentar recebe críticas constantes – reservadas e públicas – de opositores e aliados do governo, e os problemas no seu desempenho podem se tornar ainda mais significativos à medida que a reforma da Previdência avança na Câmara dos Deputados.
Vitor Hugo é contestado praticamente desde sua nomeação para a liderança. O fato de ser um parlamentar de primeiro mandato é um dos elementos mais apontados pelos críticos. Como as reformas econômicas, de difícil aprovação, são a principal pauta do governo, o entendimento de muitos aliados é o de que seria necessário um nome mais "rodado" para a função.
A dura sabatina do ministro Paulo Guedes (Economia) na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, interrompida após Guedes ter sido chamado de "tchutchuca" pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR), foi mencionada como um exemplo da incapacidade de Vitor Hugo. Ele, na opinião dos críticos, não teria conseguido barrar o protagonismo que a oposição teve naquele dia.
Mesmo os defensores do trabalho de Vitor Hugo endossam também os problemas derivados da inexperiência do parlamentar. Há um reconhecimento de que a situação já esteve pior, mas ainda assim permanece distante do necessário para uma negociação árdua como a da reforma da previdência.
Articulação melhorou, avaliam deputados
"Há, hoje, uma melhora substancial [nas articulações do governo com a Câmara para aprovação da reforma da previdência]", afirmou o deputado federal Marcel Von Hattem (Novo-RS). O parlamentar lidera uma bancada que, apesar de pequena, com apenas oito deputados, tem alcançado relativo protagonismo por conta de uma empenhada defesa da reforma da Previdência – mais incisiva do que a feita pelo próprio partido de Bolsonaro, o PSL.
Hattem acrescentou que vê menos possibilidade de que a reforma seja "desidratada" na Câmara, um temor constante de defensores da alteração. Segundo o deputado, a participação efetiva nas articulações do secretário especial da Previdência Social, Rogério Marinho, também contribuiu para uma evolução: "Marinho é um craque no diálogo", disse. O secretário da Previdência foi deputado federal por dois mandatos, e em 2018 não conseguiu a reeleição.
O deputado declarou ainda que, na sua opinião, os problemas que o governo tem encontrado na articulação da reforma da Previdência não são tão expressivos quanto possa parecer. "Para quem não quer a reforma, é interessante espalhar que o governo vive uma crise, que a Câmara está contrária à ideia. Acho que a dificuldade é menor do que se tem colocado", disse Van Hattem.
Também defensor da reforma, o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) minimizou a suposta ineficiência de Vitor Hugo. Para ele, as falhas na articulação derivam do próprio governo federal. "Não é ele [Vitor Hugo] o problema. Ele tem feito o papel dele. Foi escolhido como líder e está ainda no aprendizado da liturgia política, mas é preparado para a função. O problema é do próprio governo. Se ele [governo] estiver realmente empenhado, a coisa flui", apontou.
Pedro Paulo cobrou ainda que o presidente Bolsonaro atue mais na gestão do caso: "Se o Bolsonaro dedicasse à reforma o mesmo empenho que coloca em questões como o Escola Sem Partido e a Venezuela, a reforma seria aprovada".
Os líderes informais do governo na Câmara
Apesar dos elogios dos parlamentares, a dúvida sobre Vitor Hugo persiste e abre caminho para que outros nomes despontem como líderes informais do governo dentro da Câmara dos Deputados.
O próprio Van Hattem é frequentemente mencionado como um desses líderes alternativos. Reportagem publicada recentemente mostrou como o deputado do Novo – que é também estreante em Brasília – tem conseguido influenciar representantes de diferentes partidos. A condição chegou a despertar questionamentos dentro do PSL, incomodado com o protagonismo do deputado gaúcho. Apesar do prestígio, Van Hattem nega interesse em formalizar sua adesão ao governo: "Nós, do Novo, temos uma postura independente em relação ao governo e continuaremos assim".
Outra figura que tem crescido em destaque é a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). A parlamentar, mais uma em primeiro mandato, é a líder do governo no Congresso. Embora o nome sugira mais relevância do que a liderança da Câmara, historicamente representa menos poder. Mas a parlamentar tem revertido o quadro. Na quinta-feira (2), anunciou a criação de um "gabinete de inteligência" em defesa da reforma da previdência. O espaço reunirá técnicos do Ministério da Economia que estarão à disposição de deputados federais e senadores para esclarecimentos acerca da proposta apresentada pelo governo federal.
“A gente vai produzir material de comunicação para eles [parlamentares] usarem em suas redes e para eles usarem nas suas bases, para que a gente possa fazer uma linguagem só. Essa batalha da Previdência, para quem está em cima do muro, a gente só vai vencer de fora para dentro. Então, a ideia é explicar para a população, engajar a população na reforma”, afirmou, na ocasião em que divulgou o lançamento do gabinete.
PSL se divide sobre o líder do governo
Algumas das críticas mais severas direcionadas ao Major Vitor Hugo vieram de deputados do mesmo partido que o seu. Alexandre Frota (PSL-SP) chamou Vitor Hugo de "faixa branca" e pediu, abertamente, sua saída da liderança. Já Delegado Waldir (PSL-GO), que é o líder da bancada, contestou publicamente o trabalho de Vitor Hugo em diversas ocasiões, o que motivou um bate-boca entre os parlamentares pelas redes sociais.
A Gazeta do Povo conversou com dois deputados do PSL, um militar e outro de formação civil, que falaram de maneira reservada ao jornal sobre a visão que a bancada tem sobre o trabalho de Vitor Hugo. Ambos elogiaram o caráter e a disposição do parlamentar, mas endossaram a análise de que ele não está plenamente apto a ser o líder do governo na Câmara.
"Ele é defendido por nós do PSL, mas entre os membros de outros partidos a insatisfação é geral. A opinião que mais ouvimos é a de que ele é incapaz de resolver os problemas que os deputados apresentam ao governo. Ele não consegue marcar, em um prazo rápido, audiências dos deputados com ministros, por exemplo. É uma situação que desgasta a liderança", declarou o deputado militar.
O civil, por sua vez, disse que existe uma divisão na legenda em relação a Vitor Hugo – os militares estariam em torno dele, enquanto os civis pensam que outro nome teria um desempenho melhor na função.
O deputado disse acreditar também que o discurso do "fim do toma-lá-dá-cá", apregoado pelo governo federal, é outro componente que dificulta o trabalho de Vitor Hugo. "Líderes de governos anteriores tinham em mãos planilhas com cargos que distribuíam para quem votasse com o governo. O Vitor Hugo não dispõe disso, o que é bom. Mas ele precisa encontrar outras ferramentas para atrair mais apoio", declarou.
Vitor Hugo tem apoio de cima
Se dentro da Câmara o trabalho do Major Vitor Hugo é contestado, fora dela o deputado conta com um suporte de peso: o do próprio presidente da República. Bolsonaro costuma fazer elogios públicos a Vitor Hugo e dar a ele posição de destaque em algumas ocasiões – como a participação em uma transmissão ao vivo via internet no último dia 11.
No ato de celebração dos 100 dias de governo, Bolsonaro chamou Vitor Hugo de "meu superior", em relação às patentes que ambos conseguiram no Exército – Bolsonaro chegou ao cargo de capitão, inferior ao de major. Também de origem militar, o ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) foi outro que fez elogios públicos ao líder do governo: "Juntos vamos transformar o Brasil, Vítor Hugo. Parabéns pelo trabalho realizado", escreveu na sexta-feira (3).
"A proximidade com Bolsonaro é sem dúvida um dos principais diferenciais do Vitor Hugo, e é algo a que ele tem se apegado bastante nos momentos de dificuldade", declarou o deputado civil do PSL.
Agenda de compromissos
Para tentar mostrar força e consolidar sua condição de líder de governo, Vitor Hugo tem cumprido uma extensa agenda de compromissos. Um dos encontros mais recentes foi com o deputado Marcelo Ramos (PR-AM), o presidente da comissão especial da Reforma da Previdência.
Em outra ocasião, na sexta-feira (3), Vitor Hugo foi um dos agraciados com a Ordem do Rio Branco, honraria concedida pelo Ministério das Relações Exteriores. A justificativa para a homenagem foi sua atuação em uma missão do Exército na Costa do Marfim em 2003. "Orgulho de ter ombreado com esses militares e de poder continuar servindo o país em outras arenas", escreveu o parlamentar, sobre a homenagem.
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